O ruído do comboio que anuncia a chegada contrasta com o silêncio envolvente. As montanhas abandonadas, a secura de mais um verão em Foz Côa e o destino que se desenha no horizonte. Freixo de Numão, um apeadeiro perdido nas serras que recebe, que se abre à descoberta.

O sítio de Castelo Velho domina uma ampla região que se desenvolve a leste e que alcança, no último horizonte, a serra da Marofa e um troço da planura da Meseta norte.

Uma paisagem levada a cena pela objectiva de Catarina Alves Costa que realizou um documentário sobre as escavações arqueológicas no local, encomendado pelo IPPAR em 2001. Três anos de filmagens que culminaram em “Sítio do Castelo Velho”, apresentado ontem, terça-feira, na FLUP perante uma palteia de arqueólogos. A realizadora afirma ter partido “do ponto de vista de uma pessoa que não é arqueóloga, que anda à descoberta”.

O documentário retrata essa mesma busca, numa sucessão de planos que apresentam corpos prostrados em volta de uma pedra, investigadores procurando um enquadramento para as construções que se revelam. “Fascinou-me a constante interrogação sobre os materiais que iam aparecendo, a abertura a várias hipóteses”, diz a relizadora.

Encerrado entre serras e vales, o sítio do Castelo Velho, como explica Susana Oliveira Jorge, responsável do departamento de Arqueologia da FLUP. “Era há cinco mil anos atrás um local cheio de vida”. Quando, em 1989, chegam ao local os primeiros técnicos para investigar “um monte de pedras todo destruído”, como recorda a investigadora, estariam longe de imaginar os quinze anos de trabalho intensivo plenos de interrogações que se seguiriam.

“Isto continua a ser uma incógnita. Certamente este não era um local de habitação”, explica Susana Oliveira Jorge. De castelo fortificado a lugar monumento, estas ruínas arqueológias já poderiam ter sido quase tudo.

Por entre o documentário perpassa, essencialmente, essa interrogação constante acerca do que dia após dia ia surgindo, fruto de horas em volta de um pedaço de pedra imaterializado. Estranhamente, Catarina Alves da Costa cria um ambiente intimista, entre o homem e a pedra, uma relação de descoberta num fosso temporal de cinco mil anos.

“A mim interessam-me mais as pessoas que as pedras. Interessa-me a intervenção humana sobre o sítio”, confessa a realizadora de “O Sítio do Castelo Velho”.

Por entre pedras e interrogações, nasce a hipótese de estas ruínas redescobertas poderem ter sido um lugar comunitário, um posto aberto à confraternização.

Com o fim definitivo das escavações prepara-se, agora, a museificação do local.

Entretanto, o documentário termina. Já sem o ruído do comboio que se aproxima, mas antes com o som suave do helicóptero que sobrevoa o local das escavações

Ao longe, os pequenos amontodos de pedrinhas tornam-se indecifráveis no meio da imponência das montanhas. “É o fim do Verão. É aquela nostalgia de algo que acabou. É a despedida”, conclui Catarina Alves Costa.

Mariana Teixeira Santos