Como é que o público portuense está a receber a Rainha do Ferro Velho?

Está a correr muito bem. Estamos a fazer espectáculos de terça a domingo e, como das últimas vezes que cá viemos só fazíamos espectáculos ao fim-de-semana, estávamos com um bocado de receio da terça, da quarta e da quinta, mas temos tido sempre casa cheia.

O público do Porto é muito diferente do de Lisboa?

São diferentes na forma de se expressarem. [O público do Porto] É muito mais espontâneo. Em Lisboa podem gostar muito, mas não são muito efusivos. Aqui não. Também se não gostam dizem, mas geralmente são muito intensos na forma como nos abordam. Dão-nos muito carinho e isso é extraordinário.

A Maria João já conhece bem o Teatro Sá da Bandeira, mas como é que é fazer a “Rainha do Ferro Velho” num palco com tanta história?

Ainda ontem dizia aos meus colegas que, apesar de em Lisboa o cenário ser mais deslumbrante, gosto mais de fazer a peça aqui. Tem um tom mais intimista. Mesmo as pessoas que viram em Lisboa e viram aqui, gostam mais de ver o espectáculo aqui. Acho que lá, quando abria o pano as pessoas ficavam um pouco deslumbradas com o cenário e perdiam um bocado o texto inicial, aqui não. Ficam logo agarradas ao texto e à história.
Aqui é tudo muito mais intimista. Eu só de entrar neste camarim e saber que grandes actores e actrizes já se miraram nestes espelhos é uma carga muito grande! É quase de ficar de cabelos em pé!

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Acha que o sucesso desta peça poderá ser um bom prenúncio para os jovens actores portugueses?

Penso que sim. É um incentivo. Aliás, penso que os jovens actores têm mesmo que se dedicar ao teatro, porque os exemplos da televisão não são nada abonatórios…
A nossa televisão está cada vez pior, um bocadinho à semelhança do que se passa em todo o mundo, só que nos outros países existem alternativas e nós aqui não as temos. Estamos a viver um panorama televisivo que estupidifica as pessoas.

Vêm muitas crianças ao teatro?

Sim, felizmente! Eu acho que o teatro é um bom exemplo. Acho que o teatro, para quem faz e também para quem vê, é acima de tudo uma grande terapia. Eu já curei uma depressão com uma peça de teatro, com um elenco de 18 pessoas, que eu conhecia só quatro ou cinco… Consegui curar uma depressão pós-parto com quatro anos dessa peça. E acho que isto aqui já diz muito.
O teatro desperta a consciência das pessoas, acho que nos torna melhores seres humanos, faz-nos reflectir. Mesmo quando se trata de teatro puro, de divertimento e de entretenimento, tira-nos um bocadinho o “stress” do dia a dia. No caso desta peça, que tem uma mensagem, que tem um texto um bocadinho mais forte, desperta-se essa consciência de que é importante que o ser humano esteja atento para a razão e para tudo…

Quer deixar algum convite para que mais pessoas venham “despertar a consciência” com esta peça?

Este texto foi escrito nos anos 40 e cada vez está mais actual. É um texto onde a brincar se dizem verdades e chega até a ser um bocadinho cruel. Aliás, há pessoas que dizem que nem estão nada à espera porque o primeiro acto é uma coisa e no segundo tudo isto dá uma volta e é um “soco no estômago”.
Isto é uma imagem fiel do que se está a passar no mundo, dos subornos, da corrupção e do dinheiro…

Diana Fontes
Hugo Manuel Correia