Ovar entrou, esta quarta-feira (18), em estado de calamidade devido à propagação da COVID-19. Ninguém sai e ninguém entra no município, os habitantes estão perante uma quarentena geográfica. O JPN falou com alguns ovarenses para perceber de que forma é que a medida vai afetar as suas vidas. Os habitantes locais não estavam a contar que Ovar fosse pioneiro na calamidade.

Pelo menos até 2 de abril, os habitantes de Ovar vão ter que permanecer nas habitações. As excepções só serão possíveis quando for extremamente necessário – por exemplo, para ir ao supermercado ou à farmácia. As indústrias e o comércio não essenciais fecharam. A medida foi tomada para evitar o alastramento do novo coronavírus, que segundo a intervenção durante a conferência de imprensa de terça-feira da ministra da Saúde, Marta Temido, já infetou 30 pessoas em Ovar.

António Pinho, 60 anos, é professor e permanece em casa, com a família, desde sexta-feira passada (13). O ovarense considera que o estado de calamidade é “um mal necessário”. António Pinho esperava que as medidas fossem aplicadas a nível nacional, antes de chegarem aos locais regionais. “Nunca pensei que fosse a nossa região, o nosso concelho, o pioneiro na calamidade. Mas, o facto é que agora têm aumentado os casos de infetados e daí ser necessário.”

O sábado passado (14) foi o último dia em que António Pinho passou no centro de Ovar. Nessa altura “ainda se via pessoas, algum movimento de carros. Mas, agora daquilo que vejo, pelas fotografias que vão tirando do centro e arredores, nota-se que há muito menos movimento de carros e de pessoas na via pública”, conta.

O ovarense considera-se sortudo por ser proprietário de um pinhal perto da sua habitação onde pode fazer caminhadas porque “não há mais ninguém à volta, só os eucaliptos e a vegetação toda”. Quando está em casa distrai-se com tarefas simples: arrumar, limpar, ver televisão, ir às redes sociais e até ouvir música. Apesar de reconhecer que os movimentos que pode ter são mais limitados do que o normal, António Pinho afirma que “para já ainda não chateia muito”.

Já para André Teles, de 24 anos, o novo impedimento acaba por ser uma vantagem. “Eu trabalho no Porto, e por um lado até me facilita porque tinha de apanhar vários transportes públicos e, portanto, perdia algum tempo. Mas, claro que ninguém quer ter essa vantagem por esta razão”, explica.

O jovem está em quarentena voluntária desde que chegou do trabalho quinta-feira à noite. Começou a trabalhar a partir de casa na passada sexta-feira (13) e as únicas grandes diferenças que sentiu foi ao ter de contactar, por videochamada, os colegas. André Teles é programador e reconhece que “onde eu trabalho, felizmente, acaba por não influenciar muito, tendo em conta que a minha profissão está muito ligada à tecnologia”.

Assim como António Pinho, André Teles também considera que o estado de calamidade é uma medida necessária. “Esta doença tem-se alastrado muito rapidamente, portanto tinha de ser feita alguma coisa para tentar impedir contágios. Provavelmente mais municípios vão ser alvo desta medida, infelizmente”, expressa.

Pelo contrário, António Carvalho, de 35 anos, defende que a medida tomada pelo governo não é justificável, por enquanto. O ovarense acredita que a interdição de entrar e sair de Ovar não é bem delimitada “toda a gente vê que se consegue por estradas secundárias ir para outros concelhos. Só estão a bloquear as autoestradas e a estrada nacional, agora tudo o resto, estradas secundárias, está tudo aberto”.

A medida começa logo por afetá-lo em termos profissionais, tendo em conta que o advogado não se consegue deslocar até ao escritório. De momento, vê-se obrigado a trabalhar a partir de casa. Por outro lado, “em termos pessoais não consigo ir visitar os meus pais. Como vivemos em concelhos diferentes, eu vivo em Ovar e eles vivem em Santa Maria da Feira, já não podem vir aqui ver a neta, por exemplo”, explica.

António Carvalho sai de casa esporadicamente, quando necessita de ir buscar algo essencial para o dia a dia, ou então para descontrair. “Tenho de ir ver o mar, dar uma corrida ou qualquer coisa”, acrescenta. Mas, nem tudo é mau: “em termos positivos, posso estar mais tempo com a minha filhota, que tem cinco meses, e com a minha mulher”, admite António.

Para além de Ovar, o município de Espinho acionou também o plano municipal de emergência, na passada terça-feira (17), incluindo medidas de contenção. O município regista neste momento pelo menos 5 casos confirmados de COVID-19.

Artigo editado por Filipa Silva.