Os Blind Zero percorreram 10 anos de carreira. Os Xutos revisitaram 25 anos de êxitos.

A noite de Quinta-feira marca o início da recta final da Queima das Fitas do Porto. Como é habitual, a noite foi, até agora, a mais concorrida desta edição, reunindo milhares de almas para ver a maior instituição do rock português. Antes e durante o concerto dos Xutos & Pontapés era complicada qualquer tentativa de circular por entre o mar de gente.

Coube aos Blind Zero abrir a noite de concertos. A banda de Miguel Guedes atravessa um bom momento, cimentada que está a maturação procedida em “A Way to Bleed Your Lover”. A banda continua, no entanto, dividida entre os tiques à Pearl Jam dos primeiros discos e a identidade própria consolidada 10 anos depois da formação do grupo. “No Way, Jose!” abriu o concerto, seguindo-se o rock directo de “Bizarma” e “Trace”.

“You Owe us Blood” arrancaria os primeiros coros no público, bem como a belíssima “The Down Set is Tonight”, sem Jorge Palma, mas igualmente tensa e discreta. Aponte-se a inesperada recuperação de “April Skies” dos Jesus and Mary Chain. Já no encore, ouviram-se o rock sem manhas de “About Now” e a gravidade dramática de “You in your Arms”, com algum desvario sónico inconsequente no final.

O fenómeno dos Xutos

Um concerto dos Xutos é apenas mais um concerto. Mas é, sobretudo, – e essa é a estranheza do fenómeno – um reviver de canções que ultrapassaram já o domínio dos discos e que se entranharam no imaginário colectivo. Que outra coisa pode justificar as mesmas pessoas, os mesmos gestos e as mesmas canções, ao longo de 25 anos? O público não se fartou dos Xutos, nem os Xutos de si próprios – a boa disposição e o prazer de tocar mantêm-se intactos.

Foi um concerto longo – como se lhes exige – em que clássicos como “Maria”, “Enquanto a Noite Cai”, o polémico “Avé Maria”, ou baladas como “Negras como a Noite” e “Circo de Feras”, foram recordados. Os novos temas do disco com edição para breve, como o single “Ai se ele cai”, passaram despercebidos. Os Xutos não têm nada de novo a dizer, mas já não é isso que se lhes pede. Deseja-se apenas que continuem a congregar tanta gente que entoam as suas canções como cantilenas de infância, daquelas que parece que já nasceram connosco. Fizeram-no ontem e vão continuar a fazê-lo.

Pedro Rios