Quase 80% dos estudantes da academia do Porto teve um “agravamento da condição psicológica” devido à pandemia de COVID-19. Ao JPN, o presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Marcos Alves Teixeira, explica que essa percentagem de alunos sentiu um “aumento do estado de ansiedade ou depressão“.

“A incerteza toda que os estudantes vivem ao verem as suas famílias a perder rendimentos e ao verem-se cada vez com mais dificuldade em conseguirem suportar algumas despesas – como por exemplo de alojamento, que é a que todos dizem ter mais dificuldade em suportar, – e ninguém lhes dar uma resposta a essas dificuldades certamente ajudou para o aumento do estado de ansiedade”, diz Marcos Alves Teixeira.

O presidente da FAP aponta a “ausência de respostas” como um dos principais fatores para o agravamento da condição psicológica de muitos estudantes. À agência de notícias Lusa, Marcos Alves Teixeira acrescentou que dos quase 80% de estudantes que sentiram “aumento do estado de ansiedade, depressão ou outro, só 36% é que disseram que tiveram acesso a soluções de ajuda em tempo útil e acessíveis”, e que “64% dos estudantes que precisariam de apoio durante a pandemia” não tiveram “acesso a uma solução rápida e acessível”.

O inquérito da federação foi enviado às 27 associações de estudantes que integram a estrutura, tendo sido respondido por 2.217 estudantes do ensino superior da academia do Porto. Além das questões relativas à saúde mental dos alunos, o inquérito debruçou-se também sobre aspetos como a situação económica das famílias e o ensino à distância.

No que toca à situação económica, Marcos Alves Teixeira destaca a situação em que se encontram os alunos não bolseiros deslocados. “Conseguimos perceber que os estudantes não bolseiros deslocados apresentam uma intenção ou pelo menos dizem que já ponderaram abandonar os estudos no próximo ano. Falamos na ordem dos 18%, que é quase o dobro da média nacional”, ressalva.

Segundo o presidente da FAP, tal fator comprova o que a federação tem vindo a denunciar nos últimos tempos: “quem está fora do sistema [de ação social] tem que passar a estar” dentro. Recorde-se que ainda no início do mês de junho, à data da publicação do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), a FAP considerava que o ensino superior tinha sido “posto completamente de parte” naquele plano. Subsequentemente, Marcos Alves Teixeira foi ouvido, na semana passada, na Assembleia da República, onde falou sobre a necessidade de mais apoios sociais, recursos tecnológicos e alojamento para os estudantes.

Sobre o ensino à distância, o inquérito indica que 27% dos estudantes dizem não ter recursos, ou os recursos que tinham não eram adequados para acompanhar as aulas e participar em momentos de avaliação, como refere a Lusa. A propóstio, Marcos Alves Teixeira sustenta em declarações ao JPN, que “o inquérito permite, por isso, perceber onde estão as maiores fragilidades e de que forma se podem tentar colmatar para evitar que no próximo ano letivo se verifique o abandono escolar ou que as taxas de depressão ou ansiedade continuem em valores tão elevados”.

A academia do Porto conta com um total de cerca de 70 mil estudantes do ensino superior público, privado, concordatário e cooperativo. Sem avançar mais pormenores sobre a composição da amostra, a FAP assegura ao JPN que os resultados do inquérito irão ser publicados no site oficial daquela entidade nos próximos dias.

Artigo editado por Filipa Silva.