O JPN falou com alunos das 14 faculdades da Universidade do Porto para perceber como decorre a atividade letiva. As aulas práticas, o volume de trabalhos, o apoio prestado por professores e instituições, as propinas e o possível regresso às aulas presenciais foram alguns dos tópicos abordados.

A vida à distância é a constante que já se tornou hábito desde que a pandemia da COVID-19 atingiu Portugal. O ensino universitário é uma das principais áreas de foco, que, quase um mês e meio depois do encerramento das faculdades, continua a funcionar de forma remota e a trazer preocupações aos estudantes perante o final de um ano letivo que teve de ser adaptado.

Na Universidade do Porto (UP), são 14 as faculdades que continuam vazias (além da Business School e dos serviços complementares e culturais da instituição), desde que foram suspensas todas as atividades letivas presenciais, a 12 de março. Vazias mas apenas nos campias aulas continuam, todas a partir de casa. Os cerca de 30 mil estudantes inscritos na segunda maior instituição de ensino superior do país continuam a ação letiva de modo não presencial e espalhados por todo o país, até mesmo no estrangeiro.

Apesar do serviço continuar a funcionar através dos métodos possíveis em tempo de pandemia, as experiências depois de mais de 40 dias de ensino à distância continuam distintas para os alunos das 14 instituições que o JPN ouviu, quer entre quer dentro das faculdades.

As conclusões são díspares, mas o elemento comum nos relatos é a perda de elementos essenciais à aprendizagem. Gera-se um clima de incerteza; sem resoluções práticas à vista, exceto um possível regresso parcial às atividades letivas presenciais, o medo persiste, seja em sair à rua ou em perder, pelo menos, parte dos conhecimentos necessários para a garantia de um futuro sólido.

Uma situação que se mantém diversa

As aulas teóricas continuam a ser lecionadas por via telemática, mas varia a plataforma de acesso para os alunos. Há professores que continuam a usar a plataforma Zoom/Colibri, mesmo com as advertências face a possíveis falhas na privacidade dos seus utilizadores, para lecionar em direto – em horário normal ou fora dele.

Outros preferem disponibilizar as aulas gravadas, através do Panopto, um serviço disponibilizado no moodle da UP. Alguns professores optaram ainda por fornecer documentos em formato PowerPoint mais detalhados e com descrições, em vez de dar a aula.

Reitoria da Universidade do Porto | Foto: Mariana Correia

Ou seja, o panorama pouco se alterou. O que muda, no entanto, é a eficácia dos métodos adotados que, mesmo que sejam os únicos possíveis, estão a trazer dificuldades a alunos de cursos com uma componente prática mais marcada.

Carolina Monteiro Pereira é aluna na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). A frequentar a licenciatura em Artes Plásticas, neste segundo semestre tem unidades curriculares de desenho e escultura que, a par das aulas teóricas, funcionam por videochamada. “Nas aulas teóricas acaba por ser menor o impacto. Os conteúdos continuam a ser dados, mais ou menos, como previsto. O problema surge com as práticas“, conta ao JPN.

A impossibilidade de observação das criações dos alunos, que chegam a ser minuciosas nestas áreas artísticas, obrigaram a uma alteração na forma como são estudadas. Carolina explica que “desenho é possível de realizar em casa sem grandes constrangimentos”. Já com a escultura não se passa o mesmo. “O professor enveredou por aulas de teoria e vai pedindo aos alunos que apresentem o que estão a conseguir produzir”, diz.

As unidades práticas que envolvem uma avaliação direta por parte dos docentes, em tempo quase real, são as que continuam a sofrer as maiores alterações na forma como estão a ser lecionadas e, posteriormente, avaliadas. No caso de Arquitetura, Cristiana Costa relata que todas as cadeiras continuam a ter aulas, com aulas práticas a serem substituídas por uma versão mais teórica, “algumas com o apoio de vídeos partilhados pelos professores”. A aluna da FAUP explica que “as aulas práticas têm decorrido de uma maneira diferente e o processo de trabalho é dividido maioritariamente por grupos para se filtrar dúvidas e discussões e, assim,  poupar tempo”.

O tempo, contrariando-se a lógica de que seria em maior quantidade nesta época em que todos estão em casa, é, na realidade, menor. A disponibilidade dispensada para o ensino deste tipo de unidades curriculares acaba por ser condensado, eliminado o contacto direto entre alunos e docentes. Cristiana Costa conta que, no caso da FAUP, muitas vezes esta questão gera uma acumulação de trabalhos, visto “a verdadeira estratégia de ensino desta faculdade” não se traduzir “nestes métodos”. “A presença de dois lápis na mesma folha ou a discussão dos projetos não existe nestas aulas virtuais. É disso que mais sentimos falta”, conclui a aluna.

Enquanto que em alguns cursos estas aulas avançam, mesmo que com limitações claras, em outras áreas há aulas totalmente suspensas devido à impossibilidade de se realizarem por via remota. É o caso de cursos como o de Medicina Veterinária, no ICBAS, cujas aulas práticas continuam interrompidas. Segundo Jaciely Silva, aluna na instituição, “algumas aulas poderão ser repostas nos próximos anos”, sendo esta uma das principais soluções propostas pela faculdade para recuperar o que está a ser perdido: “uma vez que alguns dos docentes vão continuar a dar-nos outras unidades curriculares nos próximos semestres, vão ter isso em consideração”.

As áreas da Medicina são algumas das que continuam mais afetadas. No caso da formação no ICBAS, Bruna Abreu, no terceiro ano, ressalta que, enquanto que nas aulas mais teóricas a aprendizagem é possível, há áreas de estudo em que é “crucial” a componente prática e as aulas presenciais no Hospital Santo António. São “conteúdos perdidos que são essenciais para a nossa formação médica”, comenta.

A mesma área, mas na FMUP, encontra-se igualmente condicionada. Madalena Frias estuda no outro curso de Medicina da UP, desta feita com formação no Hospital de São João, a linha da frente do combate à COVID-19 em Portugal. As aulas encontram-se, claramente, fora de questão, prejudicando os anos mais avançados do curso em que há uma componente prática cada vez mais forte.

A aluna, ainda no início do percurso académico, considera que não está tão prejudicada, uma vez que o curso é “nestes primeiros anos, muito teórico, à base da leitura e estudo autónomo”. Mesmo assim, começam a existir constrangimentos em algumas exceções, nomeadamente no que toca “à parte prática microscópica ou contacto com o cadáver, para Anatomia, por exemplo”. Contudo, no que toca a obter conhecimento para “passar e fazer o exame”, tem sido suficiente.

Cursos da área do Desporto estão igualmente condicionados de realizar provas práticas, que são o elemento de avaliação essencial nestas formações da FADEUP. Alunas da instituição contam ao JPN que algumas dessas unidades curriculares vão ser substituídas por trabalhos escritos práticos, uma das poucas formas de colmatar a ausência de provas físicas nas várias componentes desportivas, como natação, basquetebol ou outros desportos de contacto.

Para além das dificuldades do ensino à distância

Licenciaturas nas faculdades de Direito (FDUP), Economia (FEP), Engenharia (FEUP), Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP) ou Letras (FLUP) têm áreas, de forma genérica, menos afetadas visto as componentes práticas das suas formações terem uma maior possibilidade de serem realizadas sem necessidade de contacto físico. Mesmo assim, dentro das áreas, há uma grande diversidade na forma como estão a ser lecionados os conteúdos e há queixas dos alunos.

Soraia Torres, atualmente no segundo ano da Licenciatura em Geografia da FLUP, relata ao JPN que “em sete unidades curriculares, aulas teóricas em videoconferência acontecem no máximo em três”. Mesmo nas que são lecionadas dessa forma, “não se consegue aproveitar ao máximo o tempo de aula” por razões que vão de falhas da parte dos docentes, da plataforma Zoom ou mesmo porque alguns dos professores chegam atrasados ou não comparecem às aulas, sem aviso prévio do sucedido, garante.

Os conteúdos estão, na sua maioria, a ser aprendidos “muito à base de trabalhos práticos que por vezes nem são explícitos” e que não têm uma grande orientação por parte dos professores. “Praticamente todas as semanas temos que ter algo pronto”, garante a aluna, não existindo atenção por parte dos docentes à sobrecarga académica. “Dizem mesmo: ‘vocês agora não têm muito que fazer’, algo que considero completamente ridículo”, afirma.

A conclusão do semestre é incerta

Para além das aulas, a grande preocupação dos estudantes é a sua avaliação e a forma como vão conseguir concluir o semestre. A grande maioria das faculdades da Universidade do Porto não esclareceu, pelo menos de forma completa, como tudo se vai definir, sendo de esperar que tal aconteça até ao final desta semana uma vez que as unidades orgânicas criaram grupos de trabalho para preparar o reativamento das faculdades a partir de 4 de maio, conforme recomendado pelo Ministério da Ciência Tecnoogia e Ensino Superior.

Marcos Temporão, estudante no Mestrado Integrado em Psicologia, afirma que alguns dos professores da FPCEUP “adaptaram partes da avaliação”. No entanto, “o resto ainda é uma incógnita” e os estudantes desta faculdade “não sabem como vão concluir o semestre”.

Foto: Unsplash

Já na FAUP “ainda não foram esclarecidos os métodos de avaliação”. Cristiana Costa defende que “não deve haver uma grande diferença nas notas” e que estas sejam complementadas pelos trabalhos feitos nas aulas presenciais do início do semestre. A estudante pede “bom senso”, até porque há alunos com dificuldades em realizar aulas à distância. Também na Faculdade de Belas Artes “nada é claro, neste momento”. A estudante Carolina Monteiro Pereira considera que tem existido uma “enorme compreensão por parte dos docentes”, mas tudo está em aberto no que toca à conclusão do semestre.

Maria Brandão, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), também revela que não sabe como será avaliada. O mesmo repete-se no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), onde os professores de cada cadeira terão até ao final de abril para decidir o método de avaliação, tal como na FMUP. A Faculdade de Medicina Dentária (FMDUP) repete o cenário e há professores divididos entre mudar os métodos de avaliação consoante indicações da reitoria ou manter as decisões previamente tomadas.

Existem dois casos de menor incerteza, apesar de não estar tudo totalmente esclarecido. Na FADEUP, “grande parte das cadeiras” já definiram os seus métodos de avaliação, segundo Inês Teixeira, porém outras “não têm informação suficiente”. Na FLUP, Sandra Couto, do curso de Sociologia, afirma que os professores que já lecionaram durante o período de confinamento “tomaram uma decisão em conjunto com a turma”. O mesmo se verifica no curso de Geografia, onde Soraia Torres garante que “todas as cadeiras já têm uma forma de avaliação final definida”, apesar das restantes dificuldades encaradas. Na FDUP, o início da época de exames passou de 18 de maio para 1 de junho e os exames vão ser online.

Algumas faculdades “não deram apoio”, outras fizeram “o que lhes compete”

No que toca à gestão da crise por parte das faculdades e da própria Reitoria, as opiniões dividem-se. Alguns esperavam mais e melhor, outros têm uma atitude compreensiva perante as dificuldades deste período.

Rita Gomes, da FDUP, não se sentiu apoiada pela sua instituição, mas aponta “sobretudo o dedo à Reitoria”, pois a gestão das faculdades não teve “a maior liberdade”. Sandra Couto, da FLUP, acha que “é natural que a faculdade não consiga responder a longo prazo” devido às dúvidas da pandemia, mas que, mesmo assim, a Reitoria não agiu com a “rapidez desejada”.

Marcos Temporão considera que a FPCEUP “tem tentado fazer o seu melhor” e mantido os alunos informados. Sobre a Reitoria, o estudante acredita que “fizeram tudo o que lhes compete”. Maria Brandão, porém, não se sente suficientemente apoiada pela FCUP. Jaciely Silva, do ICBAS, partilha desse sentimento e crê que a Reitoria devia ter feito “um comunicado mais cedo”.

“Apoiada e esclarecida quanto-baste” foi como se sentiu Madalena Frias da FMUP. A estudante compreende as dificuldades em tomar decisões atempadamente no contexto desta crise. Nos cursos desportivos, tanto Inês Teixeira como Ágatha Salomão sentiram que a Reitoria “tomou a decisão no momento certo” e que a FADEUP informou bem os estudantes.

Reduzir as propinas é “o mínimo que se pode fazer neste caso”

O estado atual do ensino, apesar de imposto pelas circunstâncias, continua a ser alvo de críticas devido à insatisfação dos alunos face ao seu funcionamento. Alguns estudantes defendem mesmo o cancelamento do semestre, algo que não está na equação dos estabelecimentos de ensino – podendo existir casos de unidades curriculares específicas que, como analisado, tenham de ficar em pausa até possibilidade de se realizarem.

A maioria dos estudantes aponta as propinas como questão fundamental a ser resolvida tendo em conta os moldes incompletos em que o ensino assenta atualmente. Uns defendem o cancelamento total da despesa, enquanto outros pedem, pelo menos, uma redução no valor mensal até ao final deste ano letivo. Rita Gomes, aluna de Direito, considera “que qualquer uma das soluções não é descabida e consigo defender as duas”. Mesmo assim, “manter do valor integral das propinas” é incorreto a seu ver, mesmo com a solução oferecida pela UP de um adiamento no pagamento destes valores, algo “que mais parece um varrer para debaixo do tapete do que uma solução verdadeira”.

Já Sandra Couto, estudante de Sociologia na FLUP, apesar de a favor do cancelamento das propinas não só nesta situação mas para todo o ensino, reflete que “o mínimo que se pode fazer neste caso é reduzi-las”. Usando o exemplo de amigos que também frequentam o ensino superior, “há imensos estudantes que pagam as propinas do seu próprio bolso e que estão neste momento sem receber ou noutro tipo de situações precárias. Tendo em conta que não estamos a usufruir das instalações, mas sim do nosso próprio computador e da Internet que também pagamos, acho que é o mínimo”.

Outros estudantes explicam que tanto uma opção como outra, apesar de compreenderem a necessidade, não se justificaria aplicar. Cristiana Costa, da FAUP, dá o exemplo do pai, professor, que “nos dias de hoje está com mais trabalho do que qualquer outra altura”. Pela necessidade de pagamento igual aos professores, cujo volume de trabalho “duplica, se não triplica”, e a continuidade dos serviços das instituições, uma “redução não creio que seja inteligente nem que vá favorecer ninguém”.

A questão gera uma opinião unânime: o problema não é simples e há vários fatores em jogo, alterando-se a necessidade entre diferentes alunos e cursos. No entanto, é também coletivo que um cancelamento total e repentino das propinas, sem qualquer tipo de base para a perda desses valores, seria “injusto”, uma vez que “ainda estamos a usar recursos da universidade”.

Esta é a opinião de Marcos Temporão, aluno do segundo ano do Mestrado Integrado em Psicologia na FPCEUP. O estudante considera, por isso, que “uma redução seria apropriada e muito bem vinda”, tendo em conta que existem “outras despesas complicadas de suportar nesta altura”.

Natural de Monção, em Viana do Castelo, estuda e vive no Porto desde 2018. Marcos é apenas um das centenas de alunos que residem longe dos locais onde estudam e que em tempo de aulas têm de ficar alojados em casas ou residências da Universidade.

Residência Alberto Amaral é a maior da Universidade do Porto.

Centenas de alunos abandonaram as residências da UP ou as casas e quartos alugados para regressar a casa. Na foto, a Residência Alberto Amaral. | Foto: SASUP

Viver fora de casa durante o ano letivo acarreta custos em muito superiores ao normal, acumulando-se “todas as despesas de uma casa normal”, que vão das rendas à alimentação. Juntar todos estes custos ao já regular pagamento de propinas “não é fácil”. “Tenho a sorte de os meus pais me poderem sustentar, mas não é sem esforço. Conheço pessoas que não podem prosseguir estudos pela questão do dinheiro”, explica.

O estudante de Psicologia reforça que a questão do alojamento é a que mais o preocupa, a par de outros estudantes deslocados. Dada a necessidade de manter casa no Porto, uma vez que não há perspetivas certas sobre quando será possível regressar, o custo continua a ter de ser suportado. “É complicado porque não temos qualquer tipo de ajuda nem no que toca a encontrar alojamento, nem em suportar esses custos”, explica Marcos, reiterando que alunos deslocados pagam “o triplo do preço para tirar o mesmo curso”.

Apesar da fase de pandemia o ter feito regressar a Monção, as contas mantêm-se, mesmo que se reduzam as despesas da casa: “temos de pagar renda, água, luz, Internet, comida, tudo“, reforça. Apesar disso, conseguiu reduzir a renda por não estar a utilizar a casa que divide com outros estudantes – que “mesmo assim continua a ser uma grande despesa” não aproveitada -, algo que nem todos os estudantes conseguem acordar com os senhorios das respetivas residências.

Para auxiliar a sobrecarga de custos às famílias dos alunos que residem longe (para esta reportagem, o JPN ouviu também alunos de Amarante, de Leiria ou do arquipélago da Madeira, por exemplo, todos casos bastante díspares em termos da gestão de despesas), a UP criou um Subsídio de Emergência. O apoio visava qualquer aluno inscrito num ciclo de estudos da instituição – estudantes internacionais incluídos – que estivesse a ser diretamente prejudicado pela pandemia do novo coronavírus, que seja por situações de desemprego, doença ou outras “de fragilidade social”.

Este apoio, extensão do Fundo de Apoio Social da UP, consiste numa prestação única de 350 euros. As bolsas, para as quais as candidaturas se iniciaram na primeira semana de abril, já foram atribuídasapenas 236 de 1.045 candidaturas. A incapacidade de resposta a todos os pedidos, tendo sido efetuada uma seleção tendo em conta a gravidade da situação de cada aluno, é efeito provável do “rombo nas receitas próprias” da UP, referido pelo Reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, em entrevista ao “Observador”. A Universidade garante, no entanto, que “não avança para já com pedidos de ajuda ao Estado”.

O Subsídio de Emergência foi visto com bons olhos por parte dos estudantes, que consideram esta uma ajuda útil e necessária para suportar custos que têm de continuar a acarretar, mesmo não estando a residir nas casas que têm alugadas para tempo de aulas nem a utilizar os serviços – água, luz, Internet – nelas incluídos, que têm de continuar a ser pagos. Para o aluno da FPCEUP, esta “foi uma boa iniciativa da Reitoria” e acha que a ajuda tem “um valor apropriado”, apesar de ter acabado por não a receber. Por isso mesmo, “se a situação se mantiver, creio que serão necessárias mais ajudas”.

A UP reitera que, se houver disponibilidade financeira, prevê a abertura de “novos períodos de candidatura” a este tipo de subsídio.

Regresso às aulas em maio “não compensa o risco”

A recomendação do Governo para a retoma progressiva da atividade nas faculdades em maio, no que toca a aulas presenciais não é bem visto pela maioria dos estudantes. Em grande parte das faculdades, acredita-se que não compensa devido às componentes teóricas serem mais abundantes. Por outro lado, alunos de cadeiras mais práticas veem com receio e nervosismo o aliviar das medidas de contenção.

No caso das instituições com aulas maioritariamente teóricas, algumas já anunciaram que as aulas não vão recomeçar em maio, como é o caso da FLUP. Soraia Torres, aluna de Geografia, “não compreende”, porém, a insistência na realização de exames mais para a frente na faculdade, visto que não vai haver um regresso das aulas presenciais. Rita Gomes, por sua vez, percebe a necessidade das cadeiras que necessitam de aulas presenciais. A FDUP já referiu que não vai voltar a abrir portas, mas a aluna considera que, nas restantes faculdades em que ainda é uma hipótese, “devem ser cumpridas todas as exigências de segurança e pensar muito bem sobre a extrema necessidade do método presencial”, afirma. Marcos Temporão percebe o regresso de “cursos que tenham um componente prática e laboratorial muito forte”, mas tal não é o caso na FPCEUP. “Não compensa o risco”, defende o estudante. 

Nas faculdades com cadeiras mais práticas, os estudantes em geral mantêm, mesmo assim, a opinião de que não se deve retomar aulas presenciais. Carolina Monteiro Pereira assume a “grande vontade de voltar” à rotina da FBAUP, mas considera que isso pode gerar um receio de contágio e stress constante que não é bom para os alunos. Jaciely Silva acha que é “demasiado cedo” para que o ICBAS retome aulas presenciais, quer pela localização da instituição, quer pela necessidade de recorrer a transportes públicos. Já Bruna Abreu, também do ICBAS, sente que a redução das medidas de contenção “tem tudo para dar errado” e que no caso concreto da sua faculdade, com aulas no Hospital, seria “um escândalo”.

Kseniya Nialepka, estudante da Faculdade de Medicina Dentária, pensa que é “irresponsável” retomar as aulas na FMDUP. Compreende que “o país não pode parar”, mas argumenta que basta haver um caso para a faculdade fechar outra vez. Opinião corroborada por Inês Teixeira, da FADEUP, que concorda que “não compensa reabrir”, por “não ser seguro nesta fase”.

Existe ainda o caso dos estudantes que vêm de fora da cidade ou, até mesmo, do continente. Jaciely Silva, residente no arquipélago da Madeira, defende que é “completamente impossível” estudantes deslocados de Portugal Continental regressarem, devido à suspensão de voos. 

Mesmo assim, há quem pense que o regresso se justifica, se realizado em segurança. Maria Brandão acredita que “compensa” reabrir unidades curriculares que precisam de aulas presenciais, desde que “sejam obedecidas as recomendações e preocupações”. Madalena Frias acha que a reabertura da FMUP “seria impensável”, dadas as circunstâncias, mas pensa que as outras faculdades que precisam de aulas práticas devem retomar o ensino presencial. Ágatha Salomão da FADEUP sente que o curso não pode parar e que os alunos necessitam de treinar. “Precisamos de correr esse risco, mas, claro, seguindo todas as regras”, afirma.

Artigo editado por Filipa Silva