Desde que as aulas presenciais foram suspensas em Portugal, a 16 de março, que a maior parte dos inquilinos das residências universitárias as abandonaram para se juntarem às suas famílias, nas localidades de origem. Contudo, as residências da Universidade do Porto (UP) continuam a albergar estudantes, que por estes dias são na sua maioria estrangeiros, como garante ao JPN a responsável pelo Serviço de Alojamento. Já uma das estudantes residentes com quem o JPN esteve à conversa pede regras mais apertadas para quem entra e sai.

Nenhuma das nove residências dos Serviços de Ação Social da UP (SASUP) fechou portas, todas continuam a funcionar. Durante o ano, são aproximadamente 980 pessoas a habitar os alojamentos da UP, mas, neste momento, reduzem-se a cerca de 230 pessoas. Segundo a diretora do Serviço de Alojamento dos SASUP, Isabel Basto, a maioria são estudantes internacionais.

Apesar de continuarem a alojar estudantes, docentes e investigadores, as residências sofreram alterações no funcionamento. Com o objetivo de não obrigar a equipa de limpeza a estar num espaço reduzido, as limpezas aos quartos individuais, que nem sempre se aplicavam, deixaram de ser feitas, explica Isabel Basto.

“Continuamos a assegurar a limpeza das áreas comuns, estando o enfoque na desinfeção tantas vezes quanto possível nos equipamentos, nas zonas do edifício que sejam mais críticas: as maçanetas das portas, os botões do elevador, corrimãos, utilização dos interrutores. Àquelas zonas que são mais de passagem obrigatória implementamos uma desinfeção pelo menos três vezes ao dia” elucida a diretora do Serviço de Alojamento dos SASUP.

Além disso, Isabel Basto constata também uma redução do staff que está ao serviço. “Estamos a trabalhar com um terço das pessoas em relação àquilo que é habitual. Também temos trabalhadores em casa por ou terem o sistema imunitário comprometido, ou serem progenitores de crianças com idade inferior a 12 anos”, justifica.

Foi adquirido gel desinfetante, embora não na quantidade que nós gostaríamos porque, como sabemos, há muita dificuldade em obter este tipo de produtos. Mas, pelo menos para aquelas zonas críticas, para o isolamento, ou para algum estudante com suspeitas que peça, temos máscaras cirúrgicas, luvas e gel desinfetante”, explica Isabel Basto.

“Continuo a ver muitos residentes a saírem mais do que uma vez por dia “

Na Residência Alberto Amaral, as medidas de prevenção e contenção ao novo coronavírus não estão a ser totalmente sentidas por Maria Inês Ribeiro. A jovem, de 24 anos, acredita que as regras deviam ser mais apertadas. “Recentemente recebemos um comunicado que alerta para o facto de não podermos trazer visitas. Há uns dias, recebemos mais um comunicado que diz que os estudantes que estejam fora do alojamento universitário por mais de 24 horas não podem voltar a entrar. As medidas, teoricamente, são as corretas. Mas a verdade é que continuo a ver muitos residentes a saírem mais do que uma vez por dia”, justifica.

Como os turnos de segurança são de uma pessoa por turno, que muitas das vezes está a fazer rondas e subsequentemente a portaria fica vazia, o espaço de manobra para os residentes não cumprirem as regras alarga-se, explica a jovem que está a completar o mestrado em História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).

Em contrapartida, Ronaldo Mendes, 21 anos, que também está alojado na Alberto Amaral, acredita que as medidas impostas pelos SASUP estão a ser eficazes, pelo menos no seu bloco, ressalva. “Éramos 11 pessoas, mas agora só vejo quatro e todos nós só saímos para fazer compras, de vez em quando, a menos de um quilómetro”, justifica.

Já Maria Inês Ribeiro reforça que os habitantes da residência têm recebido alguns emails que explicam os passos a seguir caso se deparem com possíveis sintomas da COVID-19. Contudo, na residência “não ofereceram gel desinfetante, máscaras ou luvas, só aos residentes que têm a limpeza de quarto incluída”, afirma. Foi disponibilizada apenas uma garrafa de lixívia, explica.

Neste momento, não há nenhum caso confirmado do novo coronavírus em algum dos habitantes alojados das residências da Universidade do Porto. Caso os estudantes fiquem doentes, além de contactarem a linha SNS24, devem também alertar um dos membros dos SASUP, mesmo que já tenham ido embora das residências. 

Quartos para isolamento

Segundo Isabel Basto, como medida de prevenção da contaminação da COVID-19, seis das nove residências da UP disponibilizaram quartos para um possível isolamento de algum estudante, caso este sentisse sintomas e partilhasse quarto com outra pessoa. Os maiores alojamentos, como a Residência Alberto Amaral, Campo Alegre I, Jayme Rios de Sousa e Novais Barbosa, disponibilizaram dois quartos para esse efeito. Enquanto que a Residência Aníbal Cunha e a da Bandeirinha providenciaram um quarto.

No caso da Residência de Paranhos, do Campo Alegre 2010 e do Polo III, não foi necessário chegar a essas precauções porque a maioria dos quartos são individuais e, nesse sentido, o próprio quarto do estudante pode servir como zona de isolamento, acrescenta.

Artigo editado por Filipa Silva.