Os resultados preliminares do estudo “Efeitos do estado de emergência no Jornalismo”, divulgados esta terça-feira, mostram que 23% dos jornalistas tiveram o salário alterado durante o período do estado de emergência em Portugal. A investigação foi realizada com base num inquérito respondido por 890 jornalistas, 13,3% do total de profissionais registados (6.678) na Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ).

Dos inquiridos, 15,5% viram a sua situação laboral modificada durante o estado de emergência decretado devido à pandemia de COVID-19, sendo que um em cada 10 entrou em lay-off. Entre os jornalistas cuja situação laboral ou salarial se alterou, 74% tem um vencimento abaixo dos mil euros mensais.

No que toca a expetativas relativas ao futuro na profissão, o relatório preliminar avança três conclusões: “aumentou a perceção sobre a probabilidade de perder o emprego a curto prazo; baixou a perceção sobre a probabilidade de encontrar um novo emprego no jornalismo, se se estivesse numa situação de desemprego; aumentou o número de jornalistas que admite a probabilidade de deixar de exercer a profissão a curto ou médio prazo”.

“Se compararmos os dados referentes ao período antes e depois da DEE [Declaração de Estado de Emergência], verifica-se que as respostas sobre as expectativas profissionais dos jornalistas são substancialmente mais negativas em quase todos os parâmetros estudados pelo inquérito. A percentagem dos inquiridos que consideravam a probabilidade de perder o emprego como ‘Muito Alta’ passou de 0,90%, antes da DEE para 11,6% depois da DEE, e como ‘Alta’ de 4,5% para 15,4%”, pode ler-se no estudo.

Recurso à videoconferência aumentou

As rotinas jornalísticas também se alteraram: quase 70% dos inquiridos referiram que a redação deixou de ser o local habitual de trabalho. O contacto com as fontes exigiu que os profissionais tivessem que recorrer a outros meios tecnológicos no período de pandemia e aumentou o número de jornalistas que deixou de sair em reportagem. Segundo o relatório, o telefone continua a ser o meio mais usado pelos jornalistas para contactar as fontes de informação, mas “o recurso a meios telemáticos de comunicação, sobretudo, através de plataformas de videoconferência, como o Skype ou o Zoom aumentou substancialmente durante o período de confinamento”.

Também os temas relacionados com a pandemia de COVID-19 monopolizaram o trabalho dos jornalistas, com “um peso esmagador no conjunto de matérias que os jornalistas inquiridos trataram”, conforme se lê no relatório preliminar. Do total de respondentes, 35,3% atribuem um valor de 75% a trabalhos relacionados com questões relativas à COVID-19 no conjunto de todas as matérias tratadas. Já 26,1% admitem mesmo que esses assuntos assumiram um peso de 100% do total do trabalho desenvolvido.

As questões deontológicas não ficaram de fora do estudo e mais de metade (56,7%) dos jornalistas afirma que a cobertura noticiosa da declaração do estado de emergência colocou “questões deontológicas particulares”, destacando-se o rigor jornalístico como o valor jornalístico que mais foi questionado, reunindo 80% dos inquiridos. Nesse contexto, os jovens até aos 30 anos, os estagiários e os profissionais com menos de dois anos de trabalho situam-se no grupo de “profissionais mais críticos”. “80% dos jornalistas identificam o rigor da informação como a questão ética e deontológica mais sensível na cobertura dos acontecimentos durante o estado de emergência”, refere ainda o relatório.

Realizado sob coordenação do jornalista e professor universitário Carlos Camponez, o estudo envolveu as universidades de Coimbra, de Lisboa e do Minho, em parceria com o Sindicato dos Jornalistas, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista e a Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. Os resultados preliminares foram divulgados durante a conferência online “Jornalismo em teletrabalho – o futuro?”, organizada pela agência de notícias Lusa.

Artigo editado por Filipa Silva.