Há muitos “homens sem sono” no “Fantas”. Entre eles contam-se os dois responsáveis pelo gabinete de comunicação do Fantasporto: César Nóbrega e Ricardo Clara. Em média, contam ter dormido “três a quatro horas por dia”. Tudo porque quase todas as manhãs realizavam-se conferências de imprensa e era preciso ter tudo a postos. Mas também à noite o espírito do “Fantas” não os deixava ir para casa tão cedo, porque era comum que se juntassem, à conversa, convidados, colaboradores e outros profissionais ligados ao festival de cinema fantástico do Porto. No fundo, é aquilo a que César e Ricardo chama de “mística do Fantasporto”.

César Nóbrega diz que não foi ele que escolheu o “Fantas”, mas sim o “Fantas” que o escolheu. A trabalhar no jornalismo há doze anos, César acabou por ser “recrutado” por Mário Dorminsky quando fazia a cobertura jornalística de uma edição do festival. O director do Fantasporto gostava do trabalho de Nóbrega e convidou-o. Na organização do “Fantas”, durante o ano, o seu trabalho é quase de assessoria a Dorminsky, especialmente na área das relações com a imprensa. Enquanto dura o festival a equipa alarga-se, sob supervisão de um dos três directores do festival, António Reis. Para além disso, César continua a trabalhar na Rádio Nova.

Ricardo Clara é estudante de Direito da Universidade Católica, no Porto. Durante o período do festival confessa que “não põe os pés nas aulas”. Ricardo colabora há cinco anos com o “Fantas”, na área de comunicação social, dedicando-se especificamente à recepção dos jornalistas. “A equipa já se conhece há muito tempo”, sublinha, “pelo que “funciona tudo muito bem”. E os voluntários que entraram este ano “adaptaram-se bem”.

Para além do trabalho de comunicação, César e Ricardo também fazem selecção de filmes, auxiliando os directores Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira. “Para este ano vi 120 curtas metragens, 37 filmes indianos e 25 filmes já seleccionados”, afirma Ricardo Clara, que teve a tarefa de selecção pela primeira vez este ano. Já César Nóbrega relembra que há 2 anos viu 320 curta, um número “suficiente para esgotar o stock de Prozac”.

Mas nem tudo é perfeito no “reino” do Fantasporto. Ricardo admite que “há erros, mas são pormenores internos”. César Nóbrega reforça essa ideia, explicando que “se ninguém der conta de que algo correu mal, então nada correu mal”. Sobram no entanto críticas aos jornalistas. “Não há jornalismo cultural. Todos os jornalistas acham que são críticos”, aponta César Nóbrega. Ricardo Clara acrescenta ainda que “a maioria dos jornalistas portugueses confundem cinema fantástico com terror”.

“O principal objectivo do Fantas é ter público”, refere César, que visita festivais estrangeiros, “para perceber como eles funcionam e importar e trocar modelos. “Os festivais devem servir para passar filmes que nunca mais se podem ver”, aponta, lembrando que o Fantasporto deu destaque “ao cinema asiático”, até então desconhecido do grande público, ou a David Lynch, “quando ninguém o conhecia”. O importante para um filme ser seleccionado para o “Fantas” é “ser fantástico, apelativo, bem feito”, diz César Nóbrega.

João Pedro Barros
Carina Branco