Com a desistência de Bernie Sanders, na semana passada, Joe Biden é agora o único candidato democrata nas primárias presidenciais norte-americanas. O antigo vice-presidente confirmou o favoritismo inicial da sua campanha e prepara agora a disputa pela Casa Branca contra Donald Trump em novembro deste ano.

O JPN falou com Germano Almeida, especialista em política americana, para perceber os pontos-chave da campanha eleitoral das presidenciais. A crise da COVID-19 “será certamente o tema dominante” nestas eleições, o que pode trazer um obstáculo acrescido para o candidato democrata: “Biden tem um problema de se colocar no centro mediático já que, neste momento, a pandemia é o mais relevante e não a campanha“, explica. Por agora, as convenções partidárias e as iniciativas no terreno estão suspensas. Este calendário acaba por beneficiar o atual presidente e candidato à reeleição.

E a própria eleição presidencial, marcada para 3 de novembro, pode ser adiada? Até ver, não se sabem “as variáveis que podem determinar essa decisão”, considera Germano Almeida. Cada estado organiza a sua própria eleição, o que pode levar a adiamentos individuais em vez de um geral. Ou seja, alguns estados podem escolher adiar as suas datas e a 3 de novembro termos apenas “uma eleição parcial“, alerta.

Tal como há quatro anos, Barack Obama esperou até ao fim da campanha das primárias democratas para anunciar o seu apoio a um candidato – na altura, Hillary Clinton, agora Joe Biden. Esta terça-feira, num vídeo colocado nas redes sociais, o antigo presidente do Estados Unidos colocou-se ao lado do seu vice, amigo e, agora, único candidato democrata nas primárias presidenciais.

Barack Obama procurou contrastar o “conhecimento”, a “experiência”, a “honestidade”, a “humildade” e a “empatia” de Biden com a imagem do atual Presidente, Donald Trump. “Joe tem todas as qualidades de que precisamos num Presidente neste momento”, afirmou Barack Obama.

Para Germano Almeida, a diferença entre os dois candidatos na gestão de crises sanitárias pode ser decisiva. Joe Biden foi um principais responsáveis pela gestão das epidemias da H1N1 e do ébola, durante a administração Obama. “A diferença é grande entre a eficácia e a humanidade da administração Obama e a gestão de Donald Trump sobre o que está a passar-se em Nova Iorque com a COVID-19”, avalia o autor de vários livros sobre a política norte-americana.

A união democrata (ou falta dela) contra Trump

A saída de Bernie Sanders da corrida à Casa Branca abre caminho para Joe Biden conseguir a nomeação do Partido Democrata como candidato às presidenciais. O senador do Vermont anunciou, igualmente, o seu apoio ao ex-vice-presidente da administração Obama.

Se Joe Biden pode contar com a ajuda de Bernie Sanders, o mesmo não é certo por parte do eleitorado do senador progressista. Nesse sentido, Barack Obama aproveitou o seu anúncio para apelar à união dentro do Partido Democrata. “Bernie é um americano original. Um homem que dedicou a vida a dar voz às esperanças, aos sonhos e às frustrações dos trabalhadores”, destacou o antigo Presidente.

É verdade que a ala moderada e a ala progressista dos Democratas “nem sempre concordam em tudo”, mas Obama acredita que partilham a “convicção de que a América tem de ser uma sociedade mais justa, mais igualitária“. Mesmo assim, as dúvidas persistem sobre se o eleitorado mais jovem e progressista pode ser convencido por Joe Biden.

Para Germano Almeida, “não é certo” que isso venha a acontecer. “A grande questão política de Biden é convencer todo o eleitorado da sua ala política a votar nele“, avalia. As diferenças entre as alas do Partido Democrata vão ser atenuadas agora que o alvo a abater é Donald Trump, mas Joe Biden necessita de uma “mensagem muito forte sobre o Sistema de Saúde”.

Warren também apoia Biden

Também Elizabeth Warren anunciou esta quarta-feira o apoio à candidatura de Joe Biden. A senadora foi uma entre os 27 candidatos – o número é histórico – que entraram e desistiram entretanto da corrida á nomeação democrata.

Do lado republicano, o domínio do presidente que corre pela reeleição tem sido absoluto. Três candidatos intrometeram-se na corrida, mas Donald Trump venceu eleição a eleição de forma esmagadora. A 17 de março, já tinha somados os delegados suficientes para a nomeação.

Antes da eleição geral, marcada para 3 de novembro, os dois candidatos – Joe Biden e Donald Trump – terão de passar pelas respetivas convenções. A reunião magna dos democratas está agora marcada para 17 a 20 de agosto (estava inicialmente prevista para 13 a 16 de julho). A republicana decorre logo a seguir: 24 a 27 de agosto.

Artigo editado por Filipa Silva