É notória a falta de segurança nos pólos da Asprela e do Campo Alegre no período nocturno. O que é defende para combater a insegurança?

Defendemos que deve haver uma modificação na forma de gerir a Polícia Municipal, cujos efectivos estão muito concentrados nos arrumadores, ao serviço de um programa partidário. Os arrumadores não são de forma alguma os elementos que causam mais insegurança. Esses efectivos deviam estar a fazer policiamento de proximidade. Além do mais, temos a questão dos guardas nocturnos. Porque é que não incentivamos a figura do guarda nocturno? No Porto temos 15, em Lisboa há 400.

O sentimento de insegurança dos portuenses é justificado ou não condiz com as estatísticas?

Há insegurança em termos reais, mas não é tão preocupante quanto a percepção subjectiva das pessoas. Quando Rui Rio diz que se não tratamos os pobres, os pobres tratam de nós, está a exacerbar a questão da insegurança. Se houver espaços públicos ocupados, boa iluminação e mobilidade, também ajuda a resolver o problema.

A insegurança é também um dos problemas da ribeira portuense. Tendo em conta o sucesso do Cais de Gaia, que rumo se pode dar à Ribeira?

Uma das formas de reabilitar a Ribeira é investir no espaço público, animando-o. Deve haver uma linha de apoio às artes do espectáculo para dinamizar os espaços públicos. O Porto tem hoje excelentes espaços públicos recuperados. No caso da Ribeira, há imensos. Estão é desertos.

Receia que o actual estado da habitação social gere guetos?

Eles já existem, já estão formados. Costumo dizer que o doutor Rui Rio foi um “bulldozer social”. Ele diz que cumpriu 70% do seu programa para o São João de Deus porque demoliu 70% do bairro. Mas é isto um programa de reinserção social? Não se cuida das pessoas? Não há projectos de reinserção profissional, de reabilitação da toxicodependência que não o Porto Feliz, que tem um modelo completamente ultrapassado e não validado cientificamente? Rui Rio fechou os postos de acolhimento da câmara nos bairros, deixou os bairros degradarem-se e as obras são de remendo.

O que é que o Bloco defende para esta área?

Uma parceria entre Estado, autarquias e privados. Os bairros concentram problemas. Temos que os disseminar pela malha urbana, tentar soluções mais horizontais do que torres, caixotes de pessoas… Dos actuais 40 bairros, propomos 100, 120. É um projecto para 20, 25 anos. O Estado isentava as empreitadas de impostos e negociava junto da banca o crédito bonificado para a construção. A câmara isentava a construção e os inquilinos dos impostos municipais, cedia os terrenos e fazia as infra-estruturas. Os privados ganhavam porque ao recuperar e construir novos bairros podiam vender parte dessas habitações a preços de mercado, trazendo para os bairros outro tipo de população.

A banca estaria disposta a essa “aventura”?

Teria que haver um papel do Estado, porque a habitação é um bem social.

Concorda com Rui Sá, quando ele diz que a habitação social mereceria um pacto entre os partidos?

Tenho muitas divergências com o engenheiro Rui Sá, nomeadamente pelo facto de nos últimos quatro anos ter estado aliado com a direita mais retrógrada que esta cidade já conheceu. Mas concordo que devia haver um consenso porque esta questão implica um horizonte maior que um mandato. É muito fácil dinamitar este processo, se houver demagogia. Qualquer dia temos incêndios, porque não há bocas-de-incêndio. Esta é uma emergência.

Pedro Rios
Tiago Dias
Fotos: Joana Beleza