A edição de 2001 do Rock in Rio (RIR), no Brasil, marcou o início de uma aliança inesperada: música e solidariedade. Na última edição, 92 milhões de pessoas em todo o Brasil fizeram um minuto de silêncio de sensibilização. Em Portugal, dia 29, outro momento de silêncio será feito em nome da Paz e de “um Mundo melhor”, o lema do festival.

O objectivo é “conquistar as pessoas, chegar às pessoas com uma mensagem maior”, defende Roberta Medina, directora geral do RIR. A música é um “veículo gerador de alegria, de emoção para chamar a atenção das pessoas para um mundo melhor”.

A directora do evento sustenta que esta dimensão social “não é uma estratégia para aumentar a venda de ingressos”, mas tem noção dos seus benefícios. “As grandes marcas podem beneficiar e, ao mesmo tempo, ajudar quem precisa”, afirma.

O RIR apresenta medidas concretas, para além do objectivo de consciencialização. “Antes de começar o festival, foram doados 250 mil euros para uma instituição que trabalha em 43 países. Mais de 350 crianças terão a educação paga para o resto da vida”, revela Medina. Estes fundos são destinados para a Plan Internacional-Childreach que trabalha com países em vias de desenvolvimento.

A aliança com a SIC Esperança e com a BP rendeu 150 mil euros a cinco instituições portuguesas de solidariedade social. Para além destes valores, de 2 a 5% das receitas com os bilhetes, dependendo das vendas, serão doados a instituições.

Uma estratégia de marketing

A estratégia de marketing do RIR “vai de encontro às tendências actuais do mercado, a responsabilidade social das marcas e dos eventos”, observa Ana Beirão, coordenadora do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM).

As marcas associadas ao evento também beneficiam. Ana Beirão dá o exemplo da BP, uma empresa que procura, associando-se ao slogan “Por um Mundo Melhor”, benefícios para a sua imagem em relação ao ambiente.

O RIR apela também a um público pouco habituado aos outros festivais que, na opinião de Ana Beirão, têm conotações negativas, como a droga e a “irreverência negativa”.

Outros aspectos do marketing do RIR merecem o elogio de Ana Beirão: uma “estratégia bem delineada” para pessoas deficientes e a ligação aos media. “É lógico que eles conseguem uma visibilidade superior por estar a abraçar uma causa social”, diz. Sem essa dimensão, “teriam que ter um orçamento superior” para conseguir a mesma visibilidade. A analista questiona-se: “Porque é que as empresas, sentindo que abraçando causas sociais têm mais visibilidade, não o fazem mais?”.

Pedro Rios