Muitas pessoas dizem que o Porto nos últimos anos perdeu influência tanto a nível regional como nacional. Qual é o peso da cidade no panorama global do país?

A região perdeu peso no país e o Porto também. Não há um Porto forte sem uma região forte, mas também não há uma região forte sem um Porto forte. O Porto tem de se assumir como uma região forte deste espaço regional, que vai de Braga até Aveiro e que se projecta para o interior. É uma das minhas divergências em relação ao doutor Rui Rio. O presidente da Câmara do Porto é, mais do que um autarca, um líder regional, tem que ser a voz da expressão, das pretensões e inquietações da região. Só assim é que recuperaremos a importância perdida na vida nacional.

Em relação à cultura, como avalia os últimos quatro anos e o que faria de diferente?

Rui Rio ostracizou completamente o mundo da cultura. Conflituou com os agentes culturais e desvalorizou os equipamentos culturais existentes na cidade, e alguns deles são mesmo da câmara.

O que é vai ser diferente se for eleito?

Eu dou um sinal de mudança pelo simples facto de escolher para vereador da Cultura um homem como o Miguel von Hafe [programador de artes plásticas da Porto 2001], um homem da cultura com méritos reconhecidos. É preciso pôr os equipamentos culturais existentes a funcionar em toda a plenitude. O Porto tem que articular o mundo cultural com o mundo educativo e tem que se afirmar o Porto no plano internacional como uma grande cidade da cultura, porque temos condições para isso.

A Capital Europeia da Cultura em 2001 não cumpriu esse objectivo?

Foi um importante acontecimento, mas foi um acontecimento e depois da Porto 2001 nada se aproveitou. Temos de ter uma intervenção que esteja para além dos acontecimentos, uma intervenção de carácter permanente. Poucas são as cidades com a dimensão do Porto na Europa que têm ao mesmo tempo um teatro como o Teatro Nacional S. João, uma fundação e um museu como Serralves e uma casa como a Casa da Música. Para não falar de equipamentos municipais como o Teatro Rivoli ou o Teatro do Campo Alegre.

Falta articulá-los?

Falta articulá-los e falta dotá-los dos meios necessários para que possam ter programações de qualidade, sobretudo no caso dos teatros municipais. Não conheço nenhuma cidade média, com a dimensão do Porto, que tenha uma concentração tão grande de equipamentos culturais. O que significa que temos um potencial que não está a ser aproveitado e tem de ser aproveitado.

Pedro Rios
Tiago Dias
Fotos: Ana Falcão