O dia é igual. A mesma hora, o mesmo banco. Eu não.”

Os versos de Leonor de Almeida (1909-1983), poeta “misteriosa”, quase desconhecida, homenageada este ano pela Feira do Livro do Porto, servem bem à sétima edição do certame. O lugar é o mesmo, mas a feira, que decorre de 28 de agosto a 13 de setembro, será necessariamente “diferente”, como assinalou Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, na apresentação que decorreu esta terça-feira de manhã.

Com uma programação muito feminina, mais espaços, novas normas de segurança, um orçamento reforçado e lotação limitada a 3.500 pessoas em simultâneo, a Feira do Livro do Porto continuará a ter nos Jardins do Palácio de Cristal o seu quartel-general.

Sob o mote “Alegria para o fim do mundo” – pedido de empréstimo ao livro com o mesmo nome de Andreia C. Faria, uma das duas poetas residentes do evento (Inês Lourenço é a outra) -, a Feira do Livro do Porto tem também entre as novidades deste ano os Concertos de Bolso, programados pelos Maus Hábitos.

Duas mulheres homenageadas

Depois de Agustina e Sophia, mais duas escritoras vão ser homenageadas, este ano, pela Feira do Livro do Porto. A começar por Leonor de Almeida. Nascida no Porto, em 1909, pouco se sabe sobre a poeta que Natália Correia decidiu incluir na sua “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”.

Da data de nascimento à profissão, são múltiplas as interrogações sobre a vida e a obra da autora que Cláudia Clemente investiga há vários anos – e disso falou com o JPN em 2018 a propósito de uma edição de “Um Objeto e seus discursos por Semana”.

Este ano, além de dar o seu nome a uma das tílias da Avenida onde serão dispostos os pavilhões da feira, Leonor de Almeida, que publicou quatro livros de poesia, todos esgotados, verá também a sua poesia completa reunida e reeditada pela editora Ponto de Fuga. “Leonor de Almeida – Na Curva dos Cardos do Tempo (Poesia Reunida)” tem apresentação marcada para sábado, 29 de agosto, às 18h00, no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, com a participação de Cláudia Clemente, Vladimiro Nunes, Nuno faria, Ana Luísa Amaral e Ágata Pinho.

E se homenagear Leonor de Almeida é uma oportunidade para a fazer a poeta “renascer” do anonimato em que se encontra, nas palavras de Rui Moreira, já a homenagem a Maria de Sousa (1939-2020) é assinalar simbolicamente a “extraordinária cientista” desaparecida este ano, vítima da Covid-19, que deixa também “um legado na poesia”. Homenagem domingo, 13 de setembro, às 16h00, no Auditório da Biblioteca.

Lições, debates, cinema, concertos

O programa, com dezenas de eventos, foi este ano coordenado por Nuno Faria, diretor do Museu da Cidade.

As Lições, dedicadas a “heroínas da ficção a partir da interpretação e análise de cinco convidadas”, e os Debates, no qual vão participar vários autores e personalidades conhecidos do grande público – como Gonçalo M. Tavares, Patrícia Reis, João Tordo, Clara Ferreira Alves, Sobrinho Simões, Richard Zimler, entre outros – têm a curadoria de Anabela Mota Ribeiro e José Eduardo Agualusa.

No Auditório do SuperBock Arena – Pavilhão Rosa Mota (que se estreia na Feira do Livro) vai ter lugar uma edição especial das Quintas de Leitura, programada por João Gesta. “Senhor, enche o meu quarto de alto mar” (10 de setembro, 22h00) rouba o nome a um verso de Filipa Leal numa sessão que se propõe percorrer “um arco temporal de quase cem anos” para reunir “a voz de 30 poetas, 30 mulheres intensas, relampejantes e insubmissas”.

Comparar preços é a melhor estratégia para conseguir bons negócios.
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Nota ainda para “Certos Outros Sinais” que levará a voz profunda do radialista Fernando Alves a ecoar na Concha Acústica dos Jardins do Palácio para trocar ideias e impressões com Carlos Tê e Germano Silva (3 de setembro), Luísa Pinto e Nuno Camarneiro (4 de setembro) e ainda com Fátima Vieira e Miguel Guedes (5 de setembro).

No cinema, Guilherme Blanc programou uma antologia da norte-americana Lynn Hershman, para descobrir em cinco sessões.

E há também muita música. Não só com os 24 concertos programados pelos Maus Hábitos para o belíssimo Terreiro da Casa do Roseiral – que incluem, como é bom hábito do espaço, diversidade de géneros, com nomes como São Pedro, João Pais Filipe, Keso ou Sunflowers -, mas também com vários concertos da Porta Jazz programados para o Lago dos Cavalinhos e ainda um concerto de encerramento dos pianistas Mário Laginha e Pedro Burmester (13 de setembro, 18h00) no dia de despedida da feira.

Medidas de segurança reforçadas

A Feira do Livro do Porto vai contar este ano com 119 pavilhões, de 80 entidades, entre distribuidores, editoras, livreiros e alfarrabistas. Nos números, o cenário é próximo do que se tem verificado nos anos anteriores. Nas normas, já não será assim.

“Este ano, o ingresso na feira não será franco”, referiu Rui Moreira na apresentação, a propósito das medidas de segurança programadas. No conjunto dos espaços onde decorrem eventos não poderão estar mais do que 3.500 pessoas em simultâneo, pelo que haverá controlo à entrada dos Jardins e dos espaços que acolhem eventos.

Além disso, serão montados circuitos próprios de entrada e de saída, haverá sinalética para orientar a circulação, dispensadores de álcool-gel espalhados pelo recinto, meios de pagamento desmaterializados e luvas descartáveis para manusear livros, explicou o autarca do Porto.

Os vendedores estarão equipados com máscara e viseira, nos eventos em espaço interior será obrigatório o uso de máscara e há distanciamento social previsto quer para os eventos dentro (2 metros entre espectadores) quer para os eventos ao ar-livre (1,5 metros).

“Vai ser uma festa diferente”, concluiu Rui Moreira, que anunciou também um reforço do orçamento do evento, dos 100 mil para os 125 mil euros. O valor refere-se à despesa com a programação e as medidas extraordinárias de segurança e higiene delineadas, não contemplando gastos com mobiliário e estruturas para os stands de venda.

Quando vai ser?
De 28 de Agosto a 13 de setembro

Onde vais ser?
Nos Jardins do Palácio de Cristal, mais concretamente na Avenida das Tílias, Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, Auditório do SuperBock Arena – Pavilhão Rosa Mota, Concha Acústica, Terreiro da Casa do Roseiral, Lago dos Cavalinhos, Terreiro do Restaurante e Ilha.

Quem são os autores homenageados este ano?
Leonor de Almeida, a quem será atribuída uma tília. Maria de Sousa, que faleceu este ano, também será recordada.

O que inclui o programa?
Livros, pois claro. E, à volta deles, lições, debates, conversas, cinema, concertos, oficinas, performances, etc. A programação completa pode ser vista aqui.