A ideia é ir buscar um fármaco “muito seguro” e com “potencial” – chamado Montelukast, normalmente usado no tratamento da asma – e usá-lo em doentes com pneunomia provocada pela infeção por COVID-19. O projeto está a ser desenvolvido por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e especialistas do Centro Hospitalar de São João, no Porto.

“Há uma plausibilidade biológica para [o fármaco] funcionar”, afirmou esta quarta-feira (22), em declarações à agência de notícias Lusa, André Moreira, médico do Hospital de São João e investigador do ISPUP.

A equipa de especialistas está a aguardar a aprovação da Comissão Nacional de Ética para poder testar o potencial do fármaco nos doentes do hospital de São João com menos de 65 anos e que estão internados (não em ambulatório) com pneumonia pela SARS-CoV-2 moderada a grave.

“Com cerca de 150 doentes internados no hospital de São João, a equipa vai por isso fazer uma ‘prova de conceito’ [teste prático de um conceito teórico] e perceber se o fármaco, em conjunto com o habitual tratamento para a COVID-19, tem vantagens, nomeadamente se diminui a gravidade da duração e intensidade da doença”, conforme avança a agência de notícias.

Se tal se verificar nos doentes com menos de 65 anos, então justifica-se “avançar para idades diferentes e doentes em ambulatório”, ou seja, doentes que não são obrigados a estar acamados ou em internamento. No entanto, “este é o ponto de partida”, referiu André Moreira.

O médico e investigador avançou à Lusa que o fármaco é “extraordinariamente barato e muito usado”. Em ensaios in vitro inibiu uma das proteases (enzimas que degradam proteínas) do vírus e já funcionou em modelos animais, como contou André Moreira.

O que é o fármaco Montelukast?

“Uma das moléculas que aparece como sendo uma potencial inibidora das proteases do vírus foi o Montelukast”. É um medicamento “usado há muitos anos no tratamento da asma e da rinite alérgica”. Quem tem alergias também o “conhece bem”.

“O fármaco é 100% seguro e pode ser usado em grávidas, crianças de seis meses ou doentes hepáticos”, explicou o especialista. “Estamos a falar de um medicamento que, em termos de custo, é mesmo barato” e é muito usado – “existem dezenas de genéricos disponíveis”.

André Moreira adiantou ainda que os efeitos adversos do fármaco são conhecidos “há muito tempo”. Prendem-se essencialmente com perturbações do sono e do estado de humor. Mas o médico e investigador assegurou que não se trata de um efeito grave: “é perfeitamente reversível em três dias. Para este tipo de população, em ambiente hospitalar, não é um efeito que seja, comparativamente a outros fármacos, relevante”, salientou.

Projeto com financiamento de 30 mil euros

O projeto envolve mais de 20 especialistas do Hospital de São João e investigadores do ISPUP.

Com um financiamento de 30 mil euros, este é um dos 66 projetos apoiados pela linha de financiamento da Fundação para a Ciência da Vida e Tecnologia (FCT) – Research 4 COVID-19, que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A equipa prepara-se também para fazer o registo na plataforma da Agência Europeia do Medicamento, de modo a que outros países tomem conhecimento.

Por último, André Moreira referiu que há apenas um grupo chinês que sugeriu o reposicionamento do fármaco – isto é, redescobrir novos usos terapêuticos para o medicamento -, mas “até agora não há nenhum ensaio numa perspetiva global a ser feito e queremos comunicar a intenção de fazer”, concluiu.

Artigo editado por Filipa Silva.