O melhor álbum dos Rolling Stones desde “Exile on Main St.” (um dos marcos da banda inglesa, datado de 1972): assim foi promovido “A Bigger Bang” (até Mick Jagger fez questão de comparar os dois álbuns) e a crítica parece concordar. Pelo menos, no facto do disco ser muito superior às produções dos “dinossauros do rock” nos anos 80 e 90 – desde “Some Girls”, de 1978, que um trabalho dos Stones não era bem recebido pela maioria da crítica.

A Bigger Bang” é o primeiro disco de originais do grupo em oito anos. É um álbum longo, com dezasseis músicas (talvez prova que desta vez a banda foi para estúdio com ideias e não para fazer um disco justificativo de nova digressão), mas que vão quase todas directas ao assunto – poucas ultrapassam a marca dos quatro minutos.

As novas composições revelam uma banda de bem consigo própria, sem artificialismos numa tentativa de ser “moderna”, mas também longe de uma previsibilidade que a catalogue como um nome do passado. Apesar de tudo, os ares do “novo rock” são favoráveis a um lançamento dos Rolling Stones, ao contrário do que acontecia com “Bridges to Babylon”, o anterior trabalho de originais, de 1997, nascido em plena euforia electrónica e do hip hop.

O trabalho para o novo disco foi iniciado no Outono de 2004, apenas com Jagger e Richards, de relações reatadas após dois anos num ambiente de “cortar à faca”. O resultado final é um conjunto de músicas consistentes, todas próximas do estatuto de potenciais singles: “Rough Justice” é puro rock’n’roll de concisão punk (pouco mais de três minutos de duração) e “riff” orelhudo, com a voz de Jagger a não denunciar nada os sessenta e dois anos; “Rain Fall Down” tem uma guitarra marcadamente funk e um balanço quase hip-hop.

E há também os velhos blues em “It won’t take long” e “Back of my hand” (perfeita recriação do espírito Mississipi, com harmónica – quase podemos imaginar Jagger num alpendre, fazendo o papel do velho “bluesman” contador de histórias). Não faltam ainda baladas como “Streets of Love” e “This Place is Empty”. A produção, a cargo de Don Was e The Glimmer Twins, é imaculada.

Mais motivos de regozijo: estes Stones dão um ar de rebeldia, como nos idos anos 60 e 70. Jagger admite que “Sweet Neo Con” é uma crítica dirigida aos conservadores norte-americanos, apesar de negar que ela seja directamente orientada para George W. Bush (sem meias palavras, diz “You call yourself a Christian / I think that you’re a hypocrite / You say you are a patriot / I think that you’re a crock of shit”). E em “Rough Justice” podem ouvir-se versos como “And once upon a time I was your little rooster / Am I just one of your cocks?”.

Trigésima primeira digressão mundial

Para os Rolling Stones do século XXI (e também para os dos anos 90), mais importante do que os discos são os concertos, que continuam a alimentar o mito da banda entre as massas, receosos que cada digressão seja a última. Mas a seguir é logo anunciada outra (até quando?) e com disco novo para mostrar não se poderia abrir uma excepção.

“A Bigger Bang Tour” é a trigésima primeira da carreira, que já vai em qualquer coisa como 42 anos. O arranque foi em Boston, nos Estados Unidos, a 21 de Agosto, e já estão marcadas datas para o Canadá, América Latina, Japão e Europa. No caso do “velho continente”, a passagem só deverá ocorrer no Verão de 2006, com previsível passagem por Portugal.

João Pedro Barros
Foto: DR