Em apenas dois dias foram recebidos cerca de 580 pedidos de ajuda”, conta Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome e da ENTRAJUDA, em declarações ao JPN. A criação da Rede de Emergência Alimentar, anunciada na última sexta-feira, dia 20, pretende responder a estes e outros pedidos de pessoas que ficaram privadas dos alimentos e refeições que recebiam habitualmente.

Esta foi uma das consequências do encerramento das instituições particulares de solidariedade social (IPSS) – uma das medidas implementadas pelo Governo para conter a propagação do novo coronavírus. No entanto, estas medidas estão a criar situações difíceis junto das populações mais desfavorecidas. “Há muita gente a precisar [de assistência alimentar], por isso é que tivemos de criar esta rede. Não pode ser só o que era antes”, garante Isabel Jonet.

A Rede de Emergência Alimentar integra quase todos os Bancos Alimentares Contra a Fome do país, que são no total 21, espalhados pelo continente e ilhas. “A maior parte aderiu, estamos à espera do Porto, que foi o único que ainda não deu resposta”, revela.

Ao JPN, António Cândido Silva, presidente do Banco Alimentar (BA) do Porto, afirma que se “está a trabalhar normalmente”, isto é, continua a ser dado o mesmo apoio às quase 300 instituições com as quais o BA lida. Como explica, “todas as pessoas do distrito do Porto que têm carências alimentares são assistidas por instituições e essas instituições vêm ao Banco Alimentar buscar os alimentos”.

Em média, o BA do Porto ajuda cerca de 60 mil pessoas por mês. Desde que o isolamento social aumentou que a procura por assistência alimentar tem sido maior. “Temos recebido telefonicamente muitos mais pedidos de ajuda, que têm sido encaminhados para as instituições que são próximas da sua residência”, explica o presidente do BA do Porto.

Isabel Jonet informa que a decisão de participar ou não na nova Rede de Emergência Alimentar cabe a cada Banco local. Apesar de ainda não fazer parte, a presidente acredita que o BA do Porto acabará por se juntar ao projeto.

Banco Alimentar do Porto “está a fazer uma coisa diferente”

Atualmente, o Banco Alimentar do Porto continua a fazer o trabalho habitual: está “a fornecer diariamente todas as instituições do distrito do Porto”, diz António Cândido Silva. A diferença é que agora as instituições que vão lá buscar os cabazes estão a ser recebidas uma de cada vez, ao passo que antes eram “três ou quatro” em simultâneo, como conta o presidente.

Graças à pandemia da COVID-19, no BA do Porto foi aplicado um plano de contingência “já há mais de 10 dias”, garante António Cândido da Silva. Como consequência, todos os voluntários foram dispensados, para evitar o risco de contágio. A precaução também está a ser levada a cabo nas instituições: “tem-se pedido, da mesma maneira, para evitar o mais possível o número de pessoas em contacto umas com as outras”.

Apesar de tudo estar a funcionar bem, como assegura, o presidente do BA do Porto aponta um problema: “em cerca de 300 instituições, não chega a 30 as que não foram levantar o cabaz ao BA. As Câmaras Municipais ou as Juntas de Freguesia que lhes disponibilizavam carrinhas para irem lá buscar os bens alimentares, deixaram de ir”, justifica. Nestes casos, é o BA que está a ir entregar, excecionalmente, o cabaz às instituições para que continuem a receber diariamente os bens que necessitam.

A propósito da concentração de esforços no BA do Porto, António Cândido Silva ressalva que “se não for o primeiro, é o segundo maior banco em número de instituições e de pessoas apoiadas.” “Portanto, nós temos sempre uma carência tremenda de produtos alimentares.”

O BA do Porto “está a fazer uma coisa diferente da Rede de Emergência Alimentar”: continua a dar o apoio e a assistência alimentar que as pessoas necessitam e que deixaram de ter pelo facto das IPSS estarem fechadas. Segundo o presidente, este apoio é assegurado “dentro das capacidades e dentro das possibilidades” do próprio BA.

Além disso, estão a ser desenvolvidos dois planos paralelamente: a entrega de alimentos e refeições a pessoas em situação de sem-abrigo e aos hospitais. Em ambos os casos, o fornecimento é feito “através de uma empresa de bens alimentares”, conta António Cândido Silva.

Como funciona a Rede de Emergência Alimentar?

Para usufruir do apoio, qualquer pessoa com carências alimentares pode fazer o pedido de ajuda através de um formulário online, disponibilizado no site do Banco Alimentar, onde deve ser indicada a freguesia e o concelho de residência. O pedido é depois avaliado pelas instituições, “porque elas é que conhecem melhor as pessoas”, como explica Isabel Jonet.

Não existe uma estimativa concreta de quanto tempo é que os pedidos vão demorar a ser atendidos, no entanto, a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome espera que “demorem tão pouco quanto possível”.

O apoio é mais direcionado para pessoas que dependiam de IPSS como creches, infantários, ATL e centros de dia. Com o encerramento das respostas sociais de apoio e com a redução do número de técnicos e auxiliares que colaboravam nestas instituições, torna-se urgente estruturar uma rede de distribuição alimentar.

Se o pedido de ajuda for aceite, segue-se o encaminhamento para um ponto de entrega de alimentos perto da zona de residência da pessoa. Existe ainda um grupo de voluntários, “devidamente protegidos”, que vão realizar o transporte das refeições e dos produtos para os tais pontos de entrega, que podem ser IPSS, juntas de freguesia ou outros “grupos informais” com as devidas condições sanitárias.

Os voluntários podem também levar os alimentos diretamente para as residências das pessoas carenciadas que não tenham possibilidade de se deslocar até aos pontos de entrega por estarem mais fragilizadas.

Face às circunstâncias atuais incertas, criadas pela COVID-19, a Rede de Emergência Alimentar vai atuar “por tempo indeterminado”, garante Isabel Jonet. “Enquanto as instituições não retomarem o seu funcionamento normal, isto vai-se manter”, acrescenta.

Artigo editado por Filipa Silva.