Ainda há a possibilidade de os alunos dos 11.º e 12.º anos voltarem a ter aulas presenciais, no corrente ano letivo. A data prevista para o regresso era a 04 de maio, para dar resposta ao calendário inicial de exames (de 15 de junho a 27 de julho). Contudo, o início das aulas, apenas para estes dois anos de escolaridade, está a ser estudado e o calendário de exames nacionais foi atrasado. A primeira fase de exames passou para o período de 06 a 23 de julho e a segunda fase de 01 a 07 de setembro, anunciou o primeiro-ministro, António Costa, na passada quinta-feira (09).

Em comunicado, o Conselho de Ministros reforça que apenas serão alvo de exame final as “disciplinas que elejam como provas de ingresso para efeitos de concurso nacional de acesso ao ensino superior”, sendo que, por isso, apenas o 11.º e o 12.º ano têm a possibilidade de retomar as aulas presenciais. A esses alunos, vão ser fornecidas, pelo Ministério da Educação, máscaras e luvas de uso obrigatório, anunciou também o primeiro-ministro, na mesma intervenção.

Os alunos dos dois anos finais do ensino secundário, vão ter também faltas justificadas, caso os encarregados de educação não permitam a ida à escola. Por outro lado, há um “plano B”, que passa pelo ensino e preparação para exame à distância se “a evolução da pandemia assim o exigir”, acrescenta o primeiro-ministro.

O Presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Marcos Alves Teixeira, considera a solução para a educação apresentada pelo Governo “equilibrada e sensata”, mas relembra que “nenhuma medida iria resgatar o cenário que vigorava antes da pandemia”. O importante é “ser garantido o mesmo grau de transparência que tem existido nos últimos anos e evitar ao máximo que haja injustiças entre estudantes de escolas diferentes”, diz ao JPN.

a presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Rita Saias, diz concordar com as medidas. Apesar disso, demonstra preocupações em dois níveis, tais como o “acesso desigual aos materiais de estudo e recursos necessários, consequência das desigualdades económicas e sociais” bem como “a necessidade primordial de garantir as condições de higiene e segurança necessárias para a retoma do ensino presencial para os alunos do secundário que realizam exames”, explica ao JPN.

Quanto à fórmula de acesso ao ensino superior – que relaciona a média dos três anos de ensino secundário com a nota do exame que serve como prova de ingresso ao curso – Marcos Teixeira acredita que “o modelo atual continua a ser altamente consensual”. “Parece-me que há margem para que lhe sejam feitas adaptações para esta situação excecional”, afirma ao JPN, acrescentando ainda que, “um novo modelo feito agora, em cima do joelho, não seria benéfico nem para agora nem para o futuro”.

Rita Saias partilha da mesma opinião, afirmando que “este não é o momento para se fazerem alterações estruturais, ainda que excecionais, ao modelo de acesso ao ensino superior”. Relembra, no entanto, que ” o fator “saúde” e a segurança das comunidades escolares se sobrepõem neste momento”. As medidas anunciadas pelo Governo não preveem uma mudança no modelo de acesso ao ensino superior, mas os exames terão que sofrer ajustes.

Apesar de já estarem elaboradas, as 22 provas que permitem ingressar no ensino superior vão sofrer alterações. O que vai mudar não são os conteúdos a ser testados, esses serão referentes à matéria do ano todo, mas sim a estrutura e a forma de resposta permitida. Em declarações ao jornal “Público”, o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) explicou que os exames vão ter “blocos de perguntas ou perguntas, com diferentes matérias a avaliar, para serem respondidas em alternativa”, ou seja, o aluno poderá escolher entre blocos de perguntas que tenham a mesma cotação.

Para Marcos Teixeira, presidente da FAP, no novo modelo de exames  “como nos outros, haverá sempre um nível mínimo de conhecimento exigido“. “O importante será assegurar que as notas atribuídas correspondem ao conhecimento atestado” e “assegurar que nesta situação excecional os estudantes podem transitar para o Ensino Superior e com qualidade”, sustenta.

Além disso, apesar de diferente, o ensino não parou, “continua a acontecer via online ou por outros meios, pelo que a preparação para os exames não deixa de estar a acontecer”, acrescenta a presidente da CNJ. Rita Saias considera que uma menor preparação dos alunos para os exames nacionais não está em causa.

O adiamento do calendário de exames vai, consequentemente, resultar no adiamento do calendário de acesso ao ensino superior em três semanas, segundo o comunicado a Direção-Geral de Ensino Superior (DGES). O presidente da FAP diz não ter recebido informações sobre um possível adiamento do início do ano letivo nas universidades e institutos, não excluindo a hipótese. “Não me espantaria um adiamento do próximo ano letivo. Recordo que não assim há tantos anos as aulas começavam mais tarde do que começam agora”, reflete.

Para os atuais estudantes universitários pouco muda. Rita Saias alerta para a necessidade de “ponderar medidas que permitam que os atuais e os futuros estudantes universitários, assim como as instituições de ensino, se munam de ferramentas novas e que os métodos sejam readaptados, repensados e que com esta pandemia coloquemos em questão como poderemos agir num futuro próximo”.

“É normal que haja alguma ansiedade e sentimentos vários entre os estudantes nesta altura”, diz a presidente do CNJ ao JPN. O presidente da FAP pede, ainda, que nenhum dos seus colegas “estudantes veja qualquer adaptação do processo para este ano como uma injustiça ou qualquer coisa parecida”. “Acredito antes que todos ficarão satisfeitos quando virem que ainda assim conseguimos assegurar que mais jovens continuam a estudar no Ensino Superior.”

Todas as escolas estão fechadas desde 16 de março e assim vão continuar, excetuando os alunos dos 11.º e 12.º anos que, ao que tudo indica, terão a possibilidade de voltar. São também os únicos que vão realizar exames nacionais ou qualquer tipo de prova interna.

Artigo editado por Filipa Silva.