No dia do livro português, o JornalismoPortoNet serve-lhe o resultado de três conversas com autores ligados à Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Vìtor Oliveira Jorge, Ana Luísa Amaral e Pedro Eiras têm em comum a profissão. Ou melhor… as profissões. Todos ensinam, todos escrevem. E todos têm alguma dificuldade em definir qual das actividades é a “profissão” principal.

Vítor Oliveira Jorge, por exemplo, é professor de Arqueologia e poeta. Diz que aquilo que mais aprecia “é escrever ensaios ou poesia”, mas não sabe se se define “mesmo como poeta… Não é um hobbie, porque isso é impossível. Entranha-se de tal forma que não pode ser só um passatempo. Mas é sempre difícil até assumirmos esta designação, porque pode ser confundido com presunção. Dá-se à palavra poeta um valor excessivo.”

Ana Luísa Amaral é professora de Literatura Inglesa e escreve poesia. O que mais aprecia no ensino é “o contacto com os alunos”. “Odeio corrigir testes e dar notas. Acho que é a parte, para mim, mais complicada.”, diz. E seria possível ter unicamente na poesia a sua ‘carreira’? Só se não implicasse ter prazos. Ter uma profissão exige isso, exige um horário. “E isso significa, traduzido para o outro lado, que a editora, imaginemos, me dizia ‘daqui a um ano tem que entregar um livro’. E ser-me-ia bastante difícil isso, porque era uma espécie de espada que eu tinha sempre pendurada em cima da minha cabeça…” Sendo poesia a matéria que ‘molda’, ainda mais complicado seria estar para a escrita como num emprego. “Acho que a poesia é um bocadinho diferente do romance. Ainda outro dia falava com o Lobo Antunes sobre isto. Ele dizia-me: ‘Que inveja, gostava muito de ser poeta.’ E eu dizia-lhe: ‘Pois olhe, então troquemos galhardetes, porque é uma inveja imensa que eu tenho, entre aspas, do romancista.’ Percebo quando um romancista diz, por exemplo, ‘eu tenho que trabalhar das nove ao meio dia e depois das duas às seis, impor uma disciplina a mim próprio’…”

Entre as ‘funções’ de professor universitário e escritor, Pedro Eiras também não consegue escolher uma só, porque entende que ambas se concretizam em simultâneo. Em seu entender, a verdadeira aula tem de ser uma escrita também. A própria troca de experiências com um aluno “é do âmbito da escrita também. Tem mais a ver com a criação de um ensaio, de uma experiência, de uma tentativa, de um risco, tem mais a ver com isso do que com uma qualquer transmissão. E então subitamente eu volto a perder estas fronteiras entre dar aulas e escrever… ser académico, ser escritor… Mesmo perante mim próprio, não sei se a escrita não é um resultado de um outro processo que não sei descrever muito bem. Eu não sou escritor, eu sou alguém que faz algo, primeiro, a partir do que surge a escrita.”

Para conhecer melhor cada um destes autores, o JornalismoPortoNet disponibiliza-lhe as três conversas tratadas individualmente.