“Tem a ver com as diferentes posturas em relação à vida. A parte do conformismo, o deixa lá não interessa, o não fazer perguntas… e depois uma personagem tipifica aquele tipo de pessoas que pensa que a felicidade é arranjar um cantinho e o que eu pretendo mostrar é que a felicidade normalmente encolhe as pessoas e por isso tem que ser alargada”. É desta forma que a encenadora e autora do texto, Lara Morgado, caracteriza a peça “Um quarto de vida”.

A peça passa-se num quarto, que pretende retratar mais um espaço psicológico do que físico. “É a noção de aperto. Nós estamos num sítio que não nos chega. É uma analogia com o mundo. Além do mais, o espaço é mais interior do que das paredes”, afirma Lara Morgado. Com “Um quarto de vida”, a encenadora pretende passar a mensagem que “quando se tem frio, mais vale correr do que pôr um cobertor por cima, que nos devemos calar para nos ouvir falar e ouvirmos as coisas que temos cá dentro. Não nos devemos conformar só porque os outros dizem que sim”.

Quando as personagens chegam ao quarto têm que escolher uma tarefa determinada e é-lhes dada uma solução para ser feliz. “Fazer o que se gosta, encontrar alguém especial, ter um canto para ficar”, eis a receita. As personagens têm que viver numa espécie de sonambulismo. Não podem fazer perguntas, nem podem pensar sobre a vida, porque, tal como diz Eva, uma das personagens, “pensar sobre a vida mata-nos”. A felicidade é vista como uma meta ideal e quem não a pretende alcançar, é excluído. As imposições sociais fazem com que quem é diferente se sinta deprimido.

“Prefiro a ficção à realidade”

Lara Morgado é licenciada em psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Resolveu enveredar pelo teatro porque estava desempregada e porque gosta mais “da ficção do que da realidade”, que lhe faz um “pouco de confusão”.

Fundou o grupo teatral X-Acto há cerca de cinco anos. O grupo conta com a participação de estudantes de Psicologia, de alunos de outras faculdades e também de pessoas que já terminaram a sua licenciatura. Todos os anos é apresentada uma peça no Teatro do Campo Alegre. O reconhecimento do público tem sido crescente. Se nas primeiras três peças, quem estava na assistência eram principalmente os familiares dos actores, a partir da quarta, o panorama mudou.

“Um quarto de vida” é já a quinta peça de teatro escrita pela encenadora. Para escrevê-las, Lara diz basear-se nela e na vida. Uma das personagens de “Um quarto de vida” pretende aliás tipificar a situação profissional da autora. Uma das habitantes do “quarto” está desempregada, tal como Lara estava antes de enveredar pelo teatro.

Andreia Ferreira