O perigo do cancro da próstata começa a rondar por volta dos 50 anos, altura em que o rastreio se torna essencial. “Desde o aparecimento, nos anos 80, do PSA, que é uma simples análise ao sangue, que aumentaram as possibilidades de cura”, explica ao JPN Estevão Lima, urologista do Hospital Geral de Santo António, no Porto. Hoje é dia da Próstata.

A realização de um acto essencial como o rastreio não pode esperar pelas manifestações da doença, até porque elas só existem numa fase muito tardia. “O cancro da próstata não tem sintomas. Só se manifesta em fases muito tardias, nomeadamente por dores ósseas. Assim sendo, só com rastreios, especialmente, através de realização do PSA anual e do toque rectal, é que podemos diagnosticar cancro da próstata”, adianta o especialista do Santo António.

Geografia de uma doença

Este dia constitui um alerta importante já que muitas vezes a doença progride silenciosamente. O primeiro passo é compreender importância dos meios de rastreio. É nos países mais desenvolvidos, nomeadamente na Europa e nos EUA, que ele se manifesta de forma mais expressiva. Contudo, não há certezas quanto aos factores que conduzem a esta situação.

“Provavelmente existe algum factor ambiental que provoque o cancro da próstata, mas não há certezas. A verdade é que a incidência no Japão é muito mais reduzida que nos restantes países desenvolvidos, mas sabemos também que qualquer japonês que vá para os EUA e adquira os hábitos alimentares americanos passa a ter as mesmas hipóteses de contrair cancro da próstata que um americano”, diz Estevão Lima.

Este caso prático faz com que os especialistas levantem possíveis hipóteses para a incidência da doença. Factores como a ingestão de gorduras, o reduzido consumo de verduras e anti-oxidantes parecem ser elementos a ter em conta quando falamos desta doença.

Estes mesmo factores poderão ser a explicação para o facto de haver menos homens no sul da Europa a padecer da doença do que no norte. A dieta mediterrânica e o sol parecem ser factores positivos quando falamos de cancro da próstata. “O sol é maléfico para a pele mas, por outro lado, pensa-se que é benéfico para o cancro da mama e da próstata”, afirna Estevão Lima.

Portas abertas para a cura

Quanto ao tratamento deste tipo de cranco, o urologista diz que “há várias opções, mas a que está devidamente provada é a prostectomia radical”. Estevão Lima descreve o processo: “Retira-se toda a próstata. Se o tumor estiver confinado à próstata, se o doente a retirar fica curado”.

No entanto, hoje em dia há alternativas que não passam pela cirurgia que, “apesar de não estarem devidamente provadas, são uma hipótese válida. É o caso da radioterapia ou da braquiterapia, que consiste na colocação de sementes intraprostáticas”, adianta.

Apesar das reflexões em torno da doença e das várias perspectivas de cura, a componente genética do cancro do tumor é um factor de extrema importância. “Cerca de 10% dos cancros da próstata têm uma componente hereditária. Sempre que existe uma história familiar pesada, onde o pai e o irmão ou o avô já tiverem morrido da doença, o rastreio que se deveria iniciar aos cinquenta anos, deve iniciar-se aos quarenta”.

Em todo o mundo, o cancro da próstata é o cancro com mais prevalência na população masculina e o segundo mais mortal, a seguir ao cancro do pulmão. Ainda não há números da realidade portuguesa, mas Estevão Lima adianta que vai ser divulgado em Junho um estudo sobre a dimensão da doença a nível nacional.

Mariana Teixeira Santos
Foto: Braquiplan