O XXVIIII FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica) abre hoje as suas portas com a entrada no palco do Teatro Nacional de S. João de “Berenice”, uma tragédia intemporal de Jean Racine

De hoje até 12 de Junho serão 13 dias, 16 espectáculos distintos, num total de 24 representações, por onde passam as experiências de seis países distintos: Portugal, Espanha, Brasil, Angola, Moçambique e Japão. Experiências e culturas diferentes num festival que este ano aposta na conquista de novos públicos. “Queremos abrir-nos a um público mais jovem, mais interessado no teatro de dança, na marioneta contemporânea, na perfomance e noutro tipo de propostas. O FITEI tem a obrigação de estar atento a essa renovação permanente das artes perfomativas”, explica ao JPN Mário Moutinho, presidente do FITEI.

Apesar da aposta na conquista de públicos ser assumida, os fiéis do festival não foram esquecidos, num programa que não renega a evolução na continuidade. E dá um exemplo: “O grupo Galpão, que vem do Brasil com a peça ‘O Inspector Geral’, certamente agradará ao público do festival”, garante Mário Moutinho.

Mário Moutinho não esconde a amargura face à falta de apoios de que o festival padece. “O festival realiza-se este ano com créditos bancários porque não recebemos nada do Ministério [da Cultura] nem da Câmara do Porto, a mesma câmara que fez uma reunião a dizer que ia resolver os problemas das companhias do norte e que nada fez”, acusa.

Apesar dos problemas financeiros com o congelamento dos subsídios atribuídos pelo Instituto das Artes, o FITEI pretende fazer a ponte entre a continuidade e as tendências mais recentes nas artes cénicas. Num festival que já nos habituou a passar a fronteira muito para além das línguas ibéricas, este ano o festival abre-se ao país do sol-nascente.

Uma técnica de manipulação de marionetas única no mundo é a marca do grupo de teatro Kuruma Ningyo, que tem percorrido com enorme sucesso diferentes países, tendo estado uma única vez em Portugal, em 2003. Fundado em 1861, há quase 150 anos, por Nishikawa Koryu I, o grupo foi continuado pelos seus descendentes, cabendo agora a sua liderança à quinta geração do fundador.

O espetáculo que o grupo japonês traz ao Porto quinta-feira promete uma
experiência diferente, partindo de uma técnica de manipulação das marionetas em que o próprio marionetista, sentado num pequeno banco com rodas (“kuruma”), manipula a marioneta, como uma sombra. “É um espectáculo mágico”, promete o director do festival.

A ideia de trazer ao FITEI o grupo nipónico surgiu através do intercâmbio com o Festival de Marionetas do Porto, numa lógica de cooperação que é mais uma novidade desta edição. Para além da cooperação com o Festival de Marionetas, o FITEI está este ano também ligado à Festa de Serralves, que decorre este fim-de-semana.

Um festival, duas programações

O teatro em Serralves faz parte de uma programação paralela com uma grande variedade de propostas estéticas. A edição deste ano passa por sete teatros da cidade e ainda pelo Museu de Serralves e pela Estação de Metro do Campo 24 de Agosto.

Na estação de metro estará patente a exposição “Máquinas em Cena”, da autoria do Teatro O Bando, que será inaugurada a 2 de Junho pelas 18h30. A anteceder a inauguração, na FNAC de Santa Catarina, será lançado o livro com o mesmo título, da autoria, entre outros, de João Brites, director do Teatro O Bando.

Na opinião de Mário Moutinho, os destaques da programação paralela vão para “a exposição de ‘Máquinas em Cena’, a maior parte delas concebidas por João Brites, um dos maiores criativos portugueses. De destacar também a passagem do filme de Glicínia Quartim que queremos lembrar e a homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen para recordar o vulto que ela personifica”.

Por entre as propostas que o FITEI encerra, a diversidade e a abertura a culturas cénicas díspares promete ser o atractivo de mais uma edição do festival que, com já 28 anos, se afirma como uma referência no panorama artístico do Porto e do país.

Mariana Teixeira Santos
Foto: FITEI