Devido à pandemia da COVID-19 e consequente suspensão dos eventos desportivos, a imprensa especializada sentiu uma considerável quebra nas vendas – no jornal “O Jogo”, avança o diretor José Manuel Ribeiro ao JPN, deve situar-se “acima de 50%“. Além da falta de leitores e de anunciantes, os jornalistas de desporto precisam, também, de uma boa dose de criatividade para evitar que as edições se reduzam ainda mais. Os órgãos solicitam, por isso, apoio ao Governo.

José Manuel Ribeiro, diretor do jornal “O Jogo“, esteve à conversa com o JPN sobre o impacto da crise pandémica. Como principal efeito, aponta a redução no número de vendas em banca. “Há uma quebra acima dos 50% nas receitas e vendas em banca”, refere. Quem notou também essa baixa foi Ricardo Quaresma, chefe de redação do jornal “A Bola”, sem arriscar, para já, um número concreto.

Ao facto, não é alheio o grande tráfego de conteúdo noticioso generalista provocado pela COVID-19. “Quando há estes grandes acontecimentos no mundo – como incêndios ou terramotos -, normalmente o tráfego foge dos jornais desportivos para a imprensa generalista, que trata essas coisas com mais profundidade”, observa o diretor d'”O Jogo”.

Além disso, a imprensa desportiva queixa-se da falta de anunciantes publicitários. José Manuel Ribeiro explica que se “a atividade comercial reduz, logo, o interesse em anunciar também é menor”. Por isso, os jornais não conseguem tirar partido do pouco tráfego que vão tendo.

Manuel Queiroz, presidente da direção do Clube Nacional da Imprensa Desportiva (CNID), concorda, afirmando que a publicidade “secou”. “A economia fechada obriga a que as receitas de publicidade estejam praticamente secas em todos os órgãos de comunicação”, sustenta. 

Ademais, acredita que a diminuição das receitas deve-se ao facto dos cidadãos ficarem em casa e os postos de venda estarem fechados. “Basta olhar para o facto de haver muitos postos fechados para se perceber que tem de haver uma quebra nas vendas”, esclarece o jornalista.

Criatividade pode evitar o emagrecimento dos jornais

Ao JPN, os jornalistas desportivos explicaram como o surto resultou no emagrecimento dos jornais. “Nós fizemos uma redução assim que as modalidades foram suspensas. Reduzimos o jornal de 40 para 32 páginas durante a semana”, esclarece o chefe de redação d'”A Bola”.

Para o diretor d'”O Jogo”, a mudança não foi tão significativa, considerando que o jornal cortou apenas algumas páginas nas edições de fim de semana. Esta mudança aconteceu “porque deixou de haver competição” que era “o grosso do material que havia no fim de semana”, explica.

Porém, apesar da redução de oito páginas, o jornalista d'”A Bola” acredita que “as notícias acabam sempre por aparecer”, bastando, para isso, repensar a abordagem. Para ele, o período que o país enfrenta “obriga à criatividade, a procurar mais a história e a não se ficar pela notícia pura e dura”.

“Tivemos de virar a agulha para tratar o assunto do momento, que é a COVID-19”, refere Ricardo Quaresma. Deste modo, os jornalistas de desporto têm procurado histórias nos atletas, jogadores e treinadores, aproveitando a abertura dos clubes para disponibilizar informação sobre como estão a lidar com a crise.

As edições digitais são uma realidade já com alguns anos, mas a aposta no online teve mesmo de ser reforçada: “O que se tem assistido – tanto n’”A Bola” como noutros jornais – é um apostar em campanhas nesse sentido, de levar o jornal às pessoas em casa”, finaliza o jornalista.

Apesar dos eventos desportivos terem sido cancelados, para o presidente do CNID, continua a haver informação relevante para noticiar. Como exemplo, refere a discussão sobre o desfecho dos campeonatos e a situação financeira dos clubes, que pode prejudicar a manutenção dos plantéis. Informação internacional oriunda de “vários poderes desportivos, desde a UEFA, FIFA até às federações internacionais” é, também, notícia.

“A informação é, hoje, mais importante do que era antes da COVID-19”

Manuel Queiroz alerta: “espero que haja sensibilidade dos poderes públicos para ajudar a imprensa no geral”. Para tal, manifesta o seu apoio ao plano apresentado pela Plataforma de Média Privados. Dentro das várias medidas, destaca os apoios diretos à manutenção do emprego e dos recibos verdes, bem como a redução da Taxa Social Única (TSU) e o aval do Estado para créditos às empresas.

“Estou convencido de que vai haver essa preocupação por parte do Governo”, refere, mencionando, também, a importância de taxar empresas como a Google e o Facebook “como deve ser”.

Também dos representantes dos jornais “O Jogo” e “A Bola” se ouve um apelo ao apoio do governo. José Manuel Ribeiro frisa a necessidade de “um fundo dirigido à imprensa”.

Para Manuel Queiroz, “a informação é, hoje, mais importante do que era antes da COVID-19”, por isso, torna-se importante defender as necessidades da imprensa, no geral, e da imprensa desportiva, em particular.

Artigo editado por Filipa Silva