CovidApp e StayAway são nomes de aplicações que permitem detetar redes de contágio da COVID-19 e informar os utilizadores quando estão – ou se já estiveram – em contacto com alguém infetado.

A proximidade física entre os smartphones é detetada através de Bluetooth ou Wi-Fi. As duas aplicações de contact tracing [rastreio de contactos] guardam os registos anónimos destes encontros durante 14 dias.

As apps são de uso voluntário, isto é, as pessoas não são obrigadas a instalá-las. Ambas cumprem as diretrizes e normas europeias no que toca a proteção de dados. Além disso, não são pedidos dados pessoais e a identidade nunca é divulgada – são antes atribuídos códigos [ID] aleatórios aos utilizadores.

A StayAway está a ser desenvolvida pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), com o apoio do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP). Já a CovidApp foi criada pela HypeLabs, uma startup do Porto que trabalha na área da conetividade há vários anos.

A CovidApp está pronta há cerca de três semanas e já está a ser usada, por exemplo, na Colômbia. A StayAway deverá ser disponibilizada até ao final de maio e vai ser a app utilizada em Portugal, para rastrear os casos infetados.

O projeto coordenado pelo INESC TEC foi apresentado esta segunda-feira (27) aos ministros da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da Coesão Territorial, numa sessão na reitoria da Universidade do Porto.

CovidApp: a aplicação já usada fora de Portugal

A HypeLabs, startup do Porto, desenvolveu a CovidApp, cuja versão inicial já está finalizada. Nesta aplicação, que funciona com base nas ligações de Bluetooth ou Wi-Fi, os dados anónimos são cruzados para perceber se os utilizadores estiveram em contacto com alguém infetado. Se tiverem estado, recebem um alerta com recomendações, mas a identidade da pessoa infetada nunca é revelada.

Carlos Lei Santos, presidente e cofundador da HypeLabs, garante, a propósito, em declarações ao JPN, que no que toca à proteção de dados e privacidade, a app é segura e segue todas as diretrizes impostas pela Comissão Europeia.

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Maquete da CovidApp. É atribuído um código aleatório a cada utilizador.

Um “desafio tecnológico” resolvido “há vários anos”

A startup baseada no Porto trabalha na área da conetividade “já há vários anos”, como conta ao JPN Carlos Lei Santos. “O nosso core business [negócio principal] é o desenvolvimento de software para redes mesh”. Esta tecnologia permite colocar “vários dispositivos ligados entre si, de forma completamente privada e anónima, e criam-se redes com base nessas conexões, sem precisar de Internet”, esclarece.

No início da pandemia, a startup foi contactada por alguns governos com quem já estabeleciam comunicações, principalmente na zona da América do Sul. “Perguntaram se esta tecnologia [redes mesh] poderia ser utilizada para fazer tracking anónimo, o tal contact tracing” que permite rastrear as pessoas infetadas.

O presidente da HypeLabs diz que existe um “desafio tecnológico” que muitos países ainda não conseguiram resolver: permitir que a app continue a funcionar mesmo em segundo plano, isto é, quando o telemóvel está bloqueado e a aplicação não está aberta. “Esta é uma das coisas que nós não nos tínhamos apercebido, mas já resolvemos este problema há vários anos atrás. Então, começou por aí”, explica.

Permitir a interoperabilidade – comunicação entre diferentes sistemas operativos, como Android e iOS (Apple) – foi outra das dificuldades ultrapassadas pela HypeLabs.

“Nós documentámos isto em alguns países e começámos a ter vários outros a vir ter connosco e perguntar se podiam ter algo do género ou se tínhamos alguma app ou sistema já todo desenvolvido – que nós não tínhamos”, continua. Depois, com a ajuda de voluntários do tech4COVID19 – movimento de uma comunidade tecnológica no combate ao novo coronavírus – foi desenvolvido um código aberto [open source] para a aplicação.

Carlos Lei Santos explica que qualquer governo pode utilizar o código da app, que é livre, “como base para construírem os sistemas deles no futuro”. 

App adaptável

A versão inicial da CovidApp já está pronta há cerca de “duas, três semanas”. Mas vários governos têm pedido algumas “especificações próprias às suas necessidades”, avança o cofundador da HypeLabs, “então é um constante desenvolvimento”.

Segundo o empresário, os países que estiverem interessados em usar a app têm duas opções: podem pegar na sua componente base e começar a utilizá-la livremente, se tiverem competências técnicas para tal. Ou então, se precisarem de ajuda a fazer essa integração ou se tiverem mais requisitos, podem contactar a startup.

Pode ainda ser incorporado na app um canal de comunicação direto entre o utilizador e a autoridade de saúde competente, chamado o “portal da clínica”. Este canal pode ser fechado (privado entre as duas partes, se o governo tiver capacidade para tal) ou estabelecer-se sob a forma de um formulário enviado diariamente a pedir informações como sintomas.

Como explica Carlos Lei Santos, todas as clínicas e hospitais podem ter acesso a este portal. Por cada teste feito à COVID-19, é gerado um QR code específico “que tem de ser lido pela aplicação do utilizador quando ele vai fazer o teste, de forma a que o seu ID privado fique registado àquele teste sem qualquer tipo de cruzamento de dados pessoais”.

Existe, por último, a possibilidade de se criar o “portal do governo” – um painel onde cada governo consegue ver, por exemplo, o número de pessoas infetadas. “Dentro deste deste portal, nós também permitimos aos governos escrever qualquer tipo de notícia ou alerta, para enviarem a toda a gente”, adianta.

Além de ser uma app de contact tracing, Carlos Lei Santos entende que o principal uso da tecnologia é mesmo ser “a aplicação de comunicação oficial entre o governo e o utilizador. Desta forma, também [ajudará a] evitar a propagação de fake news. Foi um dos problemas que vimos, principalmente, na América do Sul”, aponta.

Aplicação poderá ser usada em quase 30 países

“No final do dia, quem tem a opção de integrar o que quer que seja são os governos”. A aplicação desenvolvida pela startup do Porto pode ser usada amplamente por qualquer país.

Carlos Santos adianta que nunca tiveram “qualquer tipo de contacto com o Governo português”. “Nós estamos abertos a tudo e todos, estamos a falar com mais de 30 governos, e obviamente que para nós seria um prazer tentar ajudar cá em Portugal”, afirma.

A Colômbia foi o primeiro país a utilizar a CovidApp. Neste momento, há outros 11 países onde a aplicação está a ser introduzida, como afirma o presidente da startup, e há mais uma dúzia onde se está a discutir a possibilidade de ser implementada. “Estamos a ajudá-los a decidir se pretendem avançar ou não”, diz.

StayAway: a app que Portugal vai utilizar

António Costa já tinha revelado a intenção de utilizar, em Portugal, uma aplicação de rastreio de contactos para evitar a propagação do novo coronavírus. Esta segunda-feira, dia 27, a app foi revelada.

A StayAway ainda está a ser desenvolvida e em fase de testes, mas estima-se que “possa ser disponibilizada para todos até ao final do próximo mês, para Android e iOS”, conforme indica o comunicado de imprensa enviado pelo INESC TEC às redações.

A aplicação é “voluntária, não intrusiva e não discriminatória”. Os utilizadores têm apenas de a instalar, se assim quiserem, e não é necessário “partilhar qualquer tipo de informação pessoal”. Assim, a privacidade e proteção de dados dos utilizadores estarão, à partida, garantidas.

“Esta é uma plataforma de uso voluntário que informa os utilizadores de uma ocasião de proximidade, ocorrida nos últimos 14 dias, com alguém confirmado como infetado. É um método que poderá estender e acelerar, preservando o anonimato dos envolvidos, a identificação das cadeias de transmissão que as autoridades de saúde realizam desde o início da pandemia”, afirma José Manuel Mendonça, presidente do Conselho de Administração do INESC TEC, citado na nota de imprensa.

À semelhança da CovidApp, também esta aplicação cumpre as legislações europeia e nacional de proteção de dados.

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A app StayAway será tanto mais eficaz quanto maior for o número de pessoas a usá-la.

Como funciona a aplicação

Na app StayAway, a proximidade física entre os smartphones é detetada apenas por Bluetooth, que prevê a troca de informações entre dispositivos através de uma frequência de rádio de curto alcance. Por isso, é globalmente considerada uma solução tecnológica mais segura.

Depois de instalada, os utilizadores recebem uma mensagem de aviso – um beep – se tiverem tido contacto, nas últimas duas semanas, com alguma pessoa que testou positivo à COVID-19. Mais uma vez, a identidade nunca é exposta, tal como na app desenvolvida pela HypeLabs.

“Uma pessoa confirmada como infetada com COVID-19 poderá publicar online, com a legitimação das autoridades de saúde, os seus identificadores [ID] anónimos que partilhou nos últimos 14 dias. Com esta informação pública, a aplicação de cada pessoa pode facilmente avaliar autonomamente se nos dias anteriores esteve próximo da pessoa infetada”, conforme avança o INESC TEC.

“No caso de uma pessoa que não contraia a doença e que não tenha contacto com nenhum infetado, a única interação que terá com a app será a instalação da mesma no seu smartphone. Mas esta aplicação será tanto mais eficaz quanto maior for o número de utilizadores”, acrescenta José Manuel Mendonça.

Neste sentido, a app deverá ser instalada por 60% dos utilizadores para ser eficaz, como avança o jornal Público

Artigo editado por Filipa Silva