A faculdade tem origem num curso de instrutores de educação física, em 1964. Só em 1975 é que foi integrada da Universidade do Porto, e em 1989 nasce a Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física. Como é que analisa este percurso? O que é que já está feito e o que é que falta fazer?

Aquilo que fizemos nestes últimos 30 anos é algo que avaliamos como muito positivo, relativamente àquilo que conhecemos das outras universidades e mesmo em relação à Universidade do Porto. Somos uma escola que veio de um quadro completamente estranho à Universidade – à atitude e à vivência universitária –, mas que em poucos anos conseguiu cumprir a sua integração e assumir uma atitude claramente universitária, voltada para o ensino, para a investigação e para os problemas da UP. Fazer isso em tão pouco tempo permite-nos olhar para trás e fazer uma avaliação muito positiva.
Começámos com zero doutorados, hoje temos 44 doutores, portanto temos um corpo docente altamente qualificado. Temos também agora sete programas de mestrado, dois cursos de doutorado e dois programas de mestrados europeus. Temos cerca 250 estudantes estrangeiros que estão a maioria deles em programas de pós graduação, oriundos do Brasil e dos PALOP, mas também integrados nos progrmas Sócrates e Erasmus. Analisando de onde viemos e até onde chegamos hoje, podemos fazer um blanço bastante favorável.

E o que é falta fazer?

O que falta fazer passa, essencialmente, pela investigação. O futuro reserva-nos, obviamente, um espaço importante para o investimento nesta área. Investigação não é apenas aquela que é tradicionalmente realizada nos laboratórios. Passa também pela introdução de uma cultura científica aqui na faculdade, que permita aos estudantes da formação inicial e aos estudantes da formação pós-graduada terem uma participação cada vez mais activa e sistemática na actividade de investigação da escola. É por aí que passa uma boa parte do nosso esforço nos próximos anos, sem descurarmos, naturalmente, o ensino.

A aposta na vertente da investigação surge como uma resposta à cada vez maior dificuldade dos alunos de desporto, que normalmente vêem o ensino como a saída profissional principal, têm para encontrar trabalho?

Não, não é. Contrariamente àquilo que se possa pensar, os profissionais da nossa área não têm um futuro crítico à nossa frente. O corpo é hoje um valor afirmado nas sociedades contemporâneas e, portanto, não perdemos influência. O que acontece é que as novas profissões (as velhas profissões têm a ver com o ensino do desporto nas escolas) ainda se estão a estruturar. Há um vazio de regulamentação de carreira e não há ainda uma base para institucionalizar essas profissões. É por isso que estamos momentâneamente num momento de crise que faz com que os estudantes de desporto tenham maiores diculdades. Mas, de facto, hoje os nossos estudante estão a intervir noutros domínios que não correspondem às profissões tradicionais. Ainda ontem estive num clínica que trata especificamente de problemas da coluna vertebral e dois dos técnicos que apoiavam os programas de cooperação nessa clínica eram pessoas com uma licenciatura nesta escola, que depois complementaram a sua formação para esse domínio da melhoria da qualidade de vida e da saúde.

Como é que vê o futuro para a FCDEF e para os alunos desta faculdade?

Temos razões para estar optimistas, apesar das difuldades que as universidades portuguesas hoje têm. Os estudantes que passam por esta casa seguramente terão algumas razões de queixa, mas penso que, no fundamental, eles sentir-se-ão felizes e orgulhosos por terem estado nesta casa.

Mas qual é a taxa de sucesso de inserção no mercado de trabalho?

Esses estudos não estão feitos e acreditamos que hoje há uma crise a esse nível. Até há poucos anos atrás, as garantias de emprego eram completas, no ensino, mas hoje o ensino está numa fase já não tão aberta. Mas como lhe dizia, os estudantes desta faculdade sentem de facto muito orgulho de estarem aqui, não apenas porque ela é muito bem vista exteriormente, mas também porque tem uma cultura de exigência muito grande.
É uma escola que cria um ambiente propício ao trabalho e essa é a razão fundamental do êxito desta faculdade. Tanto os estudantes como os docentes vestem a camisola, têm o prazer de ver o reconhecimento e projeção que esta escola tem no exterior. Portanto, não estou pessimista em relação ao futuro. É claro que este estrangulamento financeiro a que as universidades têm sido votadas dificulta muito as possibilidades de crescerem. Repare que o nosso sector privado não está preparado para financiar nem a investigação nem o ensino. Em Portugal, se o Estado não financia, a investigação pára. Mas nós acreditamos que há um futuro para os nossos estudantes e para os nossos docentes. Mas isso passa por assegurar que o prestígio que temos vai continuar a existir.

Texto e foto: Miguel Conde Coutinho