O Visionarium é um museu que se distingue de todos os outros por ser de segunda geração, isto é, um centro de ciência interactivo que “não tem um espólio, uma colecção para apresentar, mas tem um conjunto de conteúdos organizados e ligados às ciências, onde as pessoas podem interagir com eles”, disse em entrevista ao JornalismoPortoNet, Jorge Teixeira, responsável pelo Marketing do Visionarium.

A ideia de construção de um centro de ciência surgiu no final da década de 80 e nasceu “da constatação da falta de apetência dos jovens e da comunidade em geral para esses temas científicos”, afirma Jorge Teixeira. A iniciativa de construção deste centro de ciência parte da Associação Empresarial de Portugal (AEP) que, “numa lógica altruísta e de iniciativa privada, avança para a criação deste centro, que tem uma complementaridade com o ensino escolar ao nível do ensino experimental”, acrescenta.

Em 1998, o Visionarium abriu as portas ao público, em Santa Maria da Feira.

Jorge Teixeira reconhece que Portugal “tem muitas dificuldades a nível científico, ao nível da matemática, da química, da investigação pura, devido a condicionalismos vários”. Certo é que as pessoas têm a ciência como “algo de muito complicado, de inacessível”, pelo que o papel do Visionarium passa por “demonstrar que a ciência está no nosso quotidiano, que há um conjunto de coisas que fazemos no dia-a-dia que está relacionado com ela”, acrescenta o responsável.

Ciência mal amada em Portugal

Jorge Teixeira reconhece que “os portugueses não são grandes frequentadores de museus, de galerias, de centros de ciência” e aponta o dedo às entidades e ao próprio país, que “nunca se preocuparam com a criação de equipamentos desta natureza nem com a sua divulgação, devido à falta de meios e há falta de uma cultura ligada ao ensino não formal”.

O centro de ciência de Santa Maria da Feira está sob alçada da iniciativa privada permitindo, na opinião de Jorge Teixeira, uma “racionalidade económica e um espírito empreendedor”. O Visionarium é “uma empresa que tem de ser gerida com critérios empresariais, com uma lógica de mercado muito forte, com controlo de custos muito elevado e com objectivos de crescimento muito grandes”. Jorge Teixeira faz a comparação desta entidade privada com as entidades públicas e acrescenta que “os museus do Estado acabam por ter uma postura mais passiva porque estão dependentes de um orçamento que todos os anos é o mesmo e que vai caindo”.

A AEP detém 100% do capital do Visionarium, que conta com o apoio de “patrocinadores, mecenato, bilheteira e merchandising”. Neste momento, a associação empresarial está a “renegociar com o governo um protocolo e está à espera de uma resposta positiva”, afirma Jorge Teixeira. “Os recursos do Estado são escassos e o apoio que é dado não é o que precisaríamos”, queixa-se o responsável pelo Marketing do Visionarium.

Se o público português não é muito apreciador de ciência, o mesmo se pode dizer das entidades e empresas: “não existe uma cultura mecenática a nível nacional. São muito poucas as empresas que aderem a estes projectos, apesar de haver um conjunto de benefícios fiscais”, lamenta Jorge Teixeira.

Manter um centro de ciência não sai barato e os recursos existentes não são suficientes, pelo que “cada actividade é submetida a uma análise muito economicista”. Jorge Teixeira afirma que “esta é uma sociedade que tem como objectivo o lucro mas para reinvestimento; por isso, nunca chega a dar lucro”.

Segundo previsões do entrevistado, o próximo Verão não vai ser animador relativamente ao número de visitas: “com o Euro 2004 e o Rock in Rio vai ser um bocadinho complicado para o centro de ciência”. Numa tentativa de adaptação aos interesses dos portugueses, o Visionarium está a “tentar arranjar uma exposição sobre futebol”.

Vânia Cardoso