Propõe fazer uma avaliação dos bairros sociais um a um. Quanto tempo demoraria a fazer uma tarefa deste género?

É uma tarefa muito complexa. Alguns meses, como é evidente. Mas não se pode fazer uma intervenção estrutural nos bairros que não seja precedida por um recenseamento rigoroso e exaustivo do que se passa lá. Até porque há situações muito diversas. A maior parte dos bairros da cidade do Porto têm esta característica: são bairros agradáveis, situados em zonas interessantes, com densidades interessantes, com espaços circundantes muito amplos, mas que estão profundamente degradados. E as pessoas gostam de lá viver, o que é o mais curioso. As pessoas queixam-se da qualidade da habitação, mas gostam de viver naqueles sítios, com aqueles vizinhos. Nesses bairros tem que se operar é na recuperação desses mesmos bairros.

Mas há casos mais dramáticos, como o S. João de Deus ou o Lagarteiro.

Aí tem de se ponderar soluções mais radicais. O que tem de se fazer é muito simples: o Governo não pode deixar de participar no esforço principal de recuperação dos bairros do Porto. Aliás, o Governo vai avançar com uma iniciativa pioneira e experimental em três bairros, um deles aqui no Porto – o bairro do Lagarteiro – precisamente para promover a recuperação física e social desses bairros. Há duas ou três questões que são vitais na cidade, e essa é uma delas.

Acha que a solução poderia passar, como propõe o candidato do Bloco de Esquerda, por uma “disseminação” dos bairros? Agora há 43, passariam a existir mais de cem.

É uma das soluções possíveis. Significaria, se bem percebi a proposta dele, que os bairros passariam a ser perspectivados de outra forma. O próprio modelo dos bairros seria alterado, seriam inseridos na cidade. A classificação de bairro social até é um pouco estigmatizante. Tem que se acabar com ela, tem que se abrir o bairro à cidade. As ruas têm de passar a ter nomes. Nisso eu estou de acordo, deve-se perder a ideia de uma singularidade absoluta dos bairros que corresponde a um estigmatismo da cidade.

O candidato da CDU, Rui Sá, propõe um pacto entre os partidos de 20 a 25 anos, para este assunto. Concorda?

Não gosto muito dessa ideia dos pactos de regime, normalmente é uma maneira de nada se fazer. Mas acho que é um sector em que é possível haver entendimentos entre as várias forças políticas. E eu, da minha parte, se for presidente da câmara, certamente promoverei os entendimentos em torno disso.

O horizonte temporal parece-lhe correcto?

20 a 25 anos é muito tempo. Se houver uma intervenção forte do Governo, estou convencido que, num período bastante mais curto, será possível resolver o problema dos bairros da cidade.

Pedro Rios
Tiago Dias
Fotos: Ana Falcão