A Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou, na terça-feira, um manual de orientações na área alimentar para as pessoas que estão em isolamento social.

Com o intuito de promover uma boa saúde nutricional, além de equilíbrio mental e físico, o documento dá uma série de dicas e respostas às perguntas mais frequentes dos diferentes grupos de pessoas. O projeto é uma colaboração da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP) e do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS).

As orientações vão de quantidades e tipos de alimentos a ingerir até orientações para mulheres com filhos recém-nascidos e em período de amamentação. O manual quer responder também a perguntas frequentes como quais são as quantidades necessárias para um isolamento de 14 dias e o que comprar para durar este tempo.

Em declarações à TSF, Pedro Graça, diretor da FCNAUP e um dos envolvidos no projeto, diz que é importante “criar o hábito de preparar a lista de compras, de forma a promover as compras responsáveis.”

Com estas e outras recomendações o documento espera ajudar as pessoas na escolha dos alimentos e reduzir o açambarcamento de produtos alimentares que pode “ser um estímulo ao consumo alimentar excessivo e de má qualidade nutricional”. Além disso, as recomendações pretendem desafogar a procura nos supermercados, ao ajudar no controlo se stocks, e evitar aglomerações de pessoas e saídas constantes de casa.

O relatório inicia com uma explicação sobre o vírus e como ainda “existe pouca evidência científica sobre a relação entre a doença por SARS-CoV-2 (COVID-19) e a alimentação”. Ao JPN, o professor da FCNAUP, Nuno Borges, sublinha que não há alimentos que melhorem o sistema imunitário e que as pessoas que propagam estas informações estão a prejudicar os outros.

O objetivo do manual não é somente manter as pessoas a salvo do vírus, mas mantê-las saudáveis durante o período de isolamento. “Sabemos que um estado nutricional e de hidratação adequados contribuem para um sistema imunitário otimizado e para uma melhor recuperação dos indivíduos em situação de doença”, explicita o manual.

As dicas são voltadas também para um controle da alimentação diária, uma vez que estudos psicológicos mostram que há um aumento ou diminuição no consumo durante o isolamento. E, uma vez com desequilíbrio nutricional, há um maior risco de complicações em caso de doença aguda, como é explicado no documento. Nuno Borges confirma a ideia dizendo que a “comida muitas vezes funciona como uma muleta psicológica” para certas preocupações, mas que ainda não houve tempo suficiente para determinar todos os efeitos.

Na primeira parte, o manual aborda a questão do quanto comprar e o que comprar. Começa por explicar que as pessoas devem optar por alimentos de maior durabilidade, com prazos de validade longos. No entanto, diz também que produtos horticulas e frutas devem ser consumidos, porém com maior velocidade. Numa abordagem prática, o manual compreende um kit alimentar de 14 dias, orientado em grande parte para “profissionais de saúde e outros profissionais que prestam apoio na área alimentar”. Os cálculos das quantidades foram realizados com base nas necessidades nutricionais médias diárias estimadas para a população portuguesa.

O relatório também contém seis passos apontados como essenciais para uma alimentação saudável em tempos de COVID-19.

  • Comer mais fruta e hortículas;
  • Beber água ao longo do dia e sem açúcar;
  • Aproveitar para recuperar a presença do feijão, do grão e das ervilhas à mesa;
  • Manter uma rotina de refeições diárias, evitando snacks com excesso; de açúcar e sal ao longo do dia;
  • Aproveitar a oportunidade e cozinhar comida saudável com os filhos;
  • Fazer uma alimentação completa, variada e equilibrada, seguindo os princípios da Roda dos Alimentos;

O relatório também tenta acalmar a população ao deixar claro que não há provas de que certas atividades disseminem o vírus. De acordo com o texto e com a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) “não existe qualquer evidência de qualquer tipo de contaminação através do consumo de alimentos cozinhados ou crus”.

A UNICEF, o Centro de Controlo e Prevenção da Doença (CDC) dos Estados Unidos e o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) do Reino Unido, também tentam tranquilizar a população, ao dizerem, por exemplo, que não há risco comprovado de contaminação do bebé pela mãe durante a amamentação, e que tal processo é essencial para o crescimento da criança antes dos seis meses de idade.

Aos idosos, o manual dedica-lhes um capítulo no qual explica que a falta de uma alimentação saudável pode ser um fator de risco para o agravamento so estado nutricional individual. A necessidade de um controle maior do que é comprado e como é consumido ao longo do período de isolamento é essencial para que problemas físicos não apareçam pela má alimentação. É importante também, como explica o documento, que principalmente os idosos passem 20 minutos diários ao sol, entre as 12h00 e as 16h00. A suplementação de vitamida D também é recomendada.

O relatório também sugere que sejam seguidas outras recomendações presentes no manual do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde: “proposta de ferramenta de avaliação qualitativa de ementas destinadas a idosos”.

Apesar de especificar diversos detalhes nutricionais, o relatório define que o hábito de “manutenção e reforço das boas práticas de higiene e segurança alimentar durante a manipulação, preparação e confeção dos alimentos” é um dos pontos essenciais para todos neste período de pandemia e isolamento.

Artigo editado por Filipa Silva