Triplicar o número de testes nos próximos dez dias, pode evitar 900 internamentos e uma poupança de mais de 4 milhões de euros. São as principais conclusões de um estudo da Faculdade de Medicina do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, revelado terça-feira (24).

O aumento do número de testes de forma exponencial pode prevenir novos casos de infeção, evitar mais hospitalizações, e melhorar a gestão de recursos, poupando milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde. São as conclusões de investigadores portugueses divulgadas esta terça-feira.

O estudo, desenvolvido por Investigadores da Faculdade de Medicina do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, conclui que é “urgente” triplicar o número de testes realizados como medida no combate à infeção pelo novo coronavírus em Portugal.

“Elevar a atual taxa de mil testes para uma taxa de 3 mil testes por milhão de habitantes permitirá poupar mais de quatro milhões de euros, só em hospitalizações evitáveis (correspondendo a mais de 900 hospitalizações nos próximos 10 dias), o que se traduzirá em menor pressão para o SNS, mais vidas salvas e menos oportunidades de contágio”, esclarece o estudo divulgado esta terça-feira.

Estas conclusões, chegam no dia em que um conjunto de 37 voluntários do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, liderados pela investigadora Vanessa Zuzarte Luís, concluíram o desenvolvimento de um teste de diagnóstico para o novo coronavírus.

O jornal “Público” revela que os diagnósticos realizados com este Kit podem iniciar daqui a três dias. Maria Mota, diretora executiva do IMM, antevê realizar inicialmente “300 por dia, depois 500 e esperamos chegar aos mil. Os resultados dos testes demoram cerca de duas a três horas”, confirma.

Maria Mota divulga que vão ser efetuados testes reais a dez amostras para comparar com os resultados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. “Vão usar-se as mesmas amostras, que serão processadas ao mesmo tempo, para verificar se o kit de diagnóstico português chega aos mesmos resultados do que o INSA”, diz a investigadora do IMM na área da biologia e fisiologia da malária.

De acordo com o “Público”, Inês Domingues, diretora do gabinete de comunicação do IMM, assegura que o objetivo passa agora por “contribuir com mais testes” e não por saber se alguém vai pagar pelos mesmos. “Cada teste custa, em termos de reagentes e outro material, à volta de 30 euros, sem contar com os recursos humanos, que são totalmente voluntários”, indica a Inês Domingues.

A tecnologia usada pelo IMM na investigação do parasita da malária (que tem sido associada a tratamento eficazes a alguns doentes com a SARS-Cov-2) foi também aplicada na criação do Kit, assim como, os reagentes que já são produzidos em Portugal. O kit para a realização dos testes de diagnóstico, já foi acreditado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), o laboratório de referência em Portugal.

A importância dos testes

Ouvida também pelo “Público”, Raquel Guiomar esclarece que, por agora, os testes rápidos disponíveis no mercado são sobretudo para deteção de anticorpos, ao contrário dos testes PCR que estão a ser desenvolvidos em Portugal e outros países.

A responsável pelo Laboratório Nacional de Referência para o Vírus da Gripe e Outros Vírus Respiratórios do Insa indica que para detetar o vírus, “tem-se usado a técnica reação em cadeia da polimerase (PCR) de zonas específicas do ADN”, testes que seguem as diretrizes da DGS e que depois são aprovados pelo Insituto Dr. Ricardo Jorge.

Para a investigadora, a utilização dos testes numa “fase inicial da infeção tem pouco valor, o seu uso deverá ser em complementaridade aos testes de PCR. O seu desempenho e utilização [dos testes para deteção de anticorpos] está ainda em avaliação pelas entidades internacionais que coordenam a vigilância das doenças infeciosas”, conclui.

Quem tem prioridade nos testes?

A Direção-Geral da Saúde (DGS) estabeleceu esta segunda-feira uma cadeia de prioridades para um cenário em que “não seja possível testar todos” os suspeitos de estarem infetados.

A Norma 004/2020 da DGS, que entra em vigor na meia-noite de 26 de março, indica que doentes para internar, recém-nascidos, grávidas e profissionais de saúde sintomáticos são as prioridades para a realização de testes ao novo coronavírus, no caso de não ser possível avaliar todos, indica a Direção-Geral da Saúde (DGS). Seguem-se na cadeia de prioridades, os doentes com morbilidades (como asma, insuficiência cardíaca ou diabetes), doentes em situações de maior vulnerabilidade.

A DGS emitiu ainda uma orientação dirigida aos profissionais de saúde, na qual destaca que “todos os casos suspeitos de infeção (…) devem ser submetidos a diagnóstico laboratorial”, com os testes a serem realizados, “preferencialmente, em laboratório hospitalar da Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico do SARS-CoV-2, na rede complementar de laboratórios privados ou no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge”, refere o documento da Direção Geral de Saúde.

Quem os desenvolve?

No Brasil, investigadores da Coppe e do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) exploram alternativas ao teste PCR. Esta segunda-fera, anunciaram que estão a desenvolver “um novo teste capaz de detetar anticorpos em pessoas com suspeita de covid-19, de forma mais simples, rápida e barata do que o teste de PCR”, e que tem sido o mais utilizado até ao momento.

Para Leda Castilho, investigadora da Coppe/UFRJ, o teste tem como objetivo “detetar os anticorpos no sangue do indivíduo”. “Quando a pessoa é infetada pelo vírus, o sistema imunológico produz anticorpos contra ele, na tentativa de neutralizá-lo. Alguns tipos de anticorpos são detetáveis já uma semana após o contágio, enquanto que outros levam quase duas semanas a serem produzidos e permanecem por muito tempo”, explicou.

O objetivo da investigação passa por “detetar os dois tipos de anticorpos, determinando se uma pessoa com sintomas respiratórios é positivo para a covid-19, como também, mapear pessoas que já tenham sido infetadas anteriormente, mesmo que não tenham tido sintomas”, explica a investigadora.

Outras investigações estão a decorrer no que respeita também aos testes rápidos para a Covid-19. A norte-americana Cepheid anunciou que a FDA (a agência norte-americana para a saúde e alimentação) aprovou um teste rápido que terá resultados em 45 minutos, que funcionará de forma semelhante aos testes de PCR, segundo a empresa.

Cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, revelaram que desenvolveram testes rápidos com resultados em cerca de meia hora. A equipa liderada pelo professor Wei Huang diz que a “beleza deste novo teste está no método de deteção viral que pode reconhecer especificamente RNA e fragmentos de RNA do SARS-CoV-2 (COVID-19). O teste possui verificações internas para evitar falsos positivos ou negativos e os resultados foram altamente precisos”, assegurou o investigador da Universidade de Oxford.

A fase de mitigação da doença provocada pelo novo coronavírus, na qual Portugal está agora a entrar, tem como objetivo limitar o contágio, diminuindo por consequência a taxa de mortalidade. Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar que estamos perante uma pandemia.

O vírus SARS-COV-2 já infetou, até esta quarta-feira, mais de 438 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 111 mil pessoas recuperam e já quase 20 mil pessoas morreram.

Em Portugal, o mais recente relatório da DGS, contabiliza 43 mortes e 2.995 infeções confirmadas.

Artigo editado por Filipa Silva