O candidato às eleições presidenciais Manuel Alegre afirmou hoje, quarta-feira, durante o debate com o candidato apoiado pelo PS, Mário Soares, que, caso seja eleito Presidente da República, “em última análise” recorrerá à dissolução da Assembleia da República se houver uma tentativa por parte do Governo de privatizar a água.

Na resposta, Mário Soares acautelou que os “poderes do Presidente da República são pequenos nesta matéria” e que “não é possível dissolver uma Assembleia de maneira imponente”. Soares mencionou ainda que neste momento a questão da privatização da água não se coloca, mas sim a privatização das empresas de distribuição.

O debate entre os dois candidatos foi sereno, sem grandes exaltações das duas partes. O momento de maior tensão surgiu quando se discutiam os poderes presidenciais. Mário Soares questionou repetidamente Manuel Alegre sobre o que significa a expressão “pensamento estratégico” que este último afirma ser necessário para o país. Alegre hesitou antes de responder que “o Estado deve ter um novo papel”.

Logo de seguida, o candidato apoiado pelo PS perguntou a Manuel Alegre se este sabia “porque é que o veto político é uma coisa séria para um Presidente da República”. Seguiu-se uma discussão entre os dois históricos membros do Partido Socialista sobre os poderes do Presidente e a influência que pode exercer sobre as linhas de Governo do país.

Alegre esteve praticamente o tempo todo na defensiva contra um Mário Soares enérgico e dinâmico. Durante os primeiros minutos de debate, Manuel Alegre teve de se defender de acusações de ser um “candidato contra os partidos”, de ter “uma candidatura confusa”, de ter falta de ética por não ter suspendido o seu mandato de deputado e de vice-presidente da Assembleia da República e de não ter experiência executiva suficiente para exercer o cargo de Presidente da República.

Alegre respondeu que sempre defendeu a existência dos partidos, particularmente no tempo da ditadura. E explicou que a sua candidatura “não é nada confusa” e está no direito de se candidatar mesmo não sendo apoiado pelo seu partido. O dirigente socialista esclareceu ainda que a decisão de suspender o mandato de deputado é sua e que não pode ser acusado de ter falta de experiência, porque assim corria-se o risco de só quem já exerceu cargos políticos os poder voltar a exercer.

No que toca à justiça os dois candidatos frisaram a necessidade de se entrar em diálogo com os juízes e com os restantes elementos do sistema judicial para que se renove a credibilidade do meio, já que não entra nas competências do Presidente da República intrometer-se na vida judicial.

Tiago Dias