Depois dos atentados de sábado levados a cabo pela organização terrorista Al-Qaeda na Arábia Saudita, o mercado petrolífero reagiu com uma subida dos preços dos barris de crude. Esta escalada nos preços do petróleo é considerada a maior de sempre depois das crises de 1973 e 1979.

No entanto, Milan Rados, especialista em Relações Internacionais e professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), considera que a situação actual não é comparável aos choques petrolíferos de 1973 e 1979. “O que está a acontecer agora é bastante diferente, porque muitos países que são consumidores de energia já têm uma estrutura de abastecimento diferente”. Naquela época, lembra Milan Rados, “o preço do petróleo mais do que duplicou, e agora ainda nem chegou aos 50 por cento acima do normal”. “A situação actual é diferente, e não me parece que possa provocar um novo choque petrolífero ou destruir a economia ocidental”, afirma Milan Rados.

“Hoje em dia, a Rússia é um grande produtor de petróleo, e os Estados Unidos têm as suas reservas”, mas, apesar disso, o Ocidente continua muito dependente das exportações dos países do Médio Oriente, que continuam a ser os maiores produtores mundiais de crude, refere Milan Rados. Para este especialista, um dos motivos dessa grande dependência está relacionado com a gestão que os Estados Unidos fazem do petróleo que produzem: “os americanos põe o petróleo em reserva e não exportam nem o colocam no mercado mundial. No entanto, Milan Rados acredita que essa dependência do Ocidente em relação ao petróleo que chega do Médio Oriente não tem a mesma dimensão que tinha em 1973, “sobretudo no que toca à Europa”.

Anos setenta: dois choques petrolíferos em seis anos

A primeira grande crise económica mundial provocada pelo petróleo aconteceu em 1973, e ficou conhecida por «choque petrolífero». O embargo ao fornecimento de petróleo aos Estados Unidos e à Europa estabelecido em 1973 pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) lançou o caos na economia mundial. A medida foi uma forma de as nações árabes mostrarem o desagrado para com o apoio dos Estados Unidos e da Europa Ocidental à ocupação de territórios palestinianos por Israel durante a guerra do Yom Kipour. Na altura, os preços do petróleo quadriplicaram. A consequência foi uma grave recessão económica.

A dependência do Ocidente em relação ao petróleo do Médio Oriente deve-se, em larga medida, ao facto de países como a Arábia Saudita, Irão, Iraque e Kuwait, que em 1960 criaram a OPEP, possuírem, nessa altura, cerca de dois terços das reservas de petróleo do mundo, tendo por isso a capacidade de controlar o volume de produção e o preço do produto.

O segundo choque petrolífero dá-se em 1979, na sequência da revolução iraniana que leva ao derrube do xá Rheza Pahlevi e à instauração de uma república islâmica no Irão. A crise leva a um corte na produção de petróleo, o que depressa se reflecte nos preços do barril de crude, que sofrem aumentos muito significativos. A baixa na produção de petróleo fez com que o Irão, na altura o segundo maior exportador de petróleo da OPEP depois da Arábia Saudita, fique praticamente fora do mercado.

Ana Correia Costa