“Eu acho que o teatro é a minha primeira opção de sonho. Mas neste momento a minha primeira opção é tirar o curso de Medicina”. É assim que Sofia Lima, actriz no TUP, se refere ao teatro. O sonho é esse. Mas acabar o curso de Medicina no Instituto de ciências biomédicas Abel Salazar é a prioridade. Todos os dias, depois do curso, das 21 às 24 horas, Sofia vai ao Teatro Universitário do Porto (TUP) encenar a nova peça que estreia em breve. Conciliar o teatro e a faculdade tem sido difícil, mas Sofia é optimista. “Quando as pessoas estão habituadas a fazer muita coisa, conseguem sempre habituar-se a fazer mais uma”, refere.

João Tiago Pimentel está no último ano do curso de Psicologia, na UP. Entrou para o TUP em 1999 e garante que a experiência tem sido enriquecedora. “Trabalhando eu sobre o comportamento humano, o teatro ajuda-me a construir personagens e a perceber melhor as pessoas. Ser psicólogo ajuda-me a ser actor. Ser actor, ajuda-me a ser psicólogo. O teatro é um laboratório, que me ajuda a perceber o funcionamento da pessoa humana”, afirma.

Está no 4.º ano de Ciências da Educação e é o autor da nova peça do TUP. Chama-se Ricardo Pereira e fala com orgulho do teatro da Universidade do Porto. “Para mim o TUP representa uma grande oportunidade, tendo a vantagem de ser grátis. Para quem não quis frequentar um curso de teatro, mas gosta de teatro e paralelamente está a estudar outra coisa, no TUP tem a oportunidade de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Mas o teatro é uma segunda opção, porque eu acho que em Portugal não existe viabilidade para tu de poderes dedicar de uma forma íntegra e ética ao teatro.”, garante.

O que é o TUP?

O TUP foi criado a 13 de Dezembro de 1948 por um grupo de estudantes da Universidade do Porto sob a direcção de um professor de Medicina, Hernâni Monteiro. Na altura, estava integrado no Centro de Estudos Humanísticos, tendo a designação de Teatro Clássico Universitário da Universidade do Porto.

Afirmando-se como uma alternativa no teatro português, o TUP tem mantido uma vertente experimentalista e vanguardista, bem como uma vocação formativa para jovens que estudam na UP. Ao longo de mais de 50 anos de existência, tem feito várias digressões e apresentado peças regulares. Nomes como Manuela Melo, Fernando Martins, António Brandão e António Capelo estiveram ligados ao TUP.

Neste momento, está dividido em dois grupos. Por um lado, aqueles que entraram há dois anos e já fizeram o curso de iniciação. São cerca de 8 pessoas, que preparam agora uma nova peça a estrear no dia 1 de Abril. Vêm de diferentes cursos da UP, como Economia, Direito ou Psicologia. Por outro lado, um grupo de 15 jovens que iniciam agora um curso grátis de iniciação ao teatro que decorre, de segunda a quinta, das 21 às 24 horas. A entrada para esse curso de iniciação é feita por castings.

“O curso de iniciação tem sido muito puxado”, afirma Joana Gusmão, uma das alunas. Joana estuda Português/Inglês na Faculdade de Letras na Universidade do Porto. Entrou para o TUP com um objectivo. “Estou a pensar em fazer o mestrado em Londres sobre Text/Performance Studies. E queria fazer críticas sobre teatro. Para isso, quis aprender mais sobre o teatro”. Mas de acordo com Joana, as pessoas que fazem parte do curso de iniciação tem objectivos muito diferentes. “São pessoas de várias idades, com diferentes perspectivas. Metade dos que estão aqui são licenciados e estão desempregados. Muitos sonham com o teatro”, afirma.

Para Sofia Lima, que já tinha feito o curso de iniciação há dois anos, “o TUP é um grupo histórico, que continua a interessar-se em fazer qualquer coisa que não seja só por fazer”. “Aqui no TUP, conhecem-se pessoas diferentes, que estão em diversos cursos, como Economia, Direito. São ideias diferentes, com projectos diferentes, a encontrar-se numa área comum”, acrescenta.

TUP com novo espaço

A antiga Academia Contemporânea do Espectáculo, na Travessa de Cedofeita, é a nova casa do TUP, que antes estava na Reitoria da UP. O novo espaço era o desejado. “É excelente. A casa é bastante interessante com salas muito amplas e uma acústica muito boa. Está extremamente bastante bem localizada”, refere Ricardo Pereira.


Desejos para o Teatro Português

27 de Março é o Dia Mundial do Teatro. Perguntámos a estes jovens o que desejam do teatro português. “Desejo que cresça cada vez mais e que se aprimore. Que tenha mais experimentalismo. Têm de existir mais cursos e mais iniciativas. Mais apoios. O fundamental é investir-se cada vez mais”, afirma João Tiago. Ricardo Pereira pede que “o teatro seja feito pelo próprio teatro e não pelo protagonismo habitual”. Sofia espera que “as pessoas que o fazem o teatro sejam mais verdadeiras e dadas e que o teatro não seja apenas mais um esquema comercial”. Joana Gusmão quer “que o teatro não seja apenas feito por Ricardo Pais no Porto”.


O que levam do TUP

“O teatro muda as pessoas. Contactamos com pessoas muito diferentes. Fiquei mais extrovertido. O TUP é como uma família, porque nós estamos juntos durante a cena, das 21 às 24, nos ensaios”, refere João Tiago.
“O teatro é o sonho. Mas o sonho às vezes não comanda a vida. O sonho é bom enquanto sonho, que eu vou alimentando e está comigo. Talvez um dia faça alguma coisa”, termina Sofia.

Daniel Vaz