Para quando a reabilitação da “rua das galerias”? Esta é a pergunta que colocam os galeristas da Rua Miguel Bombarda, no Porto, dados os adiamentos sucessivos do projecto que cortaria parcialmente o trânsito. “Isto já foi prometido há quatro ou cinco anos, mas o projecto vai-se mantendo na gaveta. Os políticos vão passando, prometem e não cumprem. A câmara não está nada sensível à cultura. Nem os próprios políticos vêm às galerias. É um marasmo completo”, disse ao JPN Fernando Santos, presidente da Associação das Galerias de Arte Contemporânea do Norte de Portugal e mentor do projecto.

Fernando Santos aponta várias críticas ao poder local: “Os autarcas nunca tiraram partido da importância das nossas galerias. Esta rua é um centro de artes único no país. É uma mais-valia para a cidade.”

“Eu não estou a pedir nada para mim. Só quero que se embeleze a rua, que não tem grandes condições, é suja, e tem viaturas em cima dos passeios por ser muito estreita. Este embelezamento poderá atrair mais público porque surgem as esplanadas e as pessoas podem mais facilmente circular”, sugere.

Segundo notícia avançada pelo “O Primeiro de Janeiro”, a reabilitação da Miguel Bombarda pode começar este verão. No entanto, o vereador do Urbanismo, Paulo Morais, escusou-se a confirmar ao JPN o arranque da reabilitação. O projecto, criado há seis anos, pretende cortar parcialmente o trânsito no local.
A rua das galerias seria pedonal apenas a partir do cruzamento da Casais Monteiro com a Miguel Bombarda em direcção à Torre da Marca. No quarteirão seriam instalados mupis e papeleiras e o chão será pintado pelo artista portuense Ângelo de Sousa.

“Cartão de visita da cidade”

De um lado e do outro da rua as galerias sucedem-se. “Graça Brandão”, “Quadrado Azul”, “Presença”, “Electra”, “Fernando Santos”, “Por Amor à Arte” ou “André Viana” dão nome aos diferentes espaços artísticos. Joel Martins, funcionário da Galeria Electra, afirma ao JPN que a rua ”deve ser um cartão de visita para a cidade. É a única rua no país com várias galerias. A sua reabilitação vai animá-la, atrair mais gente e melhorar o seu aspecto visual”.

Alguns passos adiante, está a Galeria Presença. Ira Palmieri recebe os visitantes e admite que quem mais se queixa são os moradores do Porto. “Estão acostumados a circular pela cidade e percebem o quão caótica é a Miguel Bombarda, sobretudo quando as galerias têm montagens e desmontagens de exposições, com grandes camiões que páram o trânsito”, diz.

Inês Portugal, funcionária da Galeria Graça Brandão, também apoia o projecto: “Normalmente há uma afluência muito grande no dia das inaugurações e não há espaços para estacionar, a rua fica um caos. Se fosse uma rua pedonal, as pessoas andariam muito mais à vontade”.

De olhar atento nas telas está Fernando Bastos, um frequentador assíduo das galerias. “As galerias já mereciam este projecto pela sua importância na cidade e por poderem revitalizar o comércio de arte no Porto”, considera. O visitante não vê o corte do tráfego como um problema porque pensa que a partir do momento em que as obras do túnel na Rua D.Manuel II acabem a rua deixará de fazer sentido para a circulação rodoviária.

Carina Branco