É um Porto altamente motivado o que às 19.45, hora de Lisboa, vai entrar em Old Trafford. Vencer no “Teatro dos Sonhos” é uma ambição legítima que seria proeza falada em toda a Europa. Mais de 3500 portugueses vão estar em Inglaterra na esperança de ver vingada a goleada sofrida em 1997, então por 4-0.
Mesmo debaixo de um ambiente tenso, o F. C. Porto tentará, hoje à noite, o apuramento para os quartos de final da Liga dos Campeões.

Show de Mourinho

Mais do que discutir estratégias, a véspera do jogo fica marcada pela acesa troca de palavras entre treinadores de F. C. Porto e Manchester United.
O treinador do Manchester United incendiou o clima do jogo desta noite no final da primeira mão, disputada no Estádio do Dragão, aludindo a teatro de Vítor Baía no lance que ditou a expulsão de Roy Keane. Aquilo a que José Mourinho chamou de “devaneio de quem está de cabeça quente” parece continuar a ser a opinião de Alex Ferguson que volta a apelidar de batoteiros os jogadores do F.C.Porto. O escocês vai mais longe e afirma que não gostou da pressão que o seu homólogo portista colocou na UEFA ao pedir um “bom árbitro”. Na resposta, na habitual conferência de imprensa antes dos jogos europeus, José Mourinho diz que “Ferguson pode pensar que é esperto, mas não pode pensar que somos estúpidos”.
As acusações de Ferguson e da imprensa britânica assemelham-se em tudo às feitas por escoceses por altura da final da Taça UEFA em Maio do ano passado. José Mourinho não crê ser uma questão de cultura, mas sim de resultados: “só se queixam porque perderam”.

O F.C.Porto aparenta descontracção. José Mourinho prefere salientar o enorme prazer que será disputar um jogo maravilhoso, desvalorizando aquilo que o resultado poderá ditar, até porque “o United é favorito”. Quando questionado sobre se o Porto iria a Inglaterra jogar ao ataque, o treinador do Porto respondeu com… “Vítor Baía, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Jorge Costa e Nuno Valente, Costinha, Maniche, Alenitchev, Carlos Alberto, Benni McCarthy e Deco”. Mais explícito não poderia ser, pelo menos a transmitir a ideia de que o Porto não está com medo do United.

O alegado interesse em Paulo Ferreira mereceu também uma reacção curiosa do seu treinador. Pedindo desculpas a Pinto da Costa por se imiscuir nessa matéria, José Mourinho fala de 10 milhões de libras (15 milhões de euros) como o valor mínimo aceitável pelo passe do lateral portista, deixando um recado aos media e aos possíveis interessados: “cada jogador só tem um preço e é o dono do passe que o estabelece”.

A estatística pende para os ingleses

A equipa do Manchester assenta sob um paradoxo já comum em equipas ditas milionárias. A um ataque demolidor opõe-se uma defesa vulnerável agravada com a suspensão de Rio Ferdinand. A estatística ajuda a comprová-lo: a jogar em casa, o Manchester marcou sempre esta época e para a Liga dos Campeões há 16 jogos (cerca de 2 anos) que não perde. No lado inverso temos a prestação defensiva. Desde a suspensão de Ferdinand, o Manchester sofreu sempre golos.

O F.C.Porto parece, no entanto, ter argumentos para contrariar o favoritismo britânico. Os azuis e brancos apresentam uma estatística também bem positiva. Esta época, e já lá vão 36 jogos, os portistas apenas ficaram em branco em um jogo, precisamente no jogo que marcou a única competição que o F. C. Porto perdeu no ano de 2003, com o Milan, para a Supertaça europeia.

O Manchester United atravessa um raro momento de perturbação. A saída de David Beckham ou o rejuvenescimento do plantel parecem não ser alheios a isso. O que é certo é que, a instabilidade do United confunde-se com a de Alex Ferguson. A Inglaterra não se habituou a conhecer Ferguson tão nervoso. Para salvar uma época em que o campeonato parece definitivamente perdido, o Manchester United terá de vencer os azuis e brancos e mesmo isso pode não significar o apuramento. Marcar golos é a palavra de ordem, mas não sofrer é igualmente importante. Isso coloca algumas dúvidas ao treinador britânico. Ou dotar o ataque de igualdade numérica face à defesa portista e lançar o francês Saha, ou reforçar o meio-campo com a revelação escocesa Fletcher. Certo é que na ala direita Ronaldo terá o seu lugar assegurado. A boa prestação do português no último jogo contra o Fulham e a necessidade de travar as subidas dos laterais portistas a isso obrigam.

Nas entrelinhas, percebe-se o medo dos britânicos serem eliminados. José Mourinho apercebeu-se disso e aproveitou o jogo de palavras para passar toda a pressão para o lado do adversário que afinal se trata de uma equipa “milionária”.

Equipas prováveis

Manchester United:
Tim Howard, Phil Neville, Gary Neville, Silvestre, O’Shea, Butt, Scholes, Ronaldo, Giggs, Saha, Van Nistelrooy

F.C.Porto:
Vítor Baía, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Nuno Valente, Costinha, Maniche, Alenitchev, Deco, Carlos Alberto, McCarthy

André Morais
Foto: UEFA