Durante o período de isolamento social muita coisa mudou na vida coletiva e individual.

Aprender e ensinar foi coisa diferente do habitual. A vida em família também. O trabalho – comercial ou artístico, industrial ou desportivo – teve de se adaptar. A casa de cada um também. O lay-off entrou no vocabulário de uma larga maioria, mas mais do que o léxico foi a saúde emocional da população a ficar marcada, de março a abril, pela pandemia da COVID-19.

Foi neste contexto e destes contextos que se fizeram as reportagens que aqui se partilham, peças realizadas com o material disponível em casa e durante o período de confinamento. São instantâneos sonoros de um passado recente que tão cedo não iremos esquecer.

O novo ensino

No domínio do ensino, são conhecidos os desafios que conheceram os que estudam vertentes mais práticas do conhecimento. Como é o caso do campo das artes. Sobre isso falam Inês Carneiro, bailarina e estudante de Teatro no Porto, e Bianca Orlando, estudante italiana de Fashion Styling em Verona.

Do teatro para o canto: aulas por Skype e Whatsapp foram a opção possível em muitos casos. Bárbara Correia, de 23 anos, estudante de rock-pop e teatro musical, e Paulo Ferreira, cantor de ópera e professor de canto, elencam dificuldades e ganhos das aulas a distância.

Também Flor Coelho, bailarina e coreógrafa, professora de dança oriental e de ballet, teve de se mudar para a internet. Ao JPN, fala de um período de grandes mudanças ao nível profissional.  

Da videoconferência à telescola

No ensino formal, as aulas virtuais em plataformas como o Zoom ou o Teams, foram a solução encontrada para dar seguimento ao ano letivo. Foi assim, por videochamada que Orquídea Matos, professora do primeiro ano do primeiro ciclo do Ensino Básico, voltou ao contacto com os seus alunos. 

Paula Pires, professora primária há 34 anos, descreve também como de adaptou às novas circunstâncias. O escritório foi transformado numa sala de aula.

Além das videochamadas, chegou também o programa #EstudoEmCasa, uma iniciativa do Ministério da Educação em parceria com a RTP que envolve 115 professores que dão as suas aulas através da televisão. Sofia Moreira, aluna de 6º ano, prepara-se para mais uma aula.

Também Tiago, de 11 anos, viu o epicentro dos estudos mudar da sala de aula para a sala de casa, mas a telescola entusiasmou-o. Um bom reforço, mas não um substituto, na opinião da professora de Português Raquel Silva.

Quarentena não são férias. A lição aprenderam-na alunos e professores ao longo do período de confinamento. Gracinda Teixeira, 54 anos, dá aulas de Matemática ao segundo ciclo desde os 21 e o desafio do ensino à distância exigiu-lhe “muito mais” do seu tempo na preparação. Uma história diferente quando se passa do Básico para o Universitário, como explica António Guedes.

Carolina tem 14 anos e está no nono ano. Manter a motivação revelou-se o mais complicado, num cenário que, à altura da reportagem, era ainda de grandes incertezas. Mas nada parou. Nem as aulas de Educação Física.

Para os professores, o trabalho não ficou facilitado, como conta Eugénia Vieira, professora de História do ensino secundário.

O teletrabalho, o trabalho de sempre e as novas rotinas familiares

Se muito se falou de ensino a distância, não se discutiu menos o teletrabalho que se generalizou a várias áreas. Até para os artistas plásticos, como Maria Pereira.

Rui Fonseca, desenhador de moldes para a indústria automóvel, também passou para o teletrabalho e adaptou-se facilmente à nova realidade. Já Maria Isabel, operária de uma fábrica de calçado, teve de sair para trabalhar.

Débora Brochado e Manuela Ferreira também têm rotinas distintas. Se a primeira, que é terapeuta da fala, teve de mudar a sua atividade para o mundo virtual, a segunda, que é empregada doméstica, não deixou de trabalhar presencialmente.

António Magalhães, coordenador de lojas de uma cadeia alimentar, passava a semana no carro a percorrer as lojas do Norte do país. Com o confinamento imposto, passou a trabalhar a partir da mesa da sala de jantar. Mas as saídas em trabalho não deixaram de acontecer. Exigem é atenções redobradas.

Da agitação das compras para uma aldeia no Norte de Portugal: Maria Oliveira, de 63 anos, até estava habituada a estar sempre em casa, mas com um filho em quarentena e longe dos filhos e dos netos, diz sentir na pele os efeitos psicológicos negativos do isolamento social provocado pela COVID-19.

Durante o período de confinamento, muitas famílias tiveram de se dividir, com um dos pais a manter-se em casa enquanto outro se deslocava para trabalhar fora. Foi o caso de Ana e Bruno que partilham a sua experiência.

Na casa de Manuela Branquinho e Delfim Santos, onde vivem cinco pessoas, a nova rotina da família também foi dividida entre o teletrabalho e a atividade presencial.  

Já Maria José e Paulo Marques, trabalhadores da mesma empresa, passaram em conjunto para o regime de teletrabalho. A família tentou manter a rotina de sempre para assegurar o mesmo ritmo de trabalho.

Para o regime de teletrabalho passaram também os futebolistas profissionais. Pedro Ferreira, da União Desportiva Oliveirense, conta como foi treinar a partir de casa (e quando ainda não sabia que a Segunda Liga não iria regressar á competição).

Negócio que nunca deixou de funcionar foi o das farmácias. Elizabete Delgado descreve a dificuldade que sentiu durante um período em que tinha, simultaneamente, de informar e acalmar os clientes.

Lay-off e a esperança no futuro

Um dos efeitos mais perniciosos da pandemia foi ter empurrado para o lay-off centenas de milhares de trabalhadores. Caso de Abílio Norte, funcionário de um restaurante que fechou as portas ainda antes da declaração do primeiro Estado de Emergência.

Também António (pai) e António (filho) tiveram de fechar as portas da Ourivesaria Matos abertas há 117 anos em Ponte de Lima. O encerramento não foi, contudo, definitivo, além de que o ouro oferece alguma segurança em tempos de incerteza.

Reportagens realizadas no âmbito da disciplina de Técnicas de Expressão Jornalística Audiovisual/Rádio – 2º ano

Artigo editado por Filipa Silva