Cerca de 10 mil delegados de 189 países estão reunidos em Montreal, no Canadá, até 9 de Dezembro, na Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Em cima da mesa da 11ª conferência dedicada ao tema estarão as metas do Protocolo de Quioto para os próximos sete anos.
É a primeira conferência desde que o protocolo, que limita as emissões de gases de efeito de estufa para a atmosfera, entrou oficialmente em vigor, em Fevereiro deste ano, com a ratificação por parte da Rússia. É considerada a cimeira mais importante desde que o protocolo foi assinado, em 1997.
Das conversações pode sair também o rumo a dar ao acordo para além de 2012, ano em que o acordo expira.
Canadá procura consenso
O ministro do Ambiente canadiano, Stephane Dion, espera envolver numa solução comum os países com diferentes opiniões sobre Quioto, sobretudo os Estados Unidos, o país mais poluidor do mundo (produzem 39,9% do total das emissões dos países industrializados), que recusaram ratificar o protocolo em 2001 alegando os efeitos nefastos que provocaria na economia.
“Vamos tentar progredir numa solução que consiga aproximar os países. Estou confiante em como vamos conseguir”, disse hoje o ministro do Ambiente canadiano na abertura de uma exposição sobre energias renováveis.
Os EUA negam a relação entre a emissão de dióxido de carbono e outros gases e o efeito de estufa e criticam a exclusão dos países em vias de desenvolvimento do acordo.
Também a Austrália e outros países criticam o protocolo, considerando que o documento tem metas irrealistas.
Apesar da postura dialogante tomada pelo governo anfitrião da convenção, os EUA já anunciaram que a sua posição face ao protocolo deve manter-se inalterada.
Grupos ecologistas como a Greenpeace esperam que a posição norte-americana não comprometa o resto das negociações.
Evitar catástrofe
O dirigente nacional da Quercus (uma das organizações não governamentais presentes em Montreal), Francisco Ferreira, admite que a rejeição norte-americana é um “prejuízo muito significativo para o tratado”. Contudo, sublinha as diferenças entre os vários estados dos EUA e a administração Bush. Segundo o responsável da Quercus, há vários estados que estão a começar a ter uma actuação muito importante na redução das emissões.
“O problema é que os EUA não querem pôr em causa determinados valores económicos, mas do ponto de vista do médio e longo prazo tem todo o sentido actuar numa lógica de Quioto”, defende Francisco Ferreira.
“Uma economia menos dependente do petróleo, menos dependente do carvão e do gás natural e com um uso mais sustentável dos transportes tem vantagens certamente inúmeras vantagens, só que isso exige o primeiro esforço do ponto de vista económico”, reforça.
O ambientalista é assertivo na necessidade de reduzir as emissões a escala mundial antes de que sejam atingidos níveis que terão resultados catastróficos.
“Não temos escolha”
“Não temos escolha” para além de agir, afirmou Stephane Dion. Caso contrário, argumentou o ministro, o aquecimento global pode levar a mais furacões, cheias, secas e ao aumento em mais de um metro dos níveis das águas do mar em 2100.
Também Robert May, presidente da Royal Society, academia científica inglesa, dramatiza a importância da cimeira, comparando as consequências do aquecimento global às das armas de destruição massiva.
O encontro vai também afinar detalhes nas regras do protocolo, como as sanções para o incumprimento das sua normas. Na agenda está também a procura de uma mecanismo de atracção de investimentos em energias limpas nos países em vias de desenvolvimento.