O bispo de Díli, D. Alberto Ricardo, diz que a manifestação de hoje se tratou de “um protesto em massa contra o regime anti-democrático imposto pelo governo”. A manifestação pacífica que teve lugar hoje juntou cerca de duas mil pessoas, protestantes e católicas, às portas do Palácio do Governo. Esta iniciativa visou tomar uma posição contra o Executivo de Mari Alkatiri, em especial na questão do plano pedagógico, que coloca a disciplina de Religião e Moral como facultativa. Recorde-se que as preferências religiosas em Timor-Leste abarcam, não só o Catolicismo, mas também o Protestantismo e o Islamismo.

“A ordem do primeiro-ministro para deter os manifestantes é um ataque aos direitos humanos e viola a Constituição. Uma ditadura está a começar em Timor-Leste”, afirma o bispo, referindo-se à alegada detenção de alguns manifestantes à entrada da capital timorense. No entanto, segundo noticiou a agência Lusa, os cerca de 200 manifestantes não terão sido detidos, mas retidos em Tibar, a 10 quilómetros a oeste da capital e terão já sido autorizados a entrar em Díli, tendo-se concentrado na igreja de Motael.

O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, alegou já que a manifestação “não ajuda em nada a criação de condições para o diálogo” e esclareceu que a actuação da policia decorreu segundo os procedimentos normais, enquanto que o presidente Xanana Gusmão “está a acompanhar a situação, mas não se vai pronunciar”, como revelou o seu porta-voz, Agio Pereira.

“Manifestações não resolvem o problema”

A embaixadora de Timor-Leste em Portugal, Pascoela Barreto, espera que os protestos não prejudiquem a reunião dos doadores, a realizar na próxima semana, e apela ao diálogo entre a igreja e o governo timorense. “Nenhum timorense deseja que a situação em Timor possa correr de uma forma que possa dar a entender aos doadores que há grandes problemas”, disse ao JPN.

Pascoela Barreto afirma não encontrar justificação para o descontentamento: “o governo está a pagar a mais de mil professores da Igreja Católica, portanto, tem havido sempre cooperação entre a igreja e o governo”, lembra a embaixadora. Pascoela Barreto lança o repto: “tem que haver bom senso dos dois lados, as manifestações não resolvem o problema”.

Daniel Brandão