A partir das 7h00 de hoje, domingo, e até às 15h00 de segunda, as urnas em Itália vão estar abertas para que os italianos possam escolher o seu próximo Governo. Entre a União (formada por partidos desde os Democratas de Esquerda até à Refundação Comunista), liderada pelo ex-presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, e a Casa das Liberdades (agrega a Aliança Nacional, a Liga Norte e os democratas-cristãos) do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, as últimas sondagens (efectuadas há já duas semanas por requisitos legais) apontavam para uma vantagem de entre 3 a 5% de Prodi sobre Berlusconi.

A campanha eleitoral terminou sexta-feira no mesmo tom em que decorreu. Berlusconi, num comício em Nápoles, acusou a esquerda de ser “cúmplice das piores tiranias que a história recorda” e referiu-se aos seus adversários como tendo como ídolos figuras como Estaline, Lenine, Mao Tse-Tung e Pol Pot.

Estas palavras surgem depois de ao longo da campanha o ainda primeiro-ministro ter acusado Romano Prodi de ser um “idiota” ou ainda ter chamado os eleitores da esquerda de “coglioni” (tradução à letra significa testículo, mas significa idiota). Do lado da esquerda, Prodi chamou “Tio Patinhas” a Berlusconi, só para dar um exemplo. A troca de insultos foi uma constante.

De acordo com a especialista em política italiana Carol Mershon, a tentativa de Silvio Berlusconi de polarizar estas eleições deve-se à sua “esperança de que isto possa ganhar alguns votos para a sua coligação”. A professora da Universidade da Virginia nos EUA e autora de diversos artigos sobre a política italiana, em declarações ao JPN, afirmou que “a campanha eleitoral de 2006 foi a mais personalizada que a Itália alguma vez testemunhou”.

Nos últimos dias o primeiro-ministro fez uma série de anúncios sobre como baixará os impostos caso seja reeleito. Ainda na sexta-feira afirmou num programa de rádio que o imposto do lixo que cada família paga pode ser abolido. Este imposto contribui com três milhões e meio de euros para os cofres das administrações locais e a possibilidade da sua abolição levou a protestos da parte quer da oposição quer dos presidentes de câmara.

“O verdadeiro homem doente da Europa”

A revista britânica “The Economist” escrevia em Maio de 2005 que a Itália se havia tornado no “verdadeiro homem doente da Europa”, numa forte crítica às políticas económicas seguidas pelo seu primeiro-ministro.

O crescimento do PIB italiano foi perto de zero em 2005 (o mais baixo da União Europeia) e prevê-se que cresça 1,3% este ano. “Um estudo largamente citado pelo Fórum Económico Mundial classifica a competitividade da mão-de-obra italiana como estando um lugar acima da do Botswana”, relembra Carol Mershon, que concorda com a frase da revista britânica.

A edição de 6 de Abril da “The Economist” questionava-se sobre se um Governo de centro-esquerda fará melhor do que o que Berlusconi fez ao longo destes quatro anos. “Um raio de esperança é que o anterior Governo de centro-esquerda fez mais do que Berlusconi em áreas como privatizações, tal como em conseguir recuperar as finanças públicas. Ao contrário de Berlusconi, Prodi e os seus conselheiros falam a linguagem da direita acerca da necessidade de mais competição”, escrevia-se na revista.

Tiago Dias
Foto: UE