Foi programador da Porto 2001. Que avaliação faz do período pós-Capital Europeia da Cultura?

Esta câmara acabou com tudo. A câmara tinha um programa extraordinário de colaboração com as escolas, que criava uma apetência enorme nos mais jovens para os espectáculos – a isto se chama formação de públicos. Acabou com o apoio às associações e com a ideia de uma oferta cultural municipal, quando temos equipamentos que podiam perfeitamente funcionar em rede. O Porto enquanto cidade cultural podia ser aquele salto que precisamos dar. Se apostássemos na cultura, teríamos turismo de qualidade, indústrias culturais e de produção de conteúdos… O doutor Rui Rio só pensa nas coisas do deve e haver na mercearia em que tornou a Câmara do Porto.

Mas a câmara tem graves problemas financeiros. Não é compreensível que os cortes atinjam sobretudo a cultura?

Não é compreensível. Não podemos colocar de um lado a questão social e do outro a questão cultural. A cultura é um serviço público. As companhias de teatro, dança e música não subsistem por si só. Mas se considerarmos que os bens culturais são diferentes dos outros, compreendemos que é preciso prestar apoio. Ajuda a combater a exclusão social e o afastamento que as pessoas sentem em relação aos assuntos da cidade.

Qual é o peso actual da cidade do Porto nos contextos regional e nacional?

A nível nacional, perdeu produtividade, poder de compra, concentração de sedes do poder financeiro, qualidade de vida, emprego e visibilidade. O Porto não tem visão metropolitana e hoje as questões só se resolvem à escala metropolitana. Os únicos projectos de gestão metropolitana são o Metro, e mesmo assim é mal gerido, e a Lipor. Cada cidade vive para si. Temos autarcas muito maus.

Pedro Rios
Tiago Dias
Fotos: Joana Beleza