Na África subsariana vive pouco mais de 10% da população mundial. Porém, a mesma zona do globo acolhe 60% (25,8 milhões) de todas as pessoas infectadas pelo vírus da sida. Neste ano, estima-se que naquela região já tenham sido infectadas 3.2 milhões de pessoas a par de 2.4 milhões de adultos e crianças que pereceram vítimas do vírus.

As crianças são as mais afectadas por esta pandemia. De acordo com as estimativas da UNICEF, mais de um milhão de crianças estão infectadas ou são afectadas indirectamente pela sida. No total são cerca de 220 mil as crianças e os adolescentes que vivem e convivem com o vírus.

“Por causa da sida algumas crianças ficam orfãs e vulneráveis. Os seus pais deixam de poder trabalhar devido à evolução dos sintomas do vírus”, explicou, em Junho, ao JPN, o oficial de comunicação da UNICEF em Moçambique, Michael Klaus.

A prevalência da sida mantém-se excepcionalmente elevada na África do Sul e a pandemia está a expandir-se de forma notável e continuada em Moçambique e na Suazilândia, segundo os números da Organização Mundial de Saúde (OMS).

500 infectados diariamente em Moçambique

Michael Klaus adiantou que em Moçambique, assim como noutros países da África do Sul, essa prevalência deve-se “à persistente ausência de conhecimentos para a prevenção, ao tradicional papel das mulheres na sociedad -, o que as deixa sem o poder da escolha pelo sexo seguro -, à falta de consciência da transmissão do vírus das mães para os filhos, a um estigma continuado e à discriminação social”.

Em média, 500 pessoas são diariamente infectadas pelo vírus da sida em Moçambique, 90% das quais são crianças. Para reduzir essa tendência, o oficial da UNICEF considera ser necessária uma mudança no comportamento sexual, que passa por dar maior poder às adolescentes e mulheres para que não sejam obrigadas a ter relações sexuais indesejadas, ou para que insistam no uso do preservativos e na fidelidade dos seus companheiros.

Dos 130 mil infectados, 100 mil são raparigas

As raparigas são o sexo mais afectado pela pandemia, representando 100 mil dos 130 mil jovens, entre os 15 e os 19 anos. “Devido à pobreza, muitas raparigas são forçadas, muito cedo, a ter relações com homens mais velhos”, explica o oficial da agência da ONU.

Neste ponto, o Zimbabué representa o bom exemplo da mudança do comportamento sexual para o declínio da prevalência do HIV entre as mulheres grávidas: o valor caiu de 26% em 2002 para 21% em 2004. Contudo, os seus níveis de infecção mantêm-se entre os mais elevados do mundo: uma em cada cinco mulheres grávidas estão infectadas.

Expansão rápida

“A pandemia do HIV está a expandir-se muito rapidamente. Cada vez mais e mais adultos infectados morrem”, lamentou Michael Klaus. A sida está a registar resultados mortais devastadores na África do Sul. Um recente estudo sobre as mortes relacionadas com a sida mostra que o número de vítimas mortais a partir dos 15 anos de idade aumentou 62% entre 1997 e 2002.

De acordo com a UNICEF, 25% das mortes registadas entre os adultos africanos são provocadas pela sida, facto que está a contribuir fortemente para o aumento dos orfãos em Moçambique.

Para responder a esta situção galopante, “a UNICEF está a centrar a sua acção em quatro áres distintas: a prevenção da transmissão entre mães e filhos, a prevenção entre os jovens, levando a que as raparigas tenham força para dizer ‘não’ ou insistam no uso do preservativo e o tratamento de crianças infectadas e orfãs”.

Muitos pensam que a sida só infecta os adultos

A UNICEF considera ainda que a pandemia da sida na África do Sul está a ser subestimada, uma vez que “sendo o principal modo de transmissão a via sexual, muitas pessoas pensam que o vírus da sida é um problema que afecta apenas os adultos. Por esta razão, até há bem pouco tempo, as crianças não faziam parte do programas de saúde para o tratamento através dos antiretrovirais em Moçambique. Agora isso foi alterado”, salientou Michael Klaus.

Pelo menos 85% dos sul africanos (cerca de 900 mil pessoas) que necessitavam de medicamentos antiretrovirais não recebiam o tratamento adequado em meados de 2005. A mesma situação ocorre ainda mais de 90% das pessoas na mesma situação na Etiópia, Lesoto, Moçambique, Nigéria, República da Tanzânia e no Zimbabué.

Pedro Sales Dias
Foto: UNICEF