Não parece, mas é simples: Miguel Gomes é Complicado, que acabou de editar o seu primeiro álbum, “Haunted”, pela Bor Land. Uma semana antes do lançamento, despediu-se da arte da joalharia, mas ainda lhe é difícil pensar na música como uma profissão a sério, disse ao JPN, numa conversa na Praça D. João I, junto ao prédio onde o disco foi gravado, em sessões nocturnas.

Quando questionado sobre os planos futuros, Complicado responde simplesmente que não sabe se há futuro. Até acerca do passado se torna difícil falar. Antes de Complicado existiam os Mindelo, que estiveram no activo até 2000: “os Mindelo foram começando e vão existindo. Basicamente eram eu e o meu irmão, Pedro Gomes, a tentar aprender a tocar guitarra em casa”.

Apenas o agora é certo: “Haunted” é, sobretudo, o registo pessoal e transmissível de um presente, passado dentro do quarto de Miguel Gomes, que ficou “preso” graças a um gravador de quatro pistas.

Complicado22.jpgA capa do álbum faz adivinhar o tom intimista: a tentativa de um abraço atrapalhado, desenhado por Helena Reis. “Haunted”surge assim como o conjunto de 12 mistérios (quase) revelados em forma de canção, mas Complicado avisa que o concerto não será a cópia fiel do álbum: “Os ruídos, o tom de sussurro, as coisas que me rodeavam na altura em que fiz o disco fazem parte de toda uma intimidade que não estará presente no concerto”.

Miguel Gomes promete criar subterfúgios, para “tornar a coisa mais rock e não ser uma seca”. O lado intimista do seu trabalho é apenas “para ouvir em casa”, diz.

Além disso, o concerto de Complicado contará com a participação de Leonel Sousa, membro de Alla Polacca, banda que faz a primeira parte da noite no Passos Manuel.

Para já, não foi pensado nenhum concerto com os vários convidados de “Haunted” (Petra, Sandy Kilpatrick dos The Neon Road, João Mascarenhas dos Stealing Orchestra, Gil Ramos dos Bildmeister e Mingus Pereira).

Texto: Joana Beleza
Fotos: Leonel Sousa/Bor Land