“Estamos abertos” foi a frase mais ouvida, esta sexta-feira, na apresentação do World of Wine (WOW). Oficialmente, o novo quarteirão cultural e turístico de Vila Nova de Gaia, erguido nas renovadas caves do Vinho do Porto, só vai abrir portas ao público a 31 de julho, mas os promotores quiseram deixar vincado o convite à visita.

Nos antigos armazéns do Choupêlo vão nascer cinco experiências museológicas, nove espaços de restauração, uma Escola de Vinhos, várias lojas e uma ampla praça ao ar livre com vista para o rio Douro e para a cidade do Porto.

O investimento neste projeto, desenhado para uma área de cerca de 30 mil metros quadrados, ronda os 100 milhões de euros, suportados pela casa-mãe do projeto, a Fladgate Partnership (detentora de marcas como a Taylor’s, Croft, Fonseca, o hotel The Yeatman ou Vogue Café). Destes, 58 milhões dizem respeito a financiamento bancário realizado no âmbito de apoios comunitários da área da reabilitação urbana (IFRRU 2020) e do investimento sustentável (JESSICA).

O novo polo turístico, cultural e comercial da cidade de Gaia, que os promotores assumem como o maior do Norte do país, tem como parceiro o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que realizou todo o processo de formação e recrutamento dos 185 trabalhadores que inicialmente vão arrancar com este projeto. Ao todo, a estimativa dos promotores é que o número de postos de trabalho chegue aos 350.

A sessão, que decorreu no Auditório do Serviço de Formação Profissional de Vila Nova de Gaia, contou com a presença de Adrian Bridge, diretor executivo do grupo The Fladgate Partnership, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, e Miguel Cabrita, secretário de Estado Adjunto, do Trabalho e da Formação Profissional.

(Da esq. para a dir.) Eduardo Vítor Rodrigues, Miguel Cabrita e Adrian Bridge. Foto: Paulo Sá Ferreira

Nos renovados armazéns junto ao empedrado da Rua do Choupêlo, e com vista para o hotel The Yeatman, foram criados cinco museus. O primeiro vai contar a história da produção dos vinhos portugueses, da vinha à garrafa, dando a conhecer as castas, os solos, os padrões climáticos e as técnicas de vinificação. O espaço vai contar com o apoio dos 83 parceiros vinícolas do Yeatman.

No museu da moda e do design, uma parceria com Manuel Serrão, da Seletiva Moda, será dada a conhecer esta indústria do norte de Portugal. Já o museu da cortiça, que conta com o apoio do grupo Amorim, dará a conhecer a cultura do sobreiro, da extração da cortiça e suas várias aplicações.

Os visitantes vão ter a oportunidade de visitar o museu da Região do Porto, espaço dedicado à história, ao desenvolvimento e à arquitetura da região desde a sua formação. Um quinto espaço será dedicado à evolução do copo, do cálice e outros recipientes, espólio que é resultado da coleção pessoal de Adrian Bridge, de peças com oito mil anos de história e oriundas de todo o mundo, entre elas da Síria.

Além destes espaços dedicados à memória e ao presente da região, vai funcionar também uma escola de vinhos, nove restaurantes, bares, lojas de artesanato e espaços para exposições temporárias e eventos.

Adrian Bridge reforçou a ideia de que esta intervenção no centro histórico gaiense vai para além dos armazéns do Vinho do Porto, dando como exemplo o investimento na recuperação do bairro da CP na mesma cidade, que servirá de apoio ao alojamento de colaboradores do WOW. “A Fladgate tem investido em Portugal ao longo dos últimos 328 anos. Estamos ansiosos por trabalhar convosco, para criar postos de trabalho de qualidade”, declarou o diretor-executivo do grupo.

Eduardo Vítor Rodrigues destacou a magnitude do projeto e reforçou que apesar das dúvidas iniciais sobre a “intenção deste projeto” – “que iríamos destruir a história do centro”, lembrou – foi dada “uma nova oportunidade, novas funções aos armazéns que estavam devolutos” numa intervenção em que tudo foi preservado “desde os telhados até às pedras dos edifícios”. “Há aqui um conjunto de satélites que estão a aparecer porque existe o World of Wine”, vincou o presidente do município de Gaia.

O novo complexo é, na opinião de Miguel Cabrita, um “investimento significativo” tanto pela dimensão “económica, da reabilitação urbana e pelo potencial de criação de postos de trabalho”. Para o responsável governativo, o projeto em causa “valoriza o património e a tradição de Gaia”, destacando que o vinho “não é apenas uma marca, é uma identidade cultural do Porto, de Gaia, do Douro”.

Foto: Paulo Sá Ferreira

Agradecendo ao IEFP o papel que teve neste projeto, Eduardo Vítor Rodrigues puxou dos galões do Estado numa época que se “questiona o público e o privado”. O edil gaiense acredita no wellfare mix do modelo português, que não é capitalista nem estatista puro e duro, lembrando “aos privados que não é apenas nos maus momentos que se lembra do Estado”.

Inevitável era perceber se as expectativas iniciais de 500 mil turistas iriam ser alteradas. Contundente, Eduardo Vítor Rodrigues assegura que “não vamos ter aviões de estrangeiros, mas vamos ter carros de galegos e portugueses a visitar o Porto e a cidade de Gaia”.

“Temos capacidade de reajustar as necessidades por causa dos efeitos da pandemia”, assegura Adrian Bridge. Para o empresário “Portugal está cheio de joias” por descobrir. A crise “vai passar”, disse, crendo que “daqui a pouco o WOW vai estar cheio de portugueses”. Bridge volta a lembrar que o país e o World of Wine está “aberto”, deixando um desejo: “queremos receber os milhões de pessoas do Norte e de todo o país”.

Artigo editado por Filipa Silva