Disse uma vez ao JPN que “Portugal é um país periférico na investigação científica”. Continua a ter essa ideia?

Não é só na investigação científica. Portugal é um país pobre, periférico e injusto. Mais do que na investigação, isso nota-se quando a gente cospe na rua, os bilhetes da TAP Porto-Lisboa custam 53 contos, os autarcas fazem milhares de rotundas em todo o país… Isso é que é pobreza e periferia – mais do que na ciência…
Agora, é verdade que em ciência também somos periféricos, mas somos menos porque já somos mais internacionais e isto graças ao ministro Mariano Gago.

Disse também que a investigação irá continuar dependente das universidades e de incentivos governamentais…
Por um lado. Mas sou muito a favor que esses incentivos sejam sempre em “matching funds” . Ou seja, nós próprios temos que arranjar o nosso próprio dinheiro.

Acredita que o regresso de Mariano Gago e a campanha do “Choque Tecnológico” vão contribuir para a evolução da investigação?

A investigação vai ganhar seguramente. Mas o problema da investigação em Portugal passa muito pela retaguarda e pela existência de instituições. Nesta altura, a retaguarda e as instituições são sobretudo as universidades.
Portanto, onde o desafio se põe ao ministro Mariano Gago não é nas instituições [científicas], mas nas universidades. Se ele conseguir que as universidades assumam a investigação científica como uma das suas actividades fundamentais, tenho a certeza que as nossas instituições vão ser fluorescentes. Se as universidades não se desenvolverem, as nossas instituições não se aguentam.

O que é que falta fazer para impedir a fuga das mentes mais brilhantes do país para o estrangeiro, o fenómeno do “brain drain”?

Ter instituições fortes. Acho que esse é o grande problema. Se tivermos instituições fortes e credíveis, os “miúdos” muito bons que temos lá fora têm segurança para vir para Portugal. Portanto, a nossa principal dificuldade na atracção de gente nova de qualidade é o facto de termos muito poucas instituições científicas sólidas e credíveis. Se o IPATIMUP, o IBMC e o INEB, e se as universidades se desenvolverem, conseguiremos atrair, não tenho dúvida nenhuma.

Hugo Manuel Correia
Foto: Liliana Rocha Dias