A sexta de Queima era aguardada com bastante curiosidade, plenamente justificada no fim dos concertos. Assistiu-se ao regresso de dois ex-Ornatos Violeta, sentiu-se o carinho enorme do público pelos Lamb e houve tempo para uma revelação surpreendente. Já após a actuação, o grupo britânico revelou na conferência de imprensa que esta é, provavelmente, a sua última digressão e que a banda pode acabar. Não puseram de lado a hipótese de um hiato no lugar do inesperado fim.

Revelações à parte, os Pluto foram o primeiro colectivo a subir ao palco. Peixe e Manuel Cruz tocaram num recinto familiar, onde estiveram enquanto Ornatos em edições passadas da Queima. Inevitavelmente, as comparações com a extinta banda portuense são inevitáveis, não tanto pela música, mas antes por quem a executa. Os Ornatos marcaram uma fase da música nacional, por isso é compreensível o aliar da expectativa de descobrir a nova proposta ao passado de quem toca.

pluto02.jpgA prestação vocal de Cruz é assinalável, o que não constitui surpresa. Novidade foi vê-lo com a guitarra, muito concentrado e um pouco preso à dupla função. O próprio explicou que precisa de entrar no ritmo de concertos, para que a descontracção volte naturalmente. Confessou algum saudosismo de tempos em que pisou os palcos do queimódromo com outras companhias.

Simples na postura e no contacto com o público, os Pluto têm mais que condições para subsistirem enquanto colectivo, independentemente do passado dos músicos que fazem parte da formação. Não é um daqueles casos onde são os nomes a ditar uma aposta das editoras, bem pelo contrário. O concerto centrou-se à volta do disco que a banda está a preparar. Só não tocaram um dos temas que vão fazer parte do futuro lançamento.

Cerca de meia hora após os Pluto saírem do palco, foi a vez dos Lamb proporcionarem outro bom concerto. Louise Rhodes e Andy Barlow regressaram a Portugal e, mais uma vez, foram alvo de uma recepção calorosa. O público vibrou com a abordagem melódica e íntima que os Lamb fazem ao drum’n’bass e à electrónica.

Naturalmente, o momento da noite surgiu ao som de “Gabriel”. Os isqueiros até nem eram assim tantos, mas não faltaram telemóveis a dar um ar vanguardista à velha tradição da “luzinha” da balada. Houve direito a violinos, numa atmosfera musical composta por contra-baixo, piano, samples, bateria e guitarra. O recinto “arrepiou-se”.

De vez em quando, Andy Barlow lá vinha ao microfone gritar uns “wicked” e uns “you’re amazing”. Percebeu-se o prazer dos Lamb em estarem no palco a tocar para uma plateia rendida. Os músicos confessaram-se surpreendidos com o carinho do público.

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Depois de terem sido aplaudidos longamente no fim do concerto, o duo deslocou-se à habitual conferência de imprensa e surgiu então a surpresa. Barlow esclareceu que os Lamb estão a pensar em entrar num período sabático e até talvez em acabar. Justificou-se dizendo que há uma altura em que as bandas não se devem repetir e voltar a fazer o mesmo disco. Louise Rhodes esclareceu que já anda a trabalhar num projecto a solo e Barlow afirmou que deve fazer o mesmo em breve, para além de estar actualmente envolvido no sound design de filmes.

Germano Oliveira
Ana Isabel Pereira