De 27 a 30 de Abril, o Teatro Carlos Alberto é ponto de encontro de músicos vanguardistas. Do jazz à electrónica, o cruzamento de linguagens.

Com produção do Teatro Nacional São João, as noites do Teatro Carlos Alberto até à próxima sexta vão ter contornos imprevisíveis. Evan Parker, Barry Guy, Paul Lytton, Ellery Eskelin, Andrea Parkins, Jim Black e Akosh Szelevenyi são os nomes mais sonantes de uma iniciativa rara. O “Cross-Talk” traz ao Porto o jazz, a electrónica, a música improvisada e contemporânea, com o experimentalismo como pano de fundo.

O evento arrancou ontem e logo com a actuação da “Electro-Acoustic Ensemble”, numa das raras apresentações na versão integral. Dez músicos subiram a um palco sombrio e composto por uma parafernália de fios e instrumentos. Como pano de fundo, as imagens desafiantes de Kjell Bjorgeengen.

A pouca luz que escapou das sombras sonoras mostrou um centro de palco assente na vertente electrónica. Absortos pela escuridão envolvente aos processamentos e samples, Evan Parker e Barry Guy mergulharam num improviso e concepção musical complexos. Guy mais eufórico nos momentos em que o seu contrabaixo se perdeu nos devaneios técnicos, Parker mais estático, perturbante, no sopro harmoniosamente desafinado do seu saxofone.

electric_ensemble_evan_park.jpgAo longo de cerca de hora e meia, o silêncio que pautou o fim da actuação foi tão ou mais desafiante que o próprio concerto. O jazz encontrou a electrónica numa noite de música de difícil audição, mas de extrema maturidade.

Até sexta, há mais três concertos inseridos neste “Cross-Talk”. Hoje actuam Barry Guy, Paul Lytton e Evan Parker, numa abordagem mais tradicional ao jazz. Ellery Eskelin, Andrea Parkins e Jim Black actuam na quinta, numa dose equilibrada entre composição e improvisação. A iniciativa encerra no dia seguinte, dia 30 de Abril, com Akosh S. Unit. Espera-se um encontro entre o free-jazz e elementos do folclore húngaro e dos Balcãs, sonoridades da Ásia Central, para além da utilização de instrumentos associados à cultura africana.

Germano Oliveira