“Acho que há muito mais a fazer antes de Bolonha, como por exemplo, termos umas instalações melhores e dar cada vez mais condições aos estudantes portugueses para estudarem”, afirma a presidente da Associação de Estudantes (AE) da Faculdade de Nutrição e Alimentação da UP (FCNAUP), Susana Guilherme.

A dirigente académica diz que na FCNAUP os estudantes por norma têm conhecimento de Bolonha, mas fala do processo com algum cepticismo. “Até que ponto faz sentido Bolonha? Colocamos em questão Bolonha”. A aluna considera que os estudantes dos países mais ricos são os que vão tirar mais partido de Bolonha.

A preocupação geral dos alunos de nutrição está neste momento em saber como é que os futuros nutricionistas formados em menos anos terão as mesmas competências e se o valor de propina do mestrado será o mesmo da licenciatura.

Por seu lado, o vice-presidente do Conselho Directivo da FCNAUP, Pedro Moreira diz que se sente mal informado em relação a Bolonha especialmente em relação ao número de anos que terá o primeiro ciclo, “que em nutrição deverá ser de 4 anos”. O professor considera ainda importante saber como vai ser o financiamento e se “é verdade que a propina do segundo ciclo será semelhante à do primeiro”.

Por outro lado, o responsável sublinha a importância de Bolonha já que neste momento existe “uma desigualdade competitiva entre os diplomados estrangeiros e os portugueses”. “Os estrangeiros conseguem sair em quatro anos com um ‘master’ enquanto nós em cinco produzimos um licenciado”, sustenta.

Quanto às dúvidas que se levantam em formar um nutricionista em apenas quatro anos, Pedro Moreira afirma que ”é uma questão fácil de resolver. É só montar o sistema de maneira que consiga assegurar que se dão essas competências”. O docente acredita que acontecerão grandes mudanças, principalmente na formação de turmas mais pequenas e o “ensino terá de ser diferente do ensino clássico”, acrescenta.

“Sentimos que vamos atrás de um grupo de pessoas”

Questionado pelo JPN em relação ao sentimento geral acerca de Bolonha, Pedro Moreira afirma que há muitas coisas que não sabe. “Vamos atrás de um grupo de pessoas [na Europa]. É o nosso grupo e nós vamos atrás. Se o grupo se enganar nós também vamos juntos”, argumenta.

O vice-presidente pensa que os propósitos orientadores da decisão política são muito nobres e úteis e que “o desafio é fazer alguma coisa em que isso se verifique”. Pedro Moreira diz-se preocupado com a concorrência existente na Europa. “Na Europa, em relação a Bolonha, há uma certa heterogeneidade que dificulta o diálogo. Em Espanha há cursos de apenas dois anos que atribuem uma titulação profissional, que em Portugal apenas é possível se se frequentar um curso superior”, refere o professor.

Organização do curso

“Acho que Bolonha tem o mérito de nos fazer pensar de uma maneira higiénica sobre a forma como o curso é organizado”, menciona Pedro Moreira. O docente aponta para a necessidade de se conseguir formar as pessoas de uma maneira atractiva, apetecível e competitiva e ter em mente que com Bolonha isso será feito em menos anos.

O vice-presidente acredita que “tudo é possível desde que haja uma mudança a sério e não apenas de ‘labeling’”. E conclui: “Bolonha não pode ser apenas um nome, tem de significar mudanças a sério”.

Texto e foto: Pedro Sales Dias