Esta sexta-feira celebra-se o Dia Internacional da Felicidade e o JPN foi descobrir como a felicidade muda com o passar do tempo, de geração para geração. Foram ouvidos testemunhos de pessoas nas várias fases da vida sobre o que os deixa felizes e de que cor pintam a sua felicidade. Para alguns dos entrevistados a felicidade pode basear-se em brincar, estar em contacto com a natureza ou pode até mesmo ser o simples facto de acordar.

Felicidade de palmo e meio

Matilde Gomes tem 6 anos e assume-se, assertivamente, uma criança feliz. Por entre risadas de timidez lá revela, com certeza, que estar com a família é o que a faz feliz. Para Matilde a felicidade é cor-de-laranja, e quando se sente triste são piadas que a animam. Diz que não pode ser mais feliz no futuro do que é agora.

Animado, o primo Martim Gonçalves, de 8 anos, junta-se à conversa. Mostra-se logo alegre e diz que para ele a felicidade é o amor da família e que são as brincadeiras com a prima que o deixam contente. Não hesita em expressar que a felicidade tem todas as cores do arco-íris e que quando está em baixo é a brincar que se alegra. Martim acredita que não foi mais feliz do que é agora, e que ainda pode vir a ser mais.

A satisfação com o que se tem no presente

Falta um mês para Rodrigo Condeça fazer 12 anos – está à porta de uma fase de adolescência que promete trazer alegrias. “Então, a felicidade é quando as pessoas se sentem felizes“, explica, como se de uma condição simples se tratasse. Rodrigo acrescenta que “tem a ver com alguma coisa na vida correr bem” ou que acontece, apenas, “porque sim, porque [a pessoa] gosta de se sentir feliz”.

Para o adolescente este sentimento traduz-se na vida e na família e compara a sensação com a da ansiedade, que diz saber bem. “Estar aqui no mundo faz-me feliz, tudo o que tenho e que me dão faz-me feliz e sou agradecido por isso”, afirma. De todo o espectro cromático associa mais o vermelho à felicidade – “é a cor do coração“, justifica. Rodrigo garante que é sempre feliz, independentemente da situação. “A felicidade é sempre a mesma mas eu tento sempre ir mais alto”, explica. Nos momentos tristes exterioriza tudo o que tem para dizer e começa a sentir-se melhor.

Ângela Vaz tem 32 anos – é a mãe de Matilde Gomes – e define a felicidade como estar no meio a que pertence: no seu mundo, junto da sua família e de crianças. Partilha a opinião de Martim – “a felicidade pode ser amarela, pode ser laranja, pode ser vermelha… para mim tem várias cores“, reflete. Sente-se feliz e realizada nesta etapa da vida e não vê maior felicidade no passado. Aponta serem poucas as coisas que a deixam triste, mas quando esses dias batem à porta Ângela recorre à família. “Mais felizes podemos ser, agora, se é possível ser mais do que eu me sinto neste momento não sei se será”, conclui.

A felicidade altruísta, o bem-estar dos outros é o nosso

Já Laura Ramos, de 48 anos, encara a felicidade como estar bem consigo própria e os que lhe são próximos estarem bem e realizados. “Nós nunca conseguiremos ser felizes só nós, a felicidade passa por termos felizes todos aqueles que nos pertencem. Para mim é sentir que aqueles que me rodeiam estão bem”, confessa. Não vê a felicidade como um destino utópico, mas encontra-o, sim, nas banalidades: “nós adaptamo-nos ao nosso dia-a-dia e conseguimos, dentro daquilo que nós temos, ser felizes com isso”. Diz não ser possível quantificar este sentimento – “eu sou feliz à minha maneira, com o meu pouco ou com o meu muito. Já tive mais, já tive menos, já fui feliz quando tive mais e feliz quando tive menos”, prossegue.

Laura não acredita no “ser muito feliz ou ser pouco feliz”, e conclui que “ou se é feliz ou não se é“. Como tal, garante que tem sido feliz e que o vai continuar a ser. Para contrariar as sensações menos boas diz que o remédio é agarrar-se ao lhe que faz bem. Assim, procura quem lhe quer bem e vai aos sítios que a deixam feliz, ao ar livre e junto da natureza, para fugir do pensamento. Incerta, escolhe a cor azul para representar a felicidade – “é céu, é mar… é o infinito“, afirma mais confiante.

Algo tão simples como acordar

Joaquim Loureiro tem 79 anos e julga ser feliz. Revela que ter saúde e algum dinheiro, assim como entender-se bem com a família, amigos e vizinhos “é tudo felicidade”. O que deixa Joaquim Loureiro mais feliz no seu dia-a-dia é tão simples como acordar – “se a gente tiver acordado vivo já é uma felicidade“, brinca. Com o peso da idade, olha para trás e vê grandes momentos de felicidade – “quando era novo [era mais feliz], agora já sou velhote [risos]”. Contudo, não descarta a possibilidade de um futuro mais feliz, “vendo os netos crescer e serem felizes também, e os vizinhos, e os amigos…”.

Joaquim reflete, então, sobre uma felicidade em segunda mão. “Ao vê-los felizes nós também estamos, não é?“. Para se animar vai dar uma volta, às vezes até ao café, lê o jornal e procura boa companhia. Vê a felicidade em tons de azul, não só porque gosta, mas porque é a cor do seu clube.

O dicionário Priberam define o substantivo feminino felicidade como um “concurso de circunstâncias que causam ventura” ou como a “tendência para acontecimentos positivos ou favoráveis“. Mas a Psicologia contempla este conceito abstrato como algo complexo e mutável no ser humano, que é, ainda, quimicamente explicável por altos níveis do neurotransmissor serotonina.

Cinco fases distintas

A psicóloga social Jennifer Aaker conduziu um estudo sobre como o conceito de felicidade evolui durante a vida, para desmistificar o que realmente deixa as pessoas felizes. Assim, define cinco estágios sistemáticos na vida em que a percepção da felicidade varia.

O primeiro é a “descoberta” que ocorre durante a infância e a adolescência; segue-se a “procura“, a meio da casa dos 20 anos; o “equilíbrio” no final dos 20 e início dos 30; o “significado” no fim dos 30 e nos 40; e por último, o “desfruto” a partir dos 50 anos. No entanto, Jennifer Aaker observa que estas fases não são lineares ou sequenciaisexperiências de vida diferentes podem levar a pessoa a reordenar ou editá-las.

Quando encarregues de decifrar a felicidade, os entrevistados do JPN, apesar das diferenças etárias, mostraram algumas semelhanças. Todos se consideram felizes, todos relacionam o conceito com o amor ou a família, e todos tiveram dificuldade em desconstruir algo abstrato. No final, cada um traçou, à cor da sua felicidade, a percepção do que é ser feliz e de como isso evolui, ou não, com a idade.

Artigo editado por Filipa Silva.