“Os portugueses não merecem este festival porque não o vão ver”. A opinião é de José Maria Contel, um “habitué” do Fantasporto desde 1995. Jornalista e fotógrafo em Barcelona, percorre festivais em busca de fotografias de personalidades do cinema. Este ano expôs no Fantasporto alguns dos seus trabalhos e percorreu as salas do Rivoli de máquina fotográfica em riste.

Contel compara o “Fantas” com outros festivais e fala da organização como uma “esquerda cultural”, preocupada com a promoção da cultura. “O ‘Fantas’ é um bom festival e um ponto de cultura para o Porto. A fantasia tem sido maltratada pelos meios de comunicação, como se fosse um género menor, mas o Porto oferece a possibilidade de ver o cinema fantástico e novos realizadores”, acrescenta. No entanto, aponta algumas críticas ao público. “Os portugueses não merecem este festival porque não o vão ver. Tem havido algumas lotações esgotadas mas as pessoas deviam estar cá todos os dias. Falta público, falta entusiasmo”.

José Maria Contel conhece grande parte dos realizadores e jornalistas presentes no “Fantas”. Esta familiaridade acontece devido a vários encontros neste e noutros festivais. “Comecei a ir a muitos festivais e foi no Festival de Sitges que me tornei amigo do Mário Dorminsky e da Beatriz Pacheco Pereira”, afirma o jornalista. Relativamente ao ambiente do Fantasporto deste ano, Contel diz: “Este ano foi um festival especial, vieram mais convidados e gente que ao longo dos 25 anos tem estado presente num ou noutro momento no Fantasporto. Este é um festival que permite que as pessoas se conheçam”.

A celebração dos 25 anos do festival acabou por criar alguns problemas, na opinião do fotógrafo. “Este ano não foi apenas outro ano – foi o ano das bodas de prata. 25 anos é um número importante em termos culturais. Parece-me que se interessaram mais com a celebração do que com o próprio festival. Os filmes foram tapados por tudo o resto como, por exemplo, John Hurt, que interessava muito aos média”, declara.

A relação com o cinema

A história de José Maria Contel no cinema começa com a tradicional premissa “Era um menino pobre num tempo pobre”. É o próprio quem continua: “Só tínhamos o cinema, não havia televisão, só rádio. Por isso, as imagens do cinema eram a única história que podíamos ver. O cinema sempre me fascinou. Comecei a estudar cinema, mas concluí que me interessava mais por estudar a história do que por realizar filmes. Acabei na imprensa e apliquei-me a tirar fotografias de cinema”.

No hall do pequeno anfiteatro do Rivoli estiveram as fotografias do “fotógrafo del cine”, epíteto que uma televisão galega lhe atribuiu. “Há alguns anos, quando vim pela primeira vez ao Fantasporto expôr, muitas pessoas acharam as minhas fotos pouco glamorosas e muito realistas porque mostravam o estado de cada pessoa num momento. A imagem condensa um instante. Interessa-me o aspecto humano que pode transmitir uma foto”, explica.

Carina Branco
João Pedro Barros