Na apresentação de “Rafael”, a Cooperativa Árvore recebeu personalidades que marcaram a história da luta pela liberdade. Manuel Alegre mostrou-se comovido com a presença de tantos amigos e disse ter saudades dos tempos de meninice passados no Porto.

“Rafael” é o protagonista da última obra do poeta. O nome, disse Manuel Alegre, foi inspirado em “Utopia” de Thomas Moore, uma narração que dá conta de um marinheiro português em Amsterdão, que falava da ilha da utopia. Essa ilha era Portugal. Para o poeta, “a ilha perfeita é a ilha da liberdade que está dentro de cada um de nós”.

Baluarte da luta pela liberdade e ícone da oposição ao fascismo, Manuel Alegre esteve exilado em Argel durante 10 anos, até à queda do regime salazarista. Alegre considera que Rafael é ele próprio e muitos outros. “Todos os que viveram esses tempos, resistiram e lutaram pela liberdade, também foram Rafaéis”.

José Augusto Seabra, amigo de infância e companheiro de exílio de Manuel Alegre, fez a apresentação da obra. “É um livro sobre o exílio, onde encontramos uma transposição do que é vivido para o que é escrito, em que não é possível distinguir o que é real do que é ficção. Verdadeiros poemas em prosa, contam um sonho de liberdade e de regresso à pátria, vivido e escrito com sangue”.

Seabra considera que no livro “há uma lógica poética que permite ao leitor refazer o romance. Lugares e tempos são utópicos. Há uma deslocação do espaço e uma multiplicidade de tempos que se sobrepõem”. A cidade branca pode, na opinião do ensaísta, ser Argel, Coimbra, ou outra qualquer.

Para Miguel Veiga, outro grande companheiro, Manuel Alegre é alguém com um “carácter íntegro, indomável e indomado, cuja voz levou ao desterro, ao exílio, àquele aeroporto branco, numa cidade branca”.

Entre o público que assistiu à apresentação de “Rafael”, destacaram-se as presenças de Augusto Santos Silva, Narciso Miranda, Rui Feijó e Rosa Mota.

Ana Guedes Rodrigues

Teresa Oliveira dos Santos