Portuense de gema, autor de sucessos como “Momento”, Pedro Abrunhosa olha a cultura da cidade com desdém. Questionado sobre o panorama cultural do Porto, Abrunhosa mostra-se preocupado. Para o músico, “o Porto é uma cidade cinzenta”.

Há 10 anos a população portuense manifestou-se contra a venda do Coliseu. Foi uma das figuras da cultura que mais se destacou nessa manifestação. Como lembra hoje esse dia?

Eu vivi esse dia com tranquilidade mas também com a firmeza necessária. Quando soube que o Coliseu estava vendido, desloquei-me para lá, levei umas algemas no bolso e disse que não saía dali enquanto a venda não fosse anulada. E ali estivemos até às 4 horas da manhã, eu e cerca de 15/20 mil pessoas.

Dez anos depois, o Coliseu assume-se como o “coração cultural” do Porto. Como vê a cultura da cidade nos dias de hoje?

Não vejo! Simplesmente não vejo! Vejo a Casa da Música a abrir numa altura muito problemática da cidade. A cidade esvaziou-se, está morta. E uma cidade morta é uma cidade que não se pode afirmar em nenhum prisma, nem político, nem social e nem cultural. Vejo isto como o degradar das sucessivas políticas que foram feitas e a culminar agora com a política deste senhor que está à frente da Câmara.

Se a situação de há dez se repetisse hoje, temia pela sobrevivência do Coliseu?

Não sei se o senhor Rui Rio teria a mesma sensibilidade demonstrada pelo sr Fernando Gomes. Na minha opinião, daquilo que conheço da sensibilidade cultural do senhor Rui Rio, o que eu acho é que ele é como um hipopótamo numa loja de louças. Portanto, estou seguro de que para ele o Coliseu teria tanta importância quanto uma pedra na calçada. Não creio que ele mexesse um dedo para que o processo fosse revertido.

A cidade não tem actualmente a mesma força cultural?

De maneira nenhuma. Hoje o Porto é uma cidade cinzenta.

Andreia Barbosa